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Pagode chinês em marfim é a nova atracção do Palácio de Queluz

É a única peça conhecida em Portugal com determinadas características e dimensões cuja origem continua incógnita.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Pagode chinês em marfim no Palácio Nacional de Queluz
Fotografia: José Marques SilvaPagode chinês em marfim no Palácio Nacional de Queluz
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A mais recente novidade do percurso expositivo do Palácio Nacional de Queluz não só é rara como é misteriosa. Trata-se de um pagode chinês em marfim, madeira e osso que, ao fim de mais de dois séculos de existência, continua a desafiar os investigadores. Sabe-se que foi produzido durante a dinastia Qing, entre finais do século XVIII e inícios do século XIX, e pertenceu à rainha D. Carlota Joaquina, tendo integrado o recheio do seu Palácio do Ramalhão, em Sintra. Mas, de acordo com a Parques de Sintra – Monte da Lua, a forma como lá foi parar, essa, “permanece um mistério”.

A primeira transferência, do Palácio do Ramalhão para o Palácio Nacional de Sintra, deu-se 20 anos após a morte da rainha D. Carlota Joaquina, em 1850, por ordem da sua neta, a rainha D. Maria II. “Mais de 150 anos depois, a vida desta peça, que é a única conhecida em Portugal com estas características e dimensões, entra numa nova etapa, agora no Palácio Nacional de Queluz”, lê-se em comunicado da empresa responsável pela gestão da maior parte das principais propriedades da zona de Sintra.

Na mesma nota, a Parques de Sintra refere ainda como, fruto dos privilegiados contactos de Portugal com o Oriente, o Palácio Nacional de Queluz foi, desde meados do século XVIII, “um importante repositório de porcelanas, têxteis, lacas e outras peças descritas em documentos da época”. Infelizmente, na sequência de muitas vicissitudes históricas, hoje pouco resta dos objectos orientais mencionados nos inventários, razão por que é tão importante a exposição do pagode, em regime de depósito.

“Permite evocar uma componente do gosto cortesão que marcou a vivência real de Queluz”, esclarece-se. “Simultaneamente, reforça-se a ligação da peça à rainha D. Carlota Joaquina, colocando-a numa sala que comunica visualmente, tanto com a divisão onde se encontra o grande retrato da monarca, da autoria de João Baptista Ribeiro, como com a Sala de Jantar, cuja mesa exibe um serviço de porcelana inglesa decorado com as iniciais CJPB (Carlota Joaquina Princesa do Brasil), oriundo também do Ramalhão.”

Pagode chinês no Palácio Nacional de Queluz
Fotografia: José Marques SilvaPagode chinês em madeira, marfim e osso no Palácio Nacional de Queluz

Constituído por vários templos, ladeados por duas torres em forma de pagode, a peça trata-se, na verdade, de um conjunto arquitectónico em miniatura, com estrutura em madeira integralmente revestida a marfim e osso. Desenvolvendo-se numa sucessão de planos, intercalados por pátios, jardins e escadarias, inclui ainda figuras humanas, animais e árvores, bem como outros elementos decorativos, como pequenas sinetas suspensas nas extremidades dos telhados. Protegida por uma estrutura de época em madeira envidraçada, que se adapta à volumetria dos três corpos principais, a obra assenta numa base com colunas clássicas em mogno.

Existem vários conjuntos deste tipo em colecções públicas e privadas de todo o mundo, nomeadamente no Museu Nacional de Artes Asiáticas – Guimet, em Paris, França, mas este pagode, agora em exposição no Palácio Nacional de Queluz, destaca-se pela dimensão das suas torres. De todos os exemplares congéneres conhecidos, as suas são as mais elevadas, atingindo quase os dois metros de altura. Para o transporte da peça, de um palácio para outro, foi preciso desmontá-la, desafio para o qual a Parques de Sintra contou com a colaboração do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

“A necessidade de dar continuidade ao estudo desta peça motivou também uma parceria com o Centro Científico e Cultural de Macau, a quem a Parques de Sintra solicitou apoio no levantamento e tradução de diversas inscrições gravadas nas placas de marfim que compõem o pagode. O seu conteúdo poderá revelar novas pistas e, finalmente, desfazer o mistério que subsiste até hoje quanto à datação e ao motivo da entrada desta peça nas colecções reais”, adianta-se, desvendando ainda a teoria, ainda por provar, de que a peça foi uma oferta do Senado de Macau.

Se estiver curioso e com vontade de ver o pagode chinês de perto, pode visitar o Palácio Nacional de Queluz de segunda-feira a domingo, entre as 09.00 e as 18.00. Os bilhetes variam entre os 8,50€ e os 33€.

Palácio Nacional e Jardins de Queluz (Sintra). Seg-Dom 09.00-18.00 (palácio) e 09.00-18.30 (jardins). Desde 8,50€.

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