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O Roterdão tem de fechar mais cedo este fim-de-semana. E apela à solidariedade

Na sequência de uma restrição temporária de horário, o bar da rua cor-de-rosa só vai estar aberto das dez da noite às duas da manhã, na sexta-feira, 14, e no sábado, 15.

Luís Filipe Rodrigues
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Luís Filipe Rodrigues
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Roterdão
Ana Luzia
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O Roterdão é um daqueles sítios com que, normalmente, podemos contar. Quando a maior parte dos bares no Cais do Sodré e arredores fecham, continua de portas abertas – até às 04.00, de domingo e quarta-feira; até às 05.00, na quinta; e até às 06.00, no fim-de-semana – e pronto para receber quem ainda não está pronto para ir para a cama. Este fim-de-semana, porém, não poderemos contar com ele. O clube da rua cor-de-rosa foi forçado a fechar mais cedo e pede o apoio dos clientes.

A restrição temporária de horário foi comunicada à gerência no passado sábado, 8 de Março, de acordo com a dona, Ana Paula Afonso. Mas esta história não começa aqui. Começou a 1 de Fevereiro, por volta das 23.10, lembra. "Eu não estava no Roterdão, mas ligaram-me a dizer que a polícia tinha estado lá", recorda a gerente. "Às 23.00 o bar devia estar aberto, mas nessa noite não estava ainda. Estávamos a montar o balcão e a preparar a esplanada. E, apesar de já estar lá o DJ, os decibéis eram equivalentes ao período da limpeza."

Na rua, as pessoas estavam à espera que o bar abrisse, quando uns clientes ignoraram a cancela, que "esteve sempre fechada", e se dirigiram à sala. "E a primeira coisa que dizem é que a cortina não pode estar aberta." Os funcionários, garante, pediram aos supostos clientes para regressarem mais tarde, porque "o bar ainda não estava aberto". De acordo com os testemunhos, "a resposta foi imediata: vão ser multados à grande". Só aí é que perceberam que "os clientes" eram polícias à paisana.

Este é o relato da equipa do bar, sublinhe-se. A Time Out tentou ouvir o outro lado. Sem sucesso. A Polícia Municipal de Lisboa escusou-se a responder, e sugeriu que fosse enviado um e-mail para o gabinete do vereador Rui Cordeiro, responsável pela tutela. Ligámos e fomos reencaminhados para o Departamento de Marca e Comunicação da Câmara Municipal de Lisboa, que pediu para enviarmos as perguntas por e-mail. Até ao momento, não houve qualquer resposta.

A história continuou a desenrolar-se na segunda-feira, 3 de Março. "Liguei para a CML e disseram-me para ir o mais depressa possível apresentar uma resposta", explica Ana Paula. Segundo ela, quando a sua interlocutora ouviu o relato, "disse que era excesso de zelo". Mais calma, foi à CML apresentar a sua versão.

Passado quase um mês, a 28 de Fevereiro, foi tomada uma decisão. "Nesse dia teria tido possibilidade de mostrar as filmagens", diz por lei, os registos das câmaras de segurança têm uma vida útil de 30 dias. Mas, como só soube da decisão no passado sábado, 8 de Março, já não podia provar as discrepâncias entre aquilo que, segundo ela, se passou, e o que vinha escrito no relatório da polícia. 

"A decisão foi feita dizendo que eu estava em pleno funcionamento, ignorando a minha resposta", conta. "Apresentei o nível dos limitadores como prova, uma vez que em pleno funcionamento chega aos 98 decibéis, e estávamos com pouco mais de 70, mas dizem que eu não tenho limitadores selados, nem notificados pela Câmara Municipal." Garante que é mentira. "Se não tivesse limitadores, a coima seria gigantesca, mas eles não me multaram por isso. Dizem só que eu não tenho..."

Uma prática comum?

A gerente afiança que não é a primeira vez que estes atrasos nos envios e imprecisões se verificam. Ali e noutros espaços nocturnos. "É recorrente entregarem as decisões mais de 30 dias depois", afirma. E é cada vez mais frequente que uma das sanções seja a restrição temporária de horário. A Casa Independente, por exemplo, também teve de fechar mais cedo a 28 de Fevereiro e 1 de Março, na sequência de uma visita da polícia, em 2024.

"Esta coisa de fechar espaços e reduzir horário é muito pós-covid", comenta, apelidando a prática de "injusta". "[Os espaços nocturnos foram] obrigados a fechar durante a pandemia, enquanto outros sítios continuavam abertos. E agora, em vez de termos alguma ajuda, sinto que estamos sob ataque". A voz começa-lhe a tremer.

À semelhança dos gerentes de outros bares da zona, Ana Paula queixa-se da insegurança no Cais do Sodré. Correm rumores de que há fundos de investimento interessados em adquirir os prédios da zona, para construir hotéis e condomínios, e que as ruas estão votadas ao abandono para os preços baixarem. Ela não comenta.

O Roterdão sabe que não está sozinho, porém. "Ontem, o José Gouveia, o Comissário Municipal para a Noite de Lisboa, que não conheço pessoalmente, ligou-me a oferecer ajuda." Os clientes também estão consigo. E confia que apareçam mais cedo, entre as 22.00 e as 02.00, na sexta-feira e no sábado. Mesmo com outros sítios abertos.

Rua Nova do Carvalho, 28. 14-15 Mar 22.00-02. Qua e Dom 22.30-04.00, Qui 22.30-05.00, Sex-Sáb 22.30-06.00

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