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“Olha a onda!” Afinal, o que se deve fazer em caso de tsunami em Lisboa?

Baixa testou Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami. “Se acontecer, o que nos compete é estarmos preparados”, diz Protecção Civil.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
Simulacro de alerta de tsunami no Terreiro do Paço
Francisco Romão PereiraSimulacro de alerta de tsunami no Terreiro do Paço
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Aconteceram três tsunamis ao longo da história de Lisboa, todos na sequência de terramotos. Apenas dois, no entanto, foram classificados de "desastrosos": o de 1531 e o de 1755. São as medidas e impactos deste último, a célebre catástrofe que destruiu uma boa parte da cidade (17 mil edifícios) e resultou na morte de 8000 a 20 mil pessoas, que as autoridades estão a tomar como referência para desenhar o plano de evacuação para o município de Lisboa. Do plano faz também parte o Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami no Estuário do Tejo, que está a ser instalado na cidade (Cascais já tem um sistema semelhante e seguir-se-á Oeiras) e que esta sexta-feira, 1 de Março, foi testado num exercício de evacuação que abarcou as freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia. 

Perto das 11.30, a sirene tocou durante cerca de 10 minutos (num volume talvez pouco audível, mas o teste, explicou a directora do Serviço Municipal de Proteção Civil da Câmara Municipal de Lisboa, Margarida Castro Martins, serviu para aferir questões como esta ou mesmo o raio de alcance do aviso sonoro) e os participantes foram convidados a seguir o percurso sinalizado de evacuação, subindo a Rua Augusta até ao ponto de encontro identificado como área segura, o Rossio. Nas projecções desenhadas, no caso de um tsunami com as características do de 1755, a água e os eventuais destroços não passarão dali. 

Protecção Civil de Lisboa
Francisco Romão PereiraProtecção Civil de Lisboa

Para já, Lisboa está munida de duas sirenes, uma em Belém e outra junto ao Terreiro do Paço, sendo Alcântara e a Estrela as freguesias seguintes a receber estes equipamentos. "Estão previstas mais seis, para cobrir toda a frente ribeirinha", adiantou Margarida Castro Martins. Em paralelo, e em cooperação com diferentes entidades, estão a ser identificados pontos altos da cidade que poderão funcionar como locais de abrigo e, assim, integrar o plano de evacuação (o Centro Cultural de Belém e a CUF Tejo são dois exemplos). A Câmara de Lisboa também está a trabalhar com o Infraestruturas de Portugal para pensar numa forma de "transformar a linha do comboio como uma condicionante ultrapassável", especifica a directora. 

Entre as áreas possivelmente afectadas por esta sequência nada meiga de ondas, Alcântara apresenta-se como a freguesia com maior risco de inundação. "A água chegaria até à Avenida de Ceuta, na zona da ETAR." Mas o risco também é elevado para as zonas de Belém, Baixa e Parque das Nações. Para se ter uma ideia, se as ondas tiverem origem no mesmo ponto que as de 1755, demorarão cerca de dez minutos a chegar do Bugio a Belém.

E se a sirene não funcionar?

Nenhum sistema é infalível e, vindo um tsunami na sequência de um terramoto, as ondas poderão chegar à terra já num contexto de destruição. Assim, as placas que ditam o caminho da evacuação poderão já não existir, os próprios percursos poderão estar impedidos pela queda de objectos e o sistema sonoro poderá deixar de funcionar. Nestes casos, há sempre dois factores que podem ajudar: o primeiro é o instinto e o segundo o conhecimento. Mas como é que a natureza nos alerta, então, sobre a chegada de um tsunami? Primeiro, com o tremor do sismo; depois, através da variação súbita e anormal do nível do rio, com movimentos da água para a frente ou para trás; e também com "um ruído estranho vindo do rio", explica a Protecção Civil.

Praça de D. Pedro IV
Francisco Romão Pereira

Nestes casos, o que tem a fazer é afastar-se o mais rapidamente possível da frente ribeirinha e só regressar à normalidade perante a indicação das autoridades (em 1755, não sabendo a população o que era um tsunami e tendo sentido fortemente o sismo, decidiu em massa aproximar-se da zona ribeirinha, por julgar que seria a parte mais segura da cidade, ao estar mais longe dos edifícios, abrindo-se assim a porta inesperada para milhares de mortes). "Um tsunami é um cenário que demora horas", explica Sónia Queiroz, da Protecção Civil. Por outro lado, "a onda mal se percebe". "Uma onda de tsunami não será uma onda da Nazaré. É baixa, rasa, nada 'surfável', e que vai entrando pela costa devagarinho, mas com uma força enorme", explica Margarida Martins, enquanto mostra um vídeo de uma família no Japão, na varanda do seu apartamento, a observar o tsunami de 2011. "Como vêem, as pessoas que estão naquele prédio estão bastante seguras e tranquilas. Portanto, se um tsunami acontece, o que nos compete é estarmos preparados", diz.

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