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O Rossio na Betesga #22: a neve da Conservaria Pomona

Helena Galvão Soares
Jornalista
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A Conservaria Pomona abriu em 1902, na esquina da Rua da Prata com a Rua de São Nicolau e era famosa pelas suas conservas de fruta. Dela só resta a placa em que se anunciavam as especialidades da casa, entre as quais “neve”. 

Neve? Este era o nome que se dava a uma espécie de granizado, que até aparece referido em A Tragédia da Rua das Flores, de Eça de Queiroz: “É laranja e morango; delicioso, é da melhor neve que tenho tomado este ano.”

Mas e como faziam granizados sem congeladores?, interroga-se legitimamente o leitor. É aí que entra a neve. No início do século XVII, era recolhida na Serra da Estrela e, mais tarde, na Serra da Lousã, onde era depositada em poços e prensada até formar blocos de gelo que eram transportados em carros de bois e depois de barco até Lisboa. Por volta de 1741, arranjou-se um método mais expedito com a criação da Real Fábrica do Gelo na Serra de Montejunto, que tinha a grande vantagem de ser significativamente mais próxima da capital.

A fábrica já não usava neve: tinha tanques de pouca profundidade, 10-15 cm, onde durante todo o Inverno era depositada água que congelava durante a noite, formando gelo que era retirado para a zona de conservação.

Onde hoje é o Martinho da Arcada, foi inaugurada em 1778 a Casa da Neve, que terá sido o primeiro café de Lisboa a servir a apreciada “neve”. Outro sobrevivente desta actividade está ainda no Rossio, com um nome que não podia ser mais óbvio: Café Gelo.

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