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O RTP Lab não é só tubo de ensaio: é uma porta de entrada para criadores

A série ‘Astro-Mano’ ainda está fresquinha na RTP Play, mas este ano está programada a estreia no streaming público de mais três produções saídas do RTP Lab. Espreitámos para este laboratório.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Astro-Mano
©RTPCatarina Secca Cruz, Jafar dos Santos e Pedro Ferreira, em 'Astro-Mano'
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Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 670 — Verão 2024.

Astro-Mano é uma produção portuguesa de ficção científica criada por Filipe Santos e Pedro Ferreira. Feita por um grupo de gente talentosa e determinada em dar a conhecer o seu potencial criativo, a audaciosa série tem o potencial de derrubar algumas barreiras do que pode vingar por estas paragens. Estreada em Junho no catálogo da RTP Play, Astro-Mano contou com o apoio do RTP Lab, laboratório criativo que tem por missão alavancar talentos nacionais. Mais do que um micro-orçamento e apoio à produção, oferece uma plataforma. Prisma, Desassossego e Lugar 54 são as outras séries que estreiam até ao final do ano, mas já há muita história saída deste projecto nascido há oito anos na estação pública.

No total, já são 24 os projectos apoiados pelo RTP Lab. Como Frágil (2019), série escrita e realizada por Filipa Amaro, que anos mais tarde foi a criadora de Emília (2023), uma das séries nomeadas aos últimos Prémios Sophia. Sem surpresas, venceu Rabo de Peixe. Mas, curiosamente, Amaro é uma das argumentistas da segunda temporada da série da Netflix. Este é um exemplo dos frutos que este laboratório tem dado ao panorama audiovisual português, como Tota Alves, criadora de Dolores (2020) e O Meu Sangue (2020), séries apoiadas pelo RTP Lab, que depois escreveu Erro 404 (2024), série de Patrícia Sequeira, uma das mais reputadas realizadoras portuguesas. Podemos dar ainda outro exemplo: António Sequeira, realizador do filme A Minha Casinha (2023), vencedor do Prémio do Público no Festival de Cinema de Austin, foi o realizador da série Instaverso (2020), um dos projectos apoiados pelo RTP Lab, escrito por Rodrigo Prista. “São pessoas que tiveram esta oportunidade e que depois conseguiram seguir. Digamos que o RTP Lab é a porta de entrada para estes criadores”, explica João Pedro Galveias, o homem do leme do RTP Lab, à Time Out.

Teresa Tavares
©RTPTeresa Tavares, em 'Instaverso'

O sistema é relativamente simples. Todos os anos é aberta uma consulta para apresentação de projectos, que podem ser de todos os géneros narrativos, da qual são seleccionados os que apresentam maior potencial para desenvolvimento no laboratório. A cada produção é cedido um “micro-orçamento”, mas também existe um apoio de desenvolvimento, com acompanhamento nas áreas da realização e edição de vídeo e áudio, ou mesmo de script-doctoring. “Contámos com o Filipe Homem Fonseca, com o Nuno Markl e agora com o Henrique Dias, que nos deram ajuda sempre em script-doctoring, ao ajudar na consistência de guiões”, destaca Galveias. Mas o que prevalece, explica, “é sempre o criador”. “Queremos ajudá-los a fazerem um melhor projecto e já tivemos várias situações em que tínhamos sugestões para fazer, que em alguns casos eram aceites, noutros não”.

Actualmente, está a ser desenhada uma “camada do meio”, entre o RTP Lab e o apoio à produção a profissionais mais experientes, desenvolvido pela RTP nos últimos anos (Erro 404, da produtora Santa Rita Filmes, foi precisamente uma das últimas estreias). “[Trata-se de] uma camada intermédia em que já vamos ter mais recursos e um processo diferente, não é um laboratório”, avança Galveias. “E, portanto, é isso que queremos desenhar na RTP, uma escada. E o Lab é fundamental no primeiro degrau, é onde vamos conseguir encontrar novas ideias e novas pessoas que queiram fazer isto”.

Escola de cinema

“A edição do filme Pôr-do-Sol foi feita pelo Pedro”. Ao enumerar os casos de sucesso de pessoas que passaram pelo RTP Lab, Galveias lembra Pedro Ferreira, um dos criadores de Astro-Mano, que já tinha passado pelo laboratório com o projecto It’s a Date (2019-2020), um programa em que o apresentador (o próprio) combina 12 dates em busca do seu par ideal, numa roulotte de fast-food. Pedro realiza e protagoniza Astro-Mano e revela que grande parte do investimento saiu das suas próprias mãos. É que quando vemos os efeitos visuais da série dá a ideia de que se fartaram de gastar dinheiro. “Não, porque eu ofereci-me, fiz os efeitos. E fiz porque sabia fazer, só que todos os trabalhos que arranjava em pós-produção, era ‘apaga-me a perche, apaga-me aqui esta sombra, esta pessoa está em campo’, e estava um bocado farto”, diz Pedro Ferreira à Time Out. A seu lado tem Filipe Santos, também criador de Menos Um (2019), outra produção que passou pelo RTP Lab, e que teve a ideia de Astro-Mano há cinco anos “numa noite entre jolas e pregos”, recorda.

Astro-Mano
©DRAstro-Mano

Quem também tem uma série prestes a estrear são os actores Sónia Balacó e Zé Bernardino, que decidiram juntos passar para o outro lado da câmara. Prisma é uma série em que cada um dos cinco episódios apresenta uma perspectiva diferente de um mesmo dia, por cada um dos protagonistas. Apesar da experiência no audiovisual, ainda tentaram vender a ideia à RTP, mas, diz Balacó, estavam “a concorrer com pessoas que já realizaram muitas coisas”. Entretanto apareceu o RTP Lab, que lhes deu a mão. “Nós os dois queríamos imenso realizar, era uma coisa que individualmente já queríamos fazer há muito tempo”, confessa a actriz. A experiência profissional anterior deu-lhes alguma bagagem, mas agora foi outra coisa. “De alguma maneira, o Prisma e o Lab acabaram por ser a nossa escola de cinema.”

Menos conhecida, pelo menos para já, é Cátia Silva, criadora da série Desassossego, que escreveu e realizou para falar do que conhece. “De há uns anos para cá que lido constantemente com a saúde mental e com a ansiedade. E então veio de uma necessidade de eu falar disso mesmo, sobre o que conheço”, explica a jovem cineasta de Famalicão que escreve, realiza e produz a série. Formada em cinema e com duas curtas-metragens no portfólio, confessa ter aprendido muito com esta experiência. “Foi muito intenso. Foram três semanas para gravar todo este conteúdo, mas foi uma oportunidade espectacular. Acho que a RTP Lab serve para isto mesmo, para ajudar os realizadores na sua carreira. Contamos sempre com o apoio deles, tanto na fase do argumento, dão-nos sempre notas sobre o que se deve explorar; como na edição, há sempre um acompanhamento muito grande”, descreve, sublinhando a mais valia estrear numa plataforma “que chega a pessoas que se calhar de outra forma não chegaria”. Sem revelar detalhes, já tem pronto um argumento para uma primeira longa-metragem e concorreu a alguns apoios. “Vamos ver no que é que dá”.

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