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Foi numa sala cedida pelo Hotel Mundial, em que as cadeiras acabaram por não chegar para sentar as mais de 150 pessoas que compareceram, que a vereadora Joana Almeida, independente eleita pela Coligação Novos Tempos, fez uma breve apresentação do novo Martim Moniz, referindo que, sendo este um projecto "que resulta da participação pública, para se saber o que as pessoas querem, se espera o seu maior sucesso em relação a anteriores". "Um jardim para o mundo" é o nome da proposta vencedora de um concurso em que entraram 21 gabinetes com projectos para construir "o" jardim do centro da cidade histórica.
Numa também breve intervenção, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, do PS, depois de dar os parabéns ao projecto, relembrou que foi naquela mesma sala que, em Novembro de 2018, se convocou uma reunião pública na sequência de ele próprio se ter recusado a dar aval aval ao "projecto dos contentores". "A praça é gerida pela Câmara e no nosso entender não é bem gerida, por isso disponibilizamo-nos para a gerir", rematou, na única farpa da sessão, que recebeu fortes aplausos.
Passada a palavra ao atelier Filipa Cardoso de Meneses & Catarina Assis Pacheco – Arquitectura Paisagista, Catarina Assis Pacheco apresentou uma série de slides com gráficos, cartas e fotos sobre as condicionantes do território em causa: uma praça que é uma ilha de calor e ruído, rodeada de carros e transportes, paragens, pessoas e com poucas passagens de atravessamento de peões. Um centro árido, sem sombras e com falta de sítio para sentar. Um subsolo com um parque de estacionamento. É esta a zona da cidade que os moradores querem que seja um jardim. Este é também um território que já teve hortas, fértil devido à ribeira que ali passava, e uma zona urbana cheia de história, com troços de Muralha Fernandina e com a Torre da Péla. Foi destas condicionantes que surgiu um tema director do projecto: revelar a história, resgatar o vale fértil.
Para permitir criar o jardim, o que será feito é reduzir a inclinação norte-sul da praça, aterrá-la, e assim conseguir solo com profundidade suficiente para plantar. Para isso, torna-se necessário reforçar a laje sobre o estacionamento. "O enchimento de solo por cima das lajes é o que está a dar mais dores de cabeça ao nosso engenheiro de estruturas", diz Catarina Assis Pacheco. A laje é também usada para recolher e levar as águas pluviais e sobrantes de rega para uma cisterna que alimenta o jardim, no topo sul, que é rematado com um muro de suporte, de contenção.
A praça será maioritariamente pedonal. O trânsito ficará circunscrito à Rua da Palma, com duas faixas bus e duas de trânsito privado, e frente ao Hotel Mundial é criada uma rotunda/apeadeiro onde se situam as paragens de transportes públicos, com uma pérgula para tornar a espera mais confortável, e saídas do parque de estacionamento. Esta rotunda permitirá também que se mantenham os carvalhos que ali foram plantados e que se desenvolveram muito bem. O nó a norte está ainda por desenhar em pormenor, uma vez que a Câmara tem em curso uma consulta pública para a requalificação da Almirante Reis. Dependendo dos resultados dessa consulta é que se saberá como é que a Almirante Reis entra na praça, número de faixas, localização das ciclovias e do parque de GIRAS.
A criação de umas escadas rolantes na colina de Santana, ao lado da Torre da Péla, frente às das Escadinhas da Saúde, vai permitir o atravessamento de uma colina para a outra e dar mais protagonismo à torre (que a vereadora garantiu no final da sessão que a Câmara tem intenção de reabilitar). Daí e da praça, está pensado um sistema de vistas que permita ver o castelo e a Torre de São Lourenço. No jardim, além do coberto arbóreo, que triplica, existirá uma cafetaria semi-enterrada (por causa do sistema de vistas), com sanitários, um jardim infantil e uma zona de anfiteatro virada para a colina do castelo.
"O mundo inteiro cabe aqui"
Resgatar o vale fértil é o grande desafio. "O tema do solo vivo é o grande tema desta intervenção", diz a arquitecta Filipa Cardoso de Meneses, que teve a seu cargo explicar a forma como quiseram construir este sistema sustentável. "É o solo vivo que permite o arrefecimento da temperatura da praça, a permeabilidade do solo, a biodiversidade. É a estrutura verde que protege do ruído da Rua da Palma e assegura questões de segurança". "O mundo inteiro cabe aqui" é outra frase do projecto e Filipa Cardoso de Meneses nomeia: "diversidade de solos, de estratos de vegetação, de pessoas, de imaginários". "Queremos um novo jardim verdadeiramente enraizado e em que as pessoas possam participar como voluntárias para a sua manutenção. Queremos muito este envolvimento de todos", acrescentou, enquanto passava slides com as espécies de árvores previstas no projecto e as nomeava. Ao lado de autóctones como o sobreiro, a oliveira, a amendoeira, o carvalho, o amieiro, vamos ter árvores de África, América do Sul e Ásia que convivem bem com estas, como a bananeira, a salsicheira de Moçambique, jacarandás, gingkos, coraleiras, magnólias.
Nas intervenções do público, surgiu uma proposta de criação de um centro interpretativo do sistema defensivo neste local (constituído pela Muralha Fernadina e a Torre da Péla), propôs-se o melhoramento da acessibilidade do Metro, surgiram dúvidas sobre perda de lugares de estacionamento (perde 3% a 4% do parque para criação da cisterna, mas o parque tem lugares ociosos, esclareceram as arquitectas) e ainda dúvidas sobre problemas sociais fora do âmbito do projecto a que a vereadora respondeu dizendo que a Câmara está a trabalhar numa intervenção social.
A encerrar a sessão, a vereadora Joana Almeida apontou os próximos passos: em Março uma exposição no Martim Moniz de todos os projectos que concorreram, em Junho nova reunião pública. "Há um grande empenho na obra feita. Pretendemos que toda a obra seja concluída em 2026. Estou a ouvir uns risos...", disse, com algum humor. "Câmara e Junta acreditamos muito neste projecto e este lema do jardim do mundo é muito importante para nós", concluiu.
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