[title]
Quando em 2019 anunciámos o fecho da loja histórica Casa Pereira, no Chiado, multiplicaram-se as reacções e os lamentos. As suspeitas de que ali aparecesse mais um hotel ou um alojamento local encheram as caixas de comentários. Sabia-se apenas que a loja mudaria de ramo e que fechava por opção da família que sempre ali havia feito vida. Há pouco tempo, descobrimos que seria o Castro – Atelier de Pastéis de Nata a instalar-se no número 38 da Rua Garrett. A casa que abriu primeiro no Porto está a funcionar em Lisboa há pouco mais de um mês e não quer ser mais um sítio de pastéis de nata. A ambição é ter o melhor pastel de nata, feito com os melhores produtos, num espaço elegante que se esforçou por manter a memória do passado.
Na montra, já não há garrafas de vinho do Porto, chás e cafés, bolachas e outras lambarices. De um lado as pernas de uma menina mergulhada num grande pastel de nata e do outro as pernas saídas do dito, qual Alice no País das Maravilhas que, em vez de cair na toca do coelho, optou por se afundar num bolo (quem nunca?). A ideia é da artista Joana Astolfi, que já nos deu algumas das montras mais criativas na cidade. Ao entrar, sobressaem os tons dourados e a mármore, mas são os pastéis de nata dispostos no balcão que brilham. Ao fundo, a cozinha, onde é possível acompanhar todo o processo de produção. As fornadas não têm hora marcada, vão saindo conforme a procura, precisamente para garantir que os pastéis estão sempre no seu melhor ponto – uma tarefa árdua que marca a diferença, defende o chef pasteleiro Daniel Seixas. “Não dá para fugir muito da base da receita. A diferença marca-se pela cozedura bem executada, sem prejudicar a consistência do creme, a textura da massa”, explica.
Quando pensou nesta casa, Rui Sanches, fundador do grupo de restauração Plateform, que detém a Castro, sabia o que queria: “Um pastel de nata que não fosse muito doce, com a massa fosse fina e leve”. “Deu-me carta branca para usar os ingredientes que quisesse, e aqui só usamos do bom e do melhor”, continua por seu lado o chef pasteleiro, que deixou Londres, onde também se dedicava à pastelaria portuguesa, para se lançar nesta empreitada. Por estes dias, é Daniel quem está na cozinha, mas o chef divide-se pelas duas casas – a do Porto abriu em 2019, na Rua de Mouzinho da Silveira, e foi um sucesso imediato.
Em Lisboa, não tem sido muito diferente, apesar do contraste entre Dezembro e Janeiro. No mês do Natal, as ruas do Chiado voltaram a encher-se como há muito não acontecia. Agora está mais calmo. Ainda assim, há sempre um entra-e-sai da loja, seja de curiosos que querem não só provar o pastel de nata como perceber como ficou a Casa Pereira, seja de clientes que se vão tornando habituais.
No espaço, há três mesas, além de ser possível comer junto à cozinha, e o pastel de nata (1,10€) tanto pode ser acompanhado pelo rotineiro café (0,80€), ou por um chocolate quente (2,80€), como por um cálice de vinho do Porto (5,50€) ou uma ginjinha (1,80€).
Como não poderia deixar de ser numa casa destas, também é possível comprar caixas de meia dúzia de pastéis de nata (6,50€). E nem aí se poupou: as embalagens e os sacos foram cuidadosamente pensados para um produto que quer ser premium. E mais importante, garante o chef pasteleiro: todos os pastéis são feitos para continuarem a saber bem no dia a seguir, da crocância da massa ao recheio cremoso.
Rua Garrett, 38 (Chiado). Seg-Dom 09.00-21.00
+ “Já tínhamos o Rui Costa a dar nome à Damaia, agora temos o pastel de nata”
+ Pode um hotel de cinco estrelas abrigar uma tasca? Pelo menos no espírito