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‘Pátio da Saudade’: novo filme de Leonel Vieira é “uma reconciliação com o passado”

Leonel Vieira realiza mais um filme com pátio no título, mas esta história é nova. A rodagem passou pelo Campo de Santa Clara e a Time Out falou com alguns dos protagonistas.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Sara Matos
©Ana BentoSara Matos, em 'Pátio da Saudade'
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Numa daquelas tardes de Lisboa em que os termómetros superam os trinta graus, só à sombra era possível juntar um mais dois. Falamos claro do comum dos mortais, porque toda a equipa técnica e artística de Pátio da Saudade trabalhava à luz dos quentes raios de sol, horas a fio. É este o último projecto de Leonel Vieira, autor desta comédia musical que revisita um género hoje pouco utilizado no cinema português, ao mesmo tempo que faz a ponte entre o teatro de revista e os musicais dos dias de hoje.

“Vamos juntar estes dois mundos”. Em conversa com os jornalistas nesta tarde de rodagem, Leonel Vieira pouco escondeu sobre o enredo a caminho das salas portuguesas no próximo ano. O elenco por vezes cruza-se com a adaptação de Pátio das Cantigas (2005) de Leonel Vieira, com destaque para a participação de Sara Matos, agora protagonista. Aqui, interpreta Vanessa, uma popular actriz de televisão que “está há três anos no ar com uma sitcom”. Mas nem tudo são rosas e a popularidade não é directamente proporcional à felicidade, uma espécie de espelho da realidade que Vieira diz conhecer tão bem. “Eu trabalho com actores há 30 anos e tenho muitos amigos a quem isto acontece: às vezes os projectos que lhes pagam as contas, que lhes dão mais visibilidade, não são os que lhes dão mais retorno artístico, mais satisfação pessoal. E esta actriz tem este problema”, diz. O que a personagem também tem são dois amigos que trabalham com ela na sitcom: a Joana, interpretada por Ana Guiomar, e o Ribeiro, interpretado por Manuel Marques (que também passou pelo Pátio das Cantigas), que completam “o triângulo que conta esta história”.

Sara Matos, Ana Guiomar e Manuel Marques, em 'Pátio da Saudade'
©Ana BentoSara Matos, Ana Guiomar e Manuel Marques

Pátio da Saudade marca também o regresso de José Pedro Vasconcelos à ficção, quatro anos após a minissérie da RTP O Atentado. O actor (e mais um nome de Pátio das Cantigas) veste o papel de Tozé Leal, o agente de Vanessa que Leonel Vieira caracteriza como “um grande vendedor de feira que vende até a própria mãe”.

Resumindo e baralhando, todos estes personagens não gostam do teatro de revista, mas “ironia do destino”, Vanessa herda um enorme teatro abandonado, de uma abastada tia-avó do Porto, que outrora foi uma “grande dama da revista à portuguesa”, que define uma condição no testamento: a herdeira tem que realizar um espectáculo de revista no prazo de um mês. Na história chama-se Teatro Dona Amélia e, no mundo real, pelo menos a fachada pertence ao Palácio Sinel de Cordes, no Campo de Santa Clara.

“Aí começa a nossa história de como é que este grupo de amigos consegue resolver esta equação, de montar um espectáculo musical de uma revista e conseguir salvar o teatro e herdar o teatro”, explica Leonel Vieira, que é o produtor, realizador e o co-argumentista desta história escrita a várias mãos. As outras são de Alexandre Rodrigues e o Manuel Prates, também guionistas da série O Crime do Padre Amaro, e ainda de Aldo Lima, mais um dos actores do elenco de Pátio das Cantigas que, desta vez, “queria muito participar numa colaboração de escrita”.

“Precisamos de alguma reconciliação com o passado”

Leonel Vieira diz que esta é "talvez a primeira comédia musical dos tempos de hoje", uma ideia que surgiu há já oito anos, em que também se fala do país sem o objectivo de fazer uma "radiografia social". Para o cineasta, a produção tem uma "identidade nacional" e também local (de Lisboa, claro) que revela como funciona o meio artístico. "Toda a gente que conhece o meio vai ver aquilo e vai reconhecer. E os que não conhecem, que é o grande público, vão gostar de viajar porque descobrem como é que esta fauna funciona", explica. Uma viagem em que os protagonistas “vão-se reencontrando com o passado e acabam por gostar”. “Eles trazem gente que era do teatro de revista, acabam por se reconciliar com eles, por lhes dar trabalho e por fazer um grupo em comunhão com o passado e o presente”, revela Leonel Vieira, que faz a ligação para a realidade. “Eu conheço as dores e as manias de toda a nossa gente e acho que nós precisamos de alguma reconciliação com o passado. Somos um país pequeno, com um grupo pequeno, mas que nos damos todos muitas vezes mal. E, portanto, nós precisamos de alguma reconciliação”, defende. Além dos protagonistas, o elenco tem muitas participações especiais, com grandes figuras da nossa praça a fazer pequenas participações, como testemunhamos com a presença de Luís Mascarenhas neste dia de rodagem.

José Pedro Vasconcelos
©Ana BentoJosé Pedro Vasconcelos, em 'Pátio da Saudade'

A Time Out perguntou ainda a Sara Matos – que não só representa, como canta e dança nesta nova produção – o que poderá convencer o público a comprar bilhete para o cinema e ver este filme no próximo ano: “Para além de ser comédia – e eu acho que isso puxa muito as pessoas, ser uma comédia leve e refrescante – junta o canto e a dança [...] E também pelo que o Leonel nos pede, estamos muito fixados em querer passar a verdade através da comédia.”

Após a estreia em sala, o Pátio da Saudade irá, passados “uns meses”, estrear na RTP1 em formato série, diz à Time Out o director de programas do canal público, José Fragoso, e “depois, passado um ano, estreamos o filme”.

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