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Como em muitas outras ocasiões, no segundo dia da ModaLisboa, o melhor ficou para o fim. No Capitólio, imprensa e convidados deram de caras com um Luís Buchinho exultante. Não é para menos. A ausência da passerelle lisboeta foi longa — há mais de sete anos, o criador optou por apresentar em exclusivo no Portugal Fashion, tendo regressado à capital em Março de 2020, resultado de uma acção conjunta entre as duas organizações. Esse foi, aliás, o último desfile físico do designer. Nas duas últimas estações, Buchinho apresentou as suas colecções através de desfiles digitais e sem público.
O regresso foi, por isso, absoluto. "Finalmente começamos a falar disto como se fosse uma coisa do passado", desabafa o criador, em conversa com a Time Out Lisboa. "Esta colecção é o espelho disso. Ela mostra, de forma simbólica, aquilo que poderá ser o regresso eufórico e alegre ao nosso quotidiano normal", continua. E o desfile a que assistimos ao final da noite foi, sem dúvida, com o velho normal de Buchinho.
Uma marcha ritmada e impetuosa sobre a passerelle, onde uma sensualidade revisitada foi a cereja no topo do bolo. "O corpo é celebrado de forma mais exposta. Voltei às minhas origens, ao meu lado mais sexy. E esta é também uma colecção com um espírito mais couture". Como o próprio explica, foram poucos os tecidos que ficaram por manipular. Ao longo da apresentação, os materiais surgem estampados, cortados a laser, plissados e drapeados. Além da habitual fluidez estival de Buchinho, as propostas para o Verão de 2022 surgem repletas de detalhes técnicos que as aproximam da alta-costura.
O processo incluiu uma dose de experimentação e de "resultados inesperados". Formas orgânicas e assimetrias contrastam com as geometria exacta de estações passadas e surgem temperadas com um espírito de "flirt e sedução". "Estamos a limpar a página da roupa prática, pensada ou para a cidade ou para estar em casa". Preocupações que agora ficaram de lado, pelo menos na cabeça do criador que aponta a mira a noites de festa e sofisticação. "Quando um criativo pensa muito nisso, fica um pouco esmagado. Para mim, era essencial. Estava a começar a sentir-me super sufocado".
A noite de sexta-feira ficou ainda marcada pelo desfile de Kolovrat. Depois de ter estado ausente na última edição, a designer convocou esoterismo e natureza, numa colecção dividida entre silhuetas repletas de movimento, com materiais esvoaçantes e transparências, e elementos de streetwear.
A 57ª edição da ModaLisboa continua a decorrer, este sábado, no Capitólio. Ao terceiro dia são esperados os desfiles de Ricardo Preto, Constança Entrudo, Carlos Gil, Ricardo Andrez e Luís Carvalho.
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