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Orfeu Negro estreia-se na ficção com duas obras de Conceição Evaristo

Há 17 anos a publicar ensaios e obras documentais, a editora inaugura uma nova colecção dedicada à ficção. Os primeiros títulos são publicados a 12 de Outubro.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Capas de obras de Conceição Evaristo
DRDepois do ensaio, a ficção. Orfeu Negro publica Conceição Evaristo em Outubro
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Da teoria queer à crítica decolonial, há 17 anos que a Orfeu Negro se dedica a publicar ensaios e outros trabalhos documentais. Agora estreia-se na ficção. Canção para ninar menino grande e Olhos d’água, ambos de Conceição Evaristo, são os primeiros títulos da nova série. O lançamento, marcado para 12 de Outubro no festival FOLIO, em Óbidos, vai contar com a presença da escritora brasileira.

“Sermos uma editora independente permite-nos decisões mais livres e espontâneas. Tal como aconteceu com a nossa colecção Casimiro, de livros ilustrados para adultos, a ficção emerge por se juntarem uma série de factores que vão desde um processo interior que vai ganhando forma até tudo se encaixar e fazer sentido, diria. Funciono de uma forma muito intuitiva, é como se houvesse um dia em que digo 'sim', porque ganho a certeza de que quero avançar”, diz à Time Out Carla Oliveira, fundadora da Orfeu Negro. 

A editora explica ainda que, à medida que se abriram aos estudos de género, da teoria queer, do feminismo e da crítica decolonial, começaram a deixar que o ensaio fosse contaminado pela auto-teoria, como é exemplo Argonautas, de Maggie Nelson, e a auto-ficção de Audre Lorde. “Publicámos Zami, a sua biomotografia, em Junho deste ano. Nesta procura e encontro com novos livros, fomo-nos cruzando com a ficção”, resume, antes de revelar que “o momento” surgiu após várias conversas com Mariana Warth, uma das editoras da Pallas, a casa que, no Brasil, publica as duas obras que agora se propõe a lançar em Portugal.

Olhos d’água, obra vencedora do Prémio Jabuti, reúne 15 contos que atravessam a pobreza e a violência urbana, convocando os dilemas sociais e existenciais das comunidades afro-brasileiras. Já Em Canção para ninar menino grande, o seu mais recente romance, Conceição Evaristo entra no território da masculinidade, expondo as suas contradições e complexidades. As ilustrações de capa têm a assinatura de Catarina Bessell e Susa Monteiro, respectivamente.

Nascida em Belo Horizonte, no Brasil, em 1946, Conceição Evaristo estreou-se na literatura em 1990, quando começou a publicar os seus contos e poemas na série Cadernos Negros. Escritora versátil, cultiva a poesia, a ficção e o ensaio, e é uma das vozes mais expressivas da literatura afro-brasileira. Temas como a discriminação racial, de género e de classe são transversais em toda a sua produção escrita. Distinguida em 2018 com o Prémio Governo de Minas Gerais de Literatura, pelo conjunto da sua obra, recebeu o Prémio Jabuti como personalidade literária em 2019, e ainda o Prémio Intelectual do Ano, atribuído pela União Brasileira de Escritores, em 2023.

Este ano, Conceição Evaristo virá a Portugal como uma das convidadas em destaque do FOLIO, em Óbidos. O programa inclui o lançamento a 12 de Outubro, às 16.30, na Tenda Autores, numa sessão com apresentação e moderação da escritora e activista Gisela Casimiro, e que contará também com a presença da poeta e historiadora Ana Paula Tavares. Além disso, Evaristo vai orientar uma masterclass no dia 13, às 14.30, na Casa da Música de Óbidos, e apresentar trabalhos inéditos e escritos eróticos no dia 14, às 19.00, em lugar a confirmar.

Sobre o futuro da colecção de ficção da Orfeu Negro, Carla Oliveira não avança títulos, mas promete que, tal como tudo na Orfeu Negro, haverá continuidade e cruzamento, com uma aposta nas “paixões de sempre”. “Os livros falarão de mulher, de música, do amor e da morte. De como desconstruir relações de poder e de como partilhar ideias para um futuro melhor.”

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