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OUT.RA: dez anos de música à margem

Luís Filipe Rodrigues
Editor
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A associação cultural barreirense OUT.RA, que organiza o OUT.FEST, celebra dez anos no sábado, com um concerto na ADAO.

Dez anos é muito tempo. Sobretudo para uma associação cultural como a OUT.RA. Mais ainda numa cidade periférica como o Barreiro. Mas os organizadores do OUT.FEST não só se têm aguentado como têm crescido, a todos os níveis. E levado novos públicos à sua terra natal.

“Olhando de relance para estes dez anos parece-me quase miraculoso”, reconhece Rui Pedro Dâmaso, um dos fundadores. “Mas criámos um público. E sentimos que ajudámos a descobrir o Barreiro. A mostrá-lo a pessoas que são de fora e mesmo a pessoas que são de dentro. Porque, como não temos um sítio próprio para fazer concertos, vamos dando a conhecer espaços novos aos barreirenses e não só. Já fizemos coisas em mais de 40 sítios diferentes nestes dez anos. Ou 15, desde o início do OUT.FEST.”

Não é por acaso que o festival de música exploratória OUT.FEST é referido uma e outra vez. “Eu e o Vítor [Lopes] temos uma amizade muito longa e centrada à volta da música”, começa por explicar Rui. “Descobrir música, tocar música, editar música”, interrompe Vítor. “Em 2004, ele tinha acabado o curso de técnico de som estava a estagiar num espaço municipal lá no Barreiro que era o El Matador, ou o Espaço B. E como tínhamos aquela sala decidimos fazer um festival”, continua Rui.

“Fizemos cinco edições de uma forma mais informal e achámos que se calhar fazia sentido ter alguma coisa formal para associar ao nosso trabalho”, diz Dâmaso. “Para dar mais força ao festival, concorrer a apoios e assim. Era necessário para crescermos. Tanto que o próprio nome, OUT.RA, vem do OUT.FEST.” Vítor desenvolve: “E porque o Barreiro é uma terra de associações e nós éramos mais outra.”

Hoje, o trabalho da associação, que emprega três pessoas a tempo inteiro e outras três em part-time, vai muito além do OUT.FEST e dos concertos que organizam no Barreiro. “Temos o projecto Unearthing The Music, co-financiado pelo [programa] Europa Criativa, que é um levantamento de música experimental nos regimes não-democráticos europeus. Vai durar pelo menos até 2020 e temos parceiros formais na Letónia, na Roménia, na Hungria, na Sérvia. É um projecto de grande fôlego”, explica Rui. 

“E temos uma bolsa de criação desde 2015, que é suposto ser atribuída a um artista barreirense emergente”, continua. “Para que as pessoas que têm alguma coisa para dizer enquanto artistas tenham um estímulo para continuarem a fazer o seu trabalho no Barreiro e perceberem que há quem os queira levar a sério. E possa levar a sério.” Há ainda o projecto Cidade Som, “dedicado à documentação sonora do concelho do Barreiro e cujo site próprio será lançado em Fevereiro, e no âmbito do qual serão anunciadas em breve duas residências artísticas internacionais”.

É isso tudo que se vai celebrar este sábado, no espaço da ADAO – Associação Desenvolvimento Artes e Ofícios, que nos últimos anos se tem revelado uma parceira importante da OUT.RA. O destaque vai para o concerto da banda de stoner rock barcelense Black Bombaim, com quem a associação tem uma longa relação. Serão acompanhados pelo saxofonista Pedro Sousa, outro antigo cúmplice. Antes, há um DJ set do colectivo Linha Amarela. “Os três músicos que vão estar no DJ set foram os que ganharam a nossa bolsa este ano”, diz Rui, orgulhoso. “São miúdos em que a gente vê potencial.”

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