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Os colchões abandonados nas ruas da cidade inspiram o humor e a poesia de Anushka, uma artista alemã que se mudou há seis anos de Berlim para Portugal, à boleia do projecto Workaway. O trabalho fotográfico que documenta os mais de 200 colchões em que escreveu as suas frases pode ser visto na exposição "Chaos, stains and stupid feelings; a matress collection of longing for lovers +losers", na galeria Little Chelsea. É lá que lhe fazemos a incontornável pergunta: porquê colchões?
"Para mim são muito mais do que objectos onde só dormimos: fazemos sexo, sonhamos, vemos tv... Vê-los na rua tem qualquer coisa de constrangedor, porque normalmente pomos-lhe lençóis, cobrimo-los, e ninguém vê as nódoas, nem o suor, o sangue... as lágrimas! E de repente estão ali despidos, nus, na rua. É assim uma situação de exposição pública..." E o trabalho na rua também tem os seus momentos insólitos: "Algumas pessoas perguntam-me se não tenho medo dos percevejos... [gargalhadas]."
Mas e de onde vêm os colchões? "Normalmente, deixo os colchões onde os encontro, quando muito reenquadro um bocadinho. Não gosto de os tirar do sítio, porque o que escrevo neles tem a ver com o sítio onde estão. E também o aspecto do colchão. Até posso ter uma frase na cabeça mas não encaixa naquela situação. Às vezes encontro um colchão e penso: oh, meu deus, tenho que escrever uma coisa mesmo especial para este colchão!" Como aconteceu com o que encontrou à porta de um nightclub, ao lado de umas escadas iluminadas para um primeiro andar. "A frase tinha que ter a ver com amor e bebidas." Foi o que aconteceu. "Can't fix your heart but I can fix you a drink", dizia esta instalação, que pode encontrar em fotografia na exposição.
As fotografias expostas foram seleccionadas do arquivo de Anushka, que documenta cada uma destas peças de arte pública extremamente efémera. Duram até à passagem do camião de recolha de monos. Ou menos até. Numa das fotos que pode ver em @dear.anushka aparece o próprio cantoneiro a levar o colchão onde se lê "The trash man stole my (he)art". "Pedi-lhe para ele esperar um bocadinho, só para eu escrever e tirar uma fotografia. E ele esperou. Foi mesmo simpático", conta. As histórias hilariantes de algumas das peças são outra razão para visitar a conta de Instagram. Isso e o seu trabalho anterior, feito com uma colecção de 40 belíssimas máquinas de escrever antigas onde se podem ler frases e pequenos textos dactilografados. "Gosto de pôr objectos a falar."
Se não teve a sorte de ser surpreendido pelo humor desarmante de Anushka num qualquer colchão pela cidade, não perca esta primeira exposição individual da artista, na galeria Little Chelsea, onde encontra 34 fotografias (algumas das quais nunca publicadas) e, claro, instalações com colchões, como este, pendurado na porta do WC.
"Chaos, stains and stupid feelings; a matress collection of longing for lovers + losers". Little Chelsea. Rua Capitão Leitão, 40. Até 10 de Março. Ter-Qui 14.00-19.00, Sex 14.00-00.00, Sáb 14.00-18.00
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