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A mais recente novidade do percurso expositivo do Palácio Nacional de Queluz não só é rara como é misteriosa. Trata-se de um pagode chinês em marfim, madeira e osso que, ao fim de mais de dois séculos de existência, continua a desafiar os investigadores. Sabe-se que foi produzido durante a dinastia Qing, entre finais do século XVIII e inícios do século XIX, e pertenceu à rainha D. Carlota Joaquina, tendo integrado o recheio do seu Palácio do Ramalhão, em Sintra. Mas, de acordo com a Parques de Sintra – Monte da Lua, a forma como lá foi parar, essa, “permanece um mistério”.
A primeira transferência, do Palácio do Ramalhão para o Palácio Nacional de Sintra, deu-se 20 anos após a morte da rainha D. Carlota Joaquina, em 1850, por ordem da sua neta, a rainha D. Maria II. “Mais de 150 anos depois, a vida desta peça, que é a única conhecida em Portugal com estas características e dimensões, entra numa nova etapa, agora no Palácio Nacional de Queluz”, lê-se em comunicado da empresa responsável pela gestão da maior parte das principais propriedades da zona de Sintra.
Na mesma nota, a Parques de Sintra refere ainda como, fruto dos privilegiados contactos de Portugal com o Oriente, o Palácio Nacional de Queluz foi, desde meados do século XVIII, “um importante repositório de porcelanas, têxteis, lacas e outras peças descritas em documentos da época”. Infelizmente, na sequência de muitas vicissitudes históricas, hoje pouco resta dos objectos orientais mencionados nos inventários, razão por que é tão importante a exposição do pagode, em regime de depósito.
“Permite evocar uma componente do gosto cortesão que marcou a vivência real de Queluz”, esclarece-se. “Simultaneamente, reforça-se a ligação da peça à rainha D. Carlota Joaquina, colocando-a numa sala que comunica visualmente, tanto com a divisão onde se encontra o grande retrato da monarca, da autoria de João Baptista Ribeiro, como com a Sala de Jantar, cuja mesa exibe um serviço de porcelana inglesa decorado com as iniciais CJPB (Carlota Joaquina Princesa do Brasil), oriundo também do Ramalhão.”
![Pagode chinês no Palácio Nacional de Queluz](https://media.timeout.com/images/105879118/image.jpg)
Constituído por vários templos, ladeados por duas torres em forma de pagode, a peça trata-se, na verdade, de um conjunto arquitectónico em miniatura, com estrutura em madeira integralmente revestida a marfim e osso. Desenvolvendo-se numa sucessão de planos, intercalados por pátios, jardins e escadarias, inclui ainda figuras humanas, animais e árvores, bem como outros elementos decorativos, como pequenas sinetas suspensas nas extremidades dos telhados. Protegida por uma estrutura de época em madeira envidraçada, que se adapta à volumetria dos três corpos principais, a obra assenta numa base com colunas clássicas em mogno.
Existem vários conjuntos deste tipo em colecções públicas e privadas de todo o mundo, nomeadamente no Museu Nacional de Artes Asiáticas – Guimet, em Paris, França, mas este pagode, agora em exposição no Palácio Nacional de Queluz, destaca-se pela dimensão das suas torres. De todos os exemplares congéneres conhecidos, as suas são as mais elevadas, atingindo quase os dois metros de altura. Para o transporte da peça, de um palácio para outro, foi preciso desmontá-la, desafio para o qual a Parques de Sintra contou com a colaboração do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
“A necessidade de dar continuidade ao estudo desta peça motivou também uma parceria com o Centro Científico e Cultural de Macau, a quem a Parques de Sintra solicitou apoio no levantamento e tradução de diversas inscrições gravadas nas placas de marfim que compõem o pagode. O seu conteúdo poderá revelar novas pistas e, finalmente, desfazer o mistério que subsiste até hoje quanto à datação e ao motivo da entrada desta peça nas colecções reais”, adianta-se, desvendando ainda a teoria, ainda por provar, de que a peça foi uma oferta do Senado de Macau.
Se estiver curioso e com vontade de ver o pagode chinês de perto, pode visitar o Palácio Nacional de Queluz de segunda-feira a domingo, entre as 09.00 e as 18.00. Os bilhetes variam entre os 8,50€ e os 33€.
Palácio Nacional e Jardins de Queluz (Sintra). Seg-Dom 09.00-18.00 (palácio) e 09.00-18.30 (jardins). Desde 8,50€.