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Os jardins que os lisboetas preferem ficam à mão de semear

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Director-adjunto, Time Out Portugal
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A proximidade de casa ou do trabalho é determinante quando chega a hora de ir laurear a pevide para um espaço verde. Se for bonito, óptimo. Se tiver parque infantil, melhor ainda.

Os Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian têm um lugar especial no coração dos lisboetas. No coração e no quotidiano. Um inquérito levado a cabo pelo Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, revela que estes estão no topo dos espaços verdes mais frequentados da cidade.

A lista inclui cinco jardins e apenas um fica mais afastado do centro (ou, para os antigos, para lá dos limites da extinta Primeira Circular): o Parque Florestal de Monsanto. O pulmão de Lisboa fica num honroso quinto lugar, atrás dos jardins do Campo Grande (segundo) e da Estrela (terceiro), e do Parque Eduardo VII (quarto). Não é por acaso.

Os 2091 inquiridos (uma amostra quase paritária, com leve vantagem para as mulheres – 51% das participantes), a maioria na faixa etária dos 25 aos 44, disseram que a proximidade é determinante na escolha dos seus espaços verdes preferidos. Logo depois estão a tranquilidade e o contacto com a Natureza; a beleza e a biodiversidade; e, por fim, o facto de possuírem parque infantil. Monsanto peca pela distância (embora não muito).

O que estes cinco jardins têm em comum é acolherem quem habita em zonas com pouca cobertura verde. “Verificámos que os residentes não têm igual acesso aos espaços verdes, devido à distribuição desigual dos mesmos dentro da cidade”, diz à Time Out a bióloga e investigadora do cE3c Ana Catarina Luz, responsável pelo inquérito. As “pessoas que vivem em áreas residenciais com mais área verde e com maior densidade verde, frequentam na sua maioria os espaços verdes da sua área, enquanto que aqueles que residem em zonas com pouca área verde, optam por sair da sua zona e muitas vezes visitar os jardins mais emblemáticos da cidade (Gulbenkian, Estrela, Campo Grande, Parque Eduardo VII ou Monsanto), sobrecarregando assim estes lugares, ou os adjacentes à área de residência.”

Feito em colaboração com a Câmara de Lisboa no âmbito do projecto europeu Green Surge e do Plano de Ação Local para a Biodiversidade 2020, o inquérito serviu ainda para identificar as zonas com maior cobertura verde. Contabilizando apenas grandes parques, jardins, miradouros, praças e cemitérios, as áreas postais 1500 (Benfica e São Domingos de Benfica, 50% de cobertura verde), 1300 (Alcântara e Ajuda, 45%) e 1400 (Ajuda e Belém, 41%) são as que ficam mais bem posicionadas neste levantamento.

As áreas postais 1170 (Arroios e São Vicente de Fora), 1150 (Arroios e Santa Maria Maior) e 1200 (Misericórdia e Santo António) são as que têm a menor cobertura verde da cidade, com valores que variam entre os 1% e 5%. Ana Catarina Luz entende que “proporcionar cobertura verde (e biodiversidade que suporta diversos benefícios provenientes dos ecossistemas) aos residentes das zonas menos favorecidas é uma questão de justiça ambiental, pelo que pode ser considerado uma prioridade”. A bióloga sublinha, no entanto, que “não é só importante ter disponível área verde ou um elevado número de espaços verdes, mas também a qualidade dos mesmos e a variedade de usos e benefícios ecológicos e sociais que oferecem à população”.

Ana Catarina Luz espera “que estes resultados possam apoiar o planeamento da estrutura verde das cidades mediterrânicas no geral, e de Lisboa em particular”. Os dados recolhidos no inquérito – a divulgar brevemente numa publicação científica – ainda não estão integralmente tratados, o que pode trazer novas conclusões: “Quais os elementos mais atractivos nos espaços verdes de Lisboa, como percepcionam as pessoas a biodiversidade, entre outros”. Pode ir acompanhando online o trabalho que o cE3c está a fazer sobre a biodiversidade nas cidades, no UrbanLab.

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