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Aconteceram três tsunamis ao longo da história de Lisboa, todos na sequência de terramotos. Apenas dois, no entanto, foram classificados de "desastrosos": o de 1531 e o de 1755. São as medidas e impactos deste último, a célebre catástrofe que destruiu uma boa parte da cidade (17 mil edifícios) e resultou na morte de 8000 a 20 mil pessoas, que as autoridades estão a tomar como referência para desenhar o plano de evacuação para o município de Lisboa. Do plano faz também parte o Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami no Estuário do Tejo, que está a ser instalado na cidade (Cascais já tem um sistema semelhante e seguir-se-á Oeiras) e que esta sexta-feira, 1 de Março, foi testado num exercício de evacuação que abarcou as freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia.
Perto das 11.30, a sirene tocou durante cerca de 10 minutos (num volume talvez pouco audível, mas o teste, explicou a directora do Serviço Municipal de Proteção Civil da Câmara Municipal de Lisboa, Margarida Castro Martins, serviu para aferir questões como esta ou mesmo o raio de alcance do aviso sonoro) e os participantes foram convidados a seguir o percurso sinalizado de evacuação, subindo a Rua Augusta até ao ponto de encontro identificado como área segura, o Rossio. Nas projecções desenhadas, no caso de um tsunami com as características do de 1755, a água e os eventuais destroços não passarão dali.
Para já, Lisboa está munida de duas sirenes, uma em Belém e outra junto ao Terreiro do Paço, sendo Alcântara e a Estrela as freguesias seguintes a receber estes equipamentos. "Estão previstas mais seis, para cobrir toda a frente ribeirinha", adiantou Margarida Castro Martins. Em paralelo, e em cooperação com diferentes entidades, estão a ser identificados pontos altos da cidade que poderão funcionar como locais de abrigo e, assim, integrar o plano de evacuação (o Centro Cultural de Belém e a CUF Tejo são dois exemplos). A Câmara de Lisboa também está a trabalhar com o Infraestruturas de Portugal para pensar numa forma de "transformar a linha do comboio como uma condicionante ultrapassável", especifica a directora.
Entre as áreas possivelmente afectadas por esta sequência nada meiga de ondas, Alcântara apresenta-se como a freguesia com maior risco de inundação. "A água chegaria até à Avenida de Ceuta, na zona da ETAR." Mas o risco também é elevado para as zonas de Belém, Baixa e Parque das Nações. Para se ter uma ideia, se as ondas tiverem origem no mesmo ponto que as de 1755, demorarão cerca de dez minutos a chegar do Bugio a Belém.
E se a sirene não funcionar?
Nenhum sistema é infalível e, vindo um tsunami na sequência de um terramoto, as ondas poderão chegar à terra já num contexto de destruição. Assim, as placas que ditam o caminho da evacuação poderão já não existir, os próprios percursos poderão estar impedidos pela queda de objectos e o sistema sonoro poderá deixar de funcionar. Nestes casos, há sempre dois factores que podem ajudar: o primeiro é o instinto e o segundo o conhecimento. Mas como é que a natureza nos alerta, então, sobre a chegada de um tsunami? Primeiro, com o tremor do sismo; depois, através da variação súbita e anormal do nível do rio, com movimentos da água para a frente ou para trás; e também com "um ruído estranho vindo do rio", explica a Protecção Civil.
Nestes casos, o que tem a fazer é afastar-se o mais rapidamente possível da frente ribeirinha e só regressar à normalidade perante a indicação das autoridades (em 1755, não sabendo a população o que era um tsunami e tendo sentido fortemente o sismo, decidiu em massa aproximar-se da zona ribeirinha, por julgar que seria a parte mais segura da cidade, ao estar mais longe dos edifícios, abrindo-se assim a porta inesperada para milhares de mortes). "Um tsunami é um cenário que demora horas", explica Sónia Queiroz, da Protecção Civil. Por outro lado, "a onda mal se percebe". "Uma onda de tsunami não será uma onda da Nazaré. É baixa, rasa, nada 'surfável', e que vai entrando pela costa devagarinho, mas com uma força enorme", explica Margarida Martins, enquanto mostra um vídeo de uma família no Japão, na varanda do seu apartamento, a observar o tsunami de 2011. "Como vêem, as pessoas que estão naquele prédio estão bastante seguras e tranquilas. Portanto, se um tsunami acontece, o que nos compete é estarmos preparados", diz.
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