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A frase serve de legenda a um dos vários painéis da Igreja de São Pedro de Alcântara que nos mostram momentos da vida do santo.
As semelhanças entre latim e português levam-nos para caminhos tortuosos. Procura-se em vão algo que nos dê uma pista, mas pouco se percebe da situação que está ali retratada. Um textinho explicativo seria bem-vindo.
Olhamos mas não vemos, e no entanto a história está toda ali. A meio do painel, ao fundo, está o culpado de tudo: um burro. À direita, vemos frei Pedro de Alcântara, que partiu em viagem, de burro. Chegado a uma estalagem, deita-se no chão a descansar e enrola a capa, que põe sobre uma pedra, para lhe servir de travesseiro. O burro entra na horta e começa a devorar as couves. Furiosa, a estalajadeira vem pedir satisfações ao frade, puxa a capa que lhe estava a servir de travesseiro, o frade bate com a cabeça na pedra e fica ferido. O resto da história passa-se agora do lado esquerdo. Um fidalgo que vinha encontrar-se com o frade vê a cena e desembainha a espada para matar a estalajadeira. Como bom franciscano, Pedro de Alcântara opõe-se a tal violência, dizendo-lhe a frase que Jesus já usara para impedir o apóstolo Pedro de matar um homem: “Mitte gladium tuum in vaginam”. Ou seja, “mete o teu gládio na bainha”, embainha a tua espada, não a mates. Sim, é isto que quer dizer. Frei Pedro de Alcântara salva assim a estalajadeira.
E agora que conhecemos a história, estes azulejos que só eram importantes por serem barrocos até ganham interesse. Há uma história e a forma como ela é contada. Olhamos e já vemos.
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