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A especulação imobiliária não tem sido meiga para o comércio tradicional da cidade e acaba também por afectar associações e outras entidades sem fins lucrativos que desenvolvem a sua actividade em Lisboa. Agora, a pressão bateu à porta da associação Oficina do Cego e da cooperativa LARGO Residências, que estão de saída dos espaços que arrendam há vários anos.
No sábado, 19 de Março, a Oficina do Cego, associação que promove as artes gráficas, usou as redes sociais para partilhar uma má notícia e deixar um apelo. “O espaço onde estamos instalados desde 2013 vai ser vendido e o nosso contrato de arrendamento não vai ser renovado. A partir de Junho, a Oficina fica sem casa”, escrevem, lamentando a perda do lugar onde desenvolvem várias actividades desde 2013, na Penha de França. Um “espaço de criação, de partilha de conhecimento e de paixão pelas artes gráficas”, descrevem, onde são desenvolvidos projectos artesanais ligados a diversas técnicas de impressão como tipografia, serigrafia, cianotipia, gravura, stencil e até offset.
A Oficina do Cego pede ajuda para, até Junho, encontrar um novo espaço com pelo menos 70 m2, num rés-do-chão, de renda baixa e com fácil acesso a transportes públicos. A preferência vai para a freguesia da Penha de França, onde se encontram actualmente, para não perderem ligação aos projectos locais e vizinhança, mas sublinham que são bem-vindas as sugestões noutras zonas da cidade (e que podem ser enviadas para o email geral@oficinadocego.pt).
Esta não é a primeira vez que a Oficina do Cego tem de mudar de instalações. Antes de encontrarem na Rua Sabino de Sousa o espaço ideal, que agora têm de abandonar, associados e formandos desenvolviam as suas actividades gráficas no Concorde, um atelier colectivo junto a Santa Apolónia.
Também de saída, e pelas mesmas razões (não renovação de contrato, por motivo de venda), está o LARGO Residências, com morada no Largo do Intendente Pina Manique. Dezasseis de Abril será o último dia de porta aberta no Largo do Intendente, onde em 2020 a cooperativa encerrou a unidade de alojamento, na sequência da actual pandemia. Agora, fecha o LARGO Café Estúdio, mas a saída deste espaço será assinalada com uma festa chamada “Adeus, Intendente!”, entre 13 e 16 de Abril.
Este último programa cultural vai incluir conversas sobre os dez anos de vida da LARGO no Intendente e as mudanças que aconteceram neste território na última década; o lançamento do livro CENTRO, de Joana Bértholo, sobre o trabalho que desenvolveram com a comunidade sénior do bairro; momentos musicais com músicos que por ali passaram, como Jon Luz ou Carlos Barretto; uma exposição de Ivo Rodrigues sobre os festivais que aconteceram no Largo do Intendente; ou mesmo uma cachupa solidária. Brevemente, será ainda lançada uma campanha de crowdfunding que ajudará, dizem, “a reconstruir um novo projecto de um lugar ainda mais LARGO.”
“Não foi o que imaginámos seguramente, um Intendente cujo futuro será rodeado de luxuosos hotéis. Mas saímos daqui completamente cheios e orgulhosos do caminho colectivo que fizemos”, lê-se no comunicado enviado às redacções. Marta Silva, directora artística e executiva, explica à Time Out que o edifício está à venda, “juntamente com um grande lote de prédios dos quais os nossos senhorios são proprietários. No nosso quarteirão são todos menos o novo Hotel 1908.”
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