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Não muito longe do seu atelier, entre Santa Apolónia e Xabregas, Pedro Cabrita Reis instala "Atelier", uma exposição com a ambiência do caos, que circula por 50 anos (não ordenados) daquilo que tem sido a sua criação artística. Ao longo de oito pavilhões e de três meses, estarão cerca de 1500 obras, entre pinturas feitas a vassoura e esfregona e esculturas que partiram da ideia de ferramentas. Tudo são medidas com Cabrita Reis, homem da geometria que gosta de quebrar rectas e que a 19 de Maio as amplia nesta sua grande mostra, nos anexos do Palácio da Mitra, lugar inesperado (nos barracões funcionou um asilo social, o chamado Albergue de Mendicidade, por onde também passaram pessoas com doença psiquiátrica) mas com aura e história, e por isso óptimo. No último mês, ali foram chegando camiões carregados, de esculturas em ferro do século XXI a pinturas a óleo da adolescência de Cabrita.
Mas porquê o caos? Primeiro, em "Atelier", "não há legendas, nem indicações narrativas ou cronológicas". A ideia "é que o visitante possa ir e vir no tempo e nas várias disciplinas que o foram ocupando ao longo de cinco décadas. A disposição de tudo o que aqui vamos encontrar tem origem e ressonância no mesmo pensamento e processo artístico em que as peças coabitam expostas lado a lado, convivendo nos seus vários tempos de vida. Como no atelier" do artista, relata o jornal Expresso, que acompanhou a montagem da exposição. "A ausência de legendas não nos deixa cair na armadilha da narrativa", explica Cabrita, pelo que a mostra permite uma experiência bruta de intimidade com a obra, dando liberdade à interpretação e às ligações que o visitante quiser fazer.
Também o percurso adivinha-se inesperado, já que não há uma ordem rígida a unir as peças de Cabrita Reis, também curador da exposição, que terá apenas seguido a sua subjectividade na montagem. Peças dos anos 70 podem, assim, coabitar com as desta década, sem tema aparente a relacioná-las. "As obras atropelam-se, empurram-se, falam umas com as outras, estão umas viradas para a parede, outras viradas para cá, com esculturas pelo meio do chão", contou o artista à agência Lusa. Há pequenas esculturas de parede, imagens dos bancos de tijolo que estiveram na floresta austríaca de Poppendorf ou da longa peça que foi para Buenos Aires, mas também aguarelas de paisagens portuguesas, auto-retratos, pinturas feitas aos 15 anos ou as fotografias de casas e espaços de trabalho por onde Pedro Cabrita Reis passou, do Bairro Alto ao Cais do Sodré, como conta o Expresso. Há pintura, escultura, desenho, fotografia, moldura, instalação, vidro, madeira, metal, industrial, ready-made e manipulado. Se for absurdo, tudo bem. Tudo foi montado como se o artista estivesse numa "oficina, com uma espécie de caos original", num acto de "recusa da pedagogia", como disse ao Diário de Notícias. É a arte pela arte, por outras palavras.
50 anos, de Campo de Ourique a Veneza
Nascido em 1956, Pedro Cabrita Reis diz ter sempre sido artista. Viveu em Campo de Ourique com os pais (até dar-se o 25 de Abril e ter decidido sair de casa), em 1973 entrou para as Belas Artes e aos 17 anos estava numa revolução. Nome grande das artes plásticas nas suas variadas formas e muitas vezes sem etiquetas, Cabrita Reis tem obras em várias colecções nacionais e internacionais, como a da Gulbenkian, a de Serralves, da Tate Modern The Arts Club of Chicago, do Pompidou ou do Museo Reina Sofia, além da presença em galerias e colecções particulares. Está também no Jardim das Tulherias, em Paris, com Les Trois Grâces, na sequência de um convite do Louvre, e deixou a sua marca mais do que uma vez na Bienal de Veneza.
Em 2021, depois de aparecer de camisa aberta, em cima da mota, a ondular as curvas da Serra do Caldeirão (no Algarve, onde também tem casa), no programa Primeira Pessoa (RTP), disse assim: "Sou um agricultor retirado das lides da poesia e das artes. Há-de haver um tempo em que só as árvores me interessarão. Por enquanto, vou fazendo umas pinturas."
A exposição que agora inaugura faz-se acompanhar por um catálogo, apoiado pela Fundação EDP, com design de Pedro Falcão e textos de Carlos Vidal, Dalila Pinto de Almeida, João Pinharanda e do próprio.
Pavilhões da Mitra (Marvila), Rua do Açúcar, 56. 19 Mai-28 Jul, Qui-Dom, 14.00-18.00. Entrada Livre
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