Notícias

Um rinoceronte na Torre de Belém

O Rossio na Betesga #04 – Toda a cidade em pequenas curiosidades

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
Jornalista
Rinoceronte na Torre de Belém
Duarte Drago
Publicidade

Este rinoceronte que está representado na guarita Noroeste da Torre de Belém não é um qualquer. Chegou a Lisboa a 20 de Maio de 1515, vindo de Cochim, e causou alvoroço: era o primeiro rinoceronte a ser visto, vivo, na Europa, desde o século III. É o famoso rinoceronte retratado em xilogravura por Albrecht Dürer, apesar de Dürer nunca o ter visto: baseou-se num desenho e descrição que lhe foram enviados de Lisboa, em 1515, e de que não se afasta muito. “Tem a cor duma tartaruga salpicada, é enormemente maciço e coberto de escamas”, diz o texto da gravura.

Gravura sobre madeira de Albrecht Dürer, baseada no original enviado de Lisboa (1ª edição, British Museum, Londres)
DR || Gravura sobre madeira de Albrecht Dürer, baseada no original enviado de Lisboa (1ª edição, British Museum, Londres)

E agora é altura de ter uns kleenex à mão porque a história é triste. A rinoceronte, sim, era uma ela, a que chamaram Ganga (nome dado aos rinocerontes na Índia), foi oferecida pelo sultão de Cambaia ao vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque, que por sua vez a ofereceu a D. Manuel I. Após 120 dias de viagem em alto mar, em que cruza o Índico, passa o Cabo das Tormentas e sobe o Atlântico, este animal de pradaria alta e floresta, habituado a comer erva fresca, chega a Lisboa, saudável, alimentado com palha, feno e arroz cozido. D. Manuel I fica agradado com a figura exótica deste bicho de duas toneladas e aspecto coriáceo e decide oferecê-lo ao Papa.

Agora é que os kleenex entram mesmo em cena. Na viagem para Roma, uma violenta tempestade afunda o navio, perto da costa de Génova. Morrem todos os tripulantes e também a nossa Ganga, porque estava acorrentada ao convés. Os rinocerontes sabem nadar – os rinocerontes asiáticos são, aliás, exímios nadadores. E depois de vir do outro lado do mundo, a Ganga morre afogada no Mediterrâneo, que, comparativamente com a viagem pelos oceanos a que sobreviveu, é… uma poça. Uma poça grande e funda, vá.

+ Rossio na Betesga #03: As Escadinhas da Porta do Carro

+ A nova edição de Verão da Time Out Lisboa chega com a vaga de calor

Últimas notícias
    Publicidade