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Fomos investigar a origem deste este nome um tanto ou quanto desconcertante, já que escadas e carros não costumam ser grandes amigos.
O site Toponímia de Lisboa, da CML, é a excelente fonte a consultar sempre que queremos saber mais sobre os nomes das ruas da cidade, mas, neste caso, eles próprios parecem ter dúvidas. “Ao cimo destas escadinhas, na Travessa do Hospital (de São José), encontram-se alguns anexos do hospital entre os quais armazéns, a que este carro (de abastecimentos?) está associado”, diz o site, acrescentando ainda que esta rua aparece já no Atlas da Carta Topográfica de Lisboa, de 1858, de Filipe Folque, sob o nome de Travessa da Porta do Carro de São José. O "carro" em causa é assim anterior a 1858, algo a que hoje chamaríamos uma carroça, puxada por cavalos.
"Escadinhas" e "carro" parecem estar explicados – mas, e a porta? Que porta seria esta para dar nome a uma rua? A resposta está no próprio local: subindo as escadinhas, deparamo-nos com uma entrada do Hospital de São José com um imponente painel de azulejos. É uma porta e pêras, não passa lá muito despercebida.
A confirmar esta hipótese, na Gazeta de Lisboa, 271, de 1815, é referido um morador “na travessa das Escadinhas, junto à porta do carro do Hospital de S. José” e o site www.monumentos.gov.pt refere que “A decoração azulejar de todo o edifício [o Hospital de São José] constitui um importante repositório cerâmico, possuindo azulejos do séc. 17, policromos, na “Porta do carro” (…)”.
Esclarecidos sobre a porta, outra pergunta se levanta: que carro seria então este, tão especial para ser referido no singular e dar nome a uma das portas para o exterior do hospital? A resposta é avançada por Célia Pilão, administradora hospitalar que se tem dedicado à investigação e salvaguarda do património dos antigos Hospitais Civis de Lisboa: "Era o carro que transportava os mortos da morgue para o cemitério. Até aos anos 20, a morgue ficava ali em frente, no local das actuais Urgências."
Finalmente, todas as peças do puzzle encaixam.
+ O Rossio na Betesga #02 - Os entalados da Lisboa dos anos 50