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O que faz aquele arco no meio da Praça de Espanha, ali perdido no meio do descampado? Não é um arco imponente, ao estilo da Porta de Alcalá, em Madrid, ou do Arco do Triunfo, em Paris, ou sequer como o Arco da Rua Augusta, é simplesmente um arco de linhas neoclássicas, bastante singelo até.
Quem queira um pouco mais de emoção na vida pode ir investigar o caso mais de perto. Como não há uma única passadeira que ligue as ruas circundantes ao centro da praça, atravessar aquelas três ou mais faixas de alta velocidade é uma jogada de risco. E, lá chegados, o mistério só se adensa: nas laterais do arco, há poemas de Ary dos Santos, Manuel Alegre e Sophia de Mello Breyner e uma citação de Salgueiro Maia, em celebração do 25 de Abril. Nada que possa ter a ver com a data de construção do arco. E não tem mesmo.
Este deve ser um dos monumentos de Lisboa de história mais atribulada. O Arco de São Bento, que fazia parte da Galeria da Esperança do Aqueduto das Águas Livres, teve um nascimento já difícil. Foi construído em 1758, mas só após anos de insistência com os frades do Convento de São Bento (hoje, Assembleia), que não consentiam na expropriação dos seus terrenos para a sua construção. Em 1937, devido à remodelação do Palácio de São Bento, começou a ser desmantelado, tendo as pedras sido meticulosamente numeradas, ao longo de sete meses, com vista a uma futura reedificação. Permaneceram depositadas num descampado ali ao lado, onde hoje é o Jardim de São Bento, tendo sido depois transferidas para o jardim do Palácio da Ajuda. E aí ficaram até 1988. Segundo a Câmara Municipal de Lisboa “após uma difícil investigação sobre o plano original de construção”, foi reerguido em 1998, onde hoje o vemos. Mas com o novo plano de um parque para a Praça de Espanha, as aventuras do Arco de São Bento podem não ter acabado aqui. Aguardemos.
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