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Obras de requalificação no D. Maria II revelam inscrição do MDP/CDE

A sigla do movimento político foi descoberta na Sala Garrett e aí continuará, tapada. A intervenção no teatro do Rossio só deve terminar em 2025.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
Inscrição de MDP/CDE na sala Garrett
© Pedro Macedo_framed photos Inscrição de MDP/CDE na sala Garrett
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No Teatro Nacional D. Maria II, as obras de renovação não deixaram apenas a descoberto os fundamentos do edifício, também revelaram uma inscrição numa das paredes da Sala Garrett. Debaixo dos tecidos que revestiam aquela parede, escrito a tinta branca pode ler-se MDP/CDE, sigla que agora também faz parte da história do edifício. 

O D. Maria II ergueu-se no Rossio e abriu portas em 1846. Mais de um século depois, em 1964, um incêndio destruiu o edifício quase na sua totalidade; restou apenas a fachada. A reconstrução foi demorada: decorreu até 1977, tendo o teatro reaberto no ano seguinte. Durante essa obra, alguém inscreveu na parede de uma das salas do teatro a sigla do Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral, que começou por ser uma organização de oposição ao Estado Novo, em 1969, chegou a estar no Parlamento na década que se seguiu à revolução e, após algumas transformações, viria a ser uma das correntes fundadoras do Bloco de Esquerda.

Agora, durante as obras de requalificação do edifício, foi descoberta a inscrição na Sala Garrett, após a remoção dos painéis de tecido para intervenção. A sigla, que se acredita ter sido feita por um dos trabalhadores que esteve nas obras nos anos 70, faz agora parte da história do teatro, imortalizada no seu arquivo. A fotografia da inscrição fará inclusive parte da exposição "Quem és tu? – Um teatro nacional a olhar para o país", no Museu Nacional do Teatro e Dança, a partir de 6 de Junho.

"A história daquele teatro são essas camadas sucessivas de história que, neste momento, só sobrevivem no arquivo", diz à Time Out o director artístico do D. Maria II, Pedro Penim, cujo pai, curiosamente, era militante do MDP/CDE. "Salvaguardar a memória também é a nossa obrigação. A memória são essas várias histórias, muitas delas invisibilizadas, como é o caso deste acto de insubordinação por parte de alguém que estava ali a trabalhar e que decidiu manifestar a sua apetência partidária; é essa confluência dos vários momentos que este edifício já viveu da História de Portugal, e que são mais um testemunho da sua passagem pelo tempo". 

A inscrição será, entretanto, tapada com painéis renovados. Ainda não há data para o fim das obras no Teatro Nacional, nem para quando voltará a abrir, mas aponta-se que seja para 2025. Para Penim, "a missão do Teatro Nacional não se resume ao edifício do Rossio, mas, obviamente, o edifício é muito emblemático para aquilo que é a actividade do teatro. Como director artístico, também não me sinto necessariamente pressionado porque a actividade tem sido muito interessante e muito diversificada desde que o edifício fechou e isso tem permitido expandir aquilo que é a missão do Teatro Nacional. Temos conseguido chegar a sítios onde nunca tínhamos estado, não só sítios geográficos, também sítios no sentido de propostas que dinamizam a nossa programação." 

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