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Os entalados da Lisboa dos anos 50

O Rossio na Betesga #02 – Toda a cidade em pequenas curiosidades

Helena Galvão Soares
Jornalista
Entalada da Avenida de Roma, 105
Inês FélixEntalada da Avenida de Roma, 105
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A Avenida de Roma é a recordista de "entalados" de Lisboa, embora haja mais pela cidade. Mas de onde veio a moda destas esculturas meio contorcionistas?

Nos anos 50, sobretudo no bairro de Alvalade, os novos prédios que surgiam começaram a ter uma espécie de esculturas/altos relevos na estreita faixa sobre a porta principal. O arquitecto Francisco Keil do Amaral chamou-lhes “os entalados”. O nome não só pegou como ficou – já nos anos zero, em 2005, o prémio BES Revelação foi atribuído a "3 Entalados", obra do artista plástico Ramiro Guereiro, que partiu destas figuras.

Entalada na Avenida de Roma, 103
Inês Félix |Entalada na Avenida de Roma, 103

A história dos entalados é uma história de vaidades. Para darem um ar mais distinto aos seus prédios de rendimento, e assim atraírem pessoas dispostas a pagar mais por mais status, os promotores imobiliários quiseram ter esculturas na fachada principal dos seus prédios, à moda dos prédios de luxo dos anos 40, português suave, construídos nas avenidas Sidónio Pais e António Augusto Aguiar. Mas não tinham a tarefa facilitada. O desenho dos prédios de habitação do Plano de Alvalade, menos português suave e mais modernista, não contemplava espaço para elementos decorativos, e a CML tinha regras muito estritas quanto à inclusão de obras de arte na fachada principal (100 cm de altura x 40 cm de profundidade, a 2,5 metros acima do passeio).

Entalado na Avenida de Roma, 82
Inês Félix |Entalado na Avenida de Roma, 82

A solução encontrada pelos promotores foi um dois-em-um: barata e vistosa. Por cima da porta principal dos prédios encaixaram, a custo e às vezes em poses um pouco contorcionistas, figuras de cimento pintado de branco, feitas a partir de moldes, mas que passavam bem por verdadeiras esculturas em pedra (até porque o modelo original era criado por escultores como Soares Branco, que assina boa parte delas).

Entalada na Avenida de Roma, 96
Inês Félix |Entalada na Avenida de Roma, 96

No livro Lisboa, uma Cidade em Transformação (1969), Keil do Amaral, embora reconhecendo que algumas peças eram até “bem construídas e modeladas, dentro do seu convencionalismo académico”, manifesta-se contra este “estranho tipo de esculturas”, em conflito com o desenho dos edifícios e tendo como único objectivo o lucro, e chega ironicamente a propor a criação da Associação Protectora de Lisboa e das Mulheres Entaladas entre as Portas e as Sacadas.

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