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Os 30 anos de Blasted Mechanism não são de nostalgia, só de festa

A “viagem psicalédica” dos Blasted Mechanism em direcção ao futuro começou há três décadas. Para o assinalar, o grupo vai dar dois concertos especiais em Lisboa e no Porto, com convidados especiais.

Hugo Geada
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Hugo Geada
Jornalista
Blasted Mechanism
Rita Carmo | Blasted Mechanism
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Quando surgiram em 1995, eram considerados uma banda de outro planeta. Uma banda do futuro. Na altura, não era preciso ser da Serra da Gardunha para pensar que os Blasted Mechanism eram extraterrestres. 

E em 2025? Numa altura em que o grupo criado por Valdjiu e Karkov se está a preparar para os concertos de celebração do 30.º aniversário da sua formação – vão estar no Coliseu Porto Ageas a 4 de Abril e na Sala Tejo, da Meo Arena, a 12 de Abril –, perguntamos. Ainda são uma banda futurista? 

"Nós nunca nos considerávamos uma banda do futuro”, diz à Time Out o percussionista Winga, que regressou para fazer estes concertos. “O ‘futuro’ foi mais uma forma de nos catalogar. Mas nós continuamos com o mesmo espírito. Queremos apresentar coisas novas e fora do baralho. Foi sempre essa a intenção e continua a ser. Agora, se estamos à frente do tempo ou não? Suponho que tenham de ser essas mesmas pessoas que nos catalogaram dessa forma que o poderão responder”, desafia. 

Estivemos reunidos com Valdjiu, Karkov e Winga para falar sobre a reunião e a ocasião especial que levou a esta reunião. Os dois últimos já não fazem parte da banda, mas são convidados para estes espectáculos. 

Após 13 anos a dar voz aos maiores delírios e êxitos dos Blasted Mechanism, como “When The Sun Goes Down”, “Blasted Empire” ou até uma música cujo título é o seu nome, “Karkov”, o vocalista deixou a banda no início de 2008, justificando, na altura, que "não tinha energia para continuar no projecto”, como se podia ler num comunicado divulgado então pela banda.

Karkov mudou-se depois para a Índia, onde se dedica a orientar retiros de yoga. Numa entrevista à Blitz, referiu que, apesar de saberem do seu passado enquanto músico, a maior parte das pessoas com que se relaciona naquele país não conhece os Blasted Mechanism. 

Dez anos mais tarde, Winga tomou a mesma decisão, no entanto, continuou no mundo da música. O baterista esteve na estrada com o projecto Winga Kan, um espectáculo one-man-show centrado em instrumentos de percussão tribal, que criou em 2010 e levou de norte a sul de Portugal.

Apesar destas mudanças no núcleo do grupo, os Blasted Mechanism continuam a operar como uma máquina bem oleada. Neste momento, os membros oficiais são Valdjiu, Fred Stone, Ary e os vocalistas Guitshu e Riic Wolf, desde 2008 e 2018, respectivamente. O som da banda foi-se actualizando, participaram no Festival da Canção, em 2020, e continuam a apresentar-se ao vivo, tendo, no ano passado, feito parte do cartaz do NOS Alive. 

No entanto, mesmo tendo o conjunto seguido a sua vida, há meses que estava a borbulhar esta ideia de fazer um concerto comemorativo. “Quando retomámos a nossa relação com o Karkov, ele sugeriu fazer um grande concerto”, recorda Valdjiu, o único membro fundador que se mantém na banda. “Na altura, a ideia era fazer um grande concerto de fecho, a assinalar o fim dos Blasted. Mas o que acontece é que não queremos encerrar nada. Queremos celebrar os 30 anos de carreira. Liguei-lhe e, apesar de ainda estar na Índia, aceitou o convite”, diz. 

Apesar de não pegar num microfone há mais de 15 anos, Karkov – que admite estar a passar por um processo de “reaprendizagem” – confessa que já tinha saudades da azáfama da vida de músico. “Passámos anos a tocar juntos e muitas das músicas e letras ainda me correm no sangue, mas a distância fez com que perdesse algumas noções. Contudo, eles têm sido pacientes comigo. São os meus melhores amigos e temos muita vontade que estes concertos sejam os melhores concertos da nossa vida”, afirma o vocalista. 

Karkov vê-se agora numa situação diferente daquela a que estava habituado, uma vez que tem de partilhar as luzes da ribalta com outros dois cantores, Guitshu e Riic Wolf, mas a adaptação tem sido fácil. "Fico feliz por ter havido pessoas que tomaram o meu lugar e que carregaram essa responsabilidade de serem a voz da banda”, confessa Karkov. “São óptimas pessoas, são grandes vocalistas e amigos. Estamos a dar-nos bem e, nos concertos, vamos fazer uns jogos interessantes a três vozes”, promete. 

Blasted Mechanism
Gita MoraisValdjiu

No ano em que celebram o seu 30.º aniversário, Valdjiu, Karkov e Winga deparam-se com um panorama musical completamente diferente, onde plataformas de streaming, como o Spotify, e redes sociais, como o TikTok, ocupam um papel quase tão importante na indústria como a técnica ou a criatividade musical. Quando perguntamos aos artistas quais são as principais diferenças que sentem entre estes períodos, estes defendem que o principal factor diferenciador entre artistas continua a ser a originalidade. 

“A música é intemporal. Sempre houve aqueles que foram atrás das tendências que marcaram uma época, mas depois há aqueles que estão numa procura para serem autênticos, únicos e originais”, começa por explicar o multi-instrumentista, antes de mencionar o projecto que fundou. 

“Talvez pelo facto de termos crescido nos anos 90 – que ainda fazia parte de uma década cuja autenticidade era uma busca permanente em quase todos os projectos – nos Blasted a natural tendência era procurar fazer algo único. Hoje em dia, por causa dos algoritmos, há uma procura maior para tentar perceber onde é que os artistas podem encaixar-se. Talvez essa seja a grande diferença: o posicionamento no nicho do mercado. Antes era mais aberto, hoje está mais fechado”, justifica Valdjiu. 

São tempos estranhos e diferentes para os Blasted Mechanism, mas não é por isso que querem fazer uma viagem ao passado, rejeitando o rótulo de que estes concertos são uma experiência passadista. “A nostalgia é algo que não proporcionamos nos nossos concertos. É mais um sentimento de festa”, diz o membro mais antigo do grupo.

“Vamos assistir a uma junção do passado e do presente. Só assim podemos criar um futuro novo", completa Winga. 

O que podemos esperar então destes concertos? “Vai ser uma autêntica viagem psicadélica por 30 anos de música”, descreve Karkov. “Obviamente não vamos conseguir tocar todos os temas que compusemos. Mas temos ouvido os fãs e estamos a tentar criar um alinhamento que faça uma bonita homenagem a estas últimas décadas”, afirma.

Houve uma altura em que os Blasted Mechanism estavam no topo do mundo. Deram concertos em alguns dos maiores festivais do mundo, como o Glastonbury, e o concerto do ano passado no NOS Alive foi bem recebido por parte dos fãs. Será que existe um cenário em que possam conseguir recuperar esse momento? 

“O concerto que demos no ano passado no NOS Alive foi um ponto alto na nossa carreira. Abrimos o palco principal. Estavam 50 mil pessoas a ver às seis e meia da tarde. Estamos sempre dispostos a fazer grandes festivais e estamos a planear coisas lá para fora também”, revelou Valdjiu. “Neste momento, estamos focados nos espectáculos de aniversário – que é o concerto que vamos levar para a estrada durante este ano – e, no final do ano, prevemos estar a editar coisas novas e lançar uma imagem nova”. 

Os músicos parecem ter uma boa ideia do que será o futuro próximo dos Blasted Mechanism. E mais para a frente? Com tantas mudanças, será que um dia este grupo pode sobreviver sem nenhum dos seus membros originais? “Por acaso, temos referido isso várias vezes. Como não temos uma imagem pessoal, qualquer pessoa pode continuar o nosso legado”, diz Valdjiu. 

“Porque não?”, questiona Karkov. “Talvez não caiba a nós tomar essa decisão. Cabe aos últimos que ficarem aqui. Só eles saberão se vale a pena passar o testemunho”. 

Coliseu Porto Ageas. 4. Abr (Sex). 21.30. 30€-35€/ Meo Arena – Sala Tejo. 12 Abr (Sáb). 20.00. 25€-35€

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