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Faz dentro de alguns meses 70 anos que foi inaugurado o Cinema Alvalade, um projecto dos arquitectos Lima Franco e Filipe de Figueiredo, que apresentava a rara particularidade de ter sido concebido em função do Bairro de Alvalade, integrando-se assim de forma harmoniosa na estética da área urbana que o envolvia e para servir os seus moradores. O filme de abertura, projectado a 8 de Dezembro de 1953, falava português: O Cangaceiro, de Lima Barreto, que havia sido premiado no Festival de Cannes desse ano.
O Alvalade tinha capacidade para 1.485 espectadores e dispunha de cinco foyers, três dos quais com bar. Uma das paredes estava decorada com um mural da artista Estrela Faria, representando uma alegoria à Sétima Arte. Tinha uma programação cuidada, exibindo muitos filmes americanos mas sem esquecer o cinema europeu, em especial o francês e o italiano, e durante muitos anos, estreou em simultâneo com o São Luiz. Ficaram famosas entre as crianças do bairro (e não só) as sessões especiais de Carnaval destinadas aos mais pequenos, em que eram distribuídos gratuitamente à entrada sacos com serpentinas e papelinhos, bem como as matinés infantis aos fins-de-semana.
Como aconteceu à maior parte dos cinemas do seu tipo em Lisboa, o Alvalade começou a entrar em decadência nos anos 80, com o advento das telenovelas, a implantação do vídeo nos lares, o aparecimento das salas multiplex e as alterações urbanas e nos hábitos culturais dos lisboetas. Fechou em 1985 e foi, sucessivamente, arrendado à IURD e ao PCP, e a seguir funcionou brevemente como sala de concertos. Em 2003, faz agora 20 anos, o Cinema Alvalade foi demolido. No seu lugar encontra-se agora um prédio que inclui um complexo de quatro salas de cinema, cujo nome, City Classic Alvalade, recorda e homenageia o cinema original. Continua lá, devidamente preservado, à direita de quem entra, o mural de Estrela Faria.
Coisas e loisas de outras eras:
+ A papelaria que passou por três séculos
+ O velho mercado de Campo de Ourique