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A localização não é um acaso, embora tenha sido praticamente um golpe de sorte. Ao passear na zona, onde têm os filhos no Liceu Francês, Sandra Castro e Pedro Oliveira viram num empreendimento prestes a nascer o espaço perfeito para dar forma ao sonho de criarem um negócio próprio. O casal, vindo de França há cerca de três anos, sentia falta de uma pastelaria à boa maneira francesa. Apesar de virem de áreas completamente distintas – ela trabalhava numa universidade em Paris, ele numa startup –, atiram-se de cabeça e criaram a BomBom Pâtisserie, em Campolide. O espaço é amplo e bonito, colorido e contemporâneo. Na montra, saltam imediatamente à vista as cores dos choux e das finas tartes de assinatura, além dos croissants e dos pains au chocolat.
A aproximação à pastelaria começou com Sandra, quando na mudança para Portugal se decidiu aventurar de forma autodidacta, já depois de ter feito um curso de pastelaria em Cannes. “Durante um ano fiz bolos para fora, para aniversários, eventos”, conta à Time Out. “Ela começou com amigos e muito rapidamente passou disso. Por isso é que estávamos à procura de um espaço, esse primeiro ano confirmou que existia procura”, acrescenta Pedro. “No início, a minha vontade era ter um negócio mais pequeno, comigo a fazer os bolos, mas um dia passei por aqui para vir ter com o Pedro, que costumava trabalhar num cowork perto, e vi este prédio novo com espaços. Mesmo na nossa zona”, entusiasma-se a recordar. “Falei com ele e foi assim que começou.”
Para responder à exigência que um espaço maior impõe, porém, o casal percebeu que precisava de ajuda de alguém que dominasse a área. No Instagram, praticamente na mesma semana, Sandra encontrou Juliette Bayen, chef de pastelaria brasileira, com muitos anos de trabalho em França, onde frequentou também a École Ducasse. “A Sandra falou-me da chef, mostrou-me o Instagram dela e adorámos as suas criações”, destaca Pedro.
Juliette Bayen já tinha vivido em Portugal, antes de se mudar para Paris. Voltou há cinco anos. “Vim para cá e abri um negócio de pastelaria por encomenda, através do meu site. Tinha o meu próprio atelier e estava sempre a fazer novas inspirações. Cresceu bastante e foi assim que eles chegaram a mim e me falaram desse projecto. No começo, entrei como consultora e a ideia era criar o menu e as receitas e pensar na estratégia, mas depois acabei aceitando entrar como chef”, revela Bayen, numa pequena pausa da cozinha.
“Foi o sítio certo, o momento certo, com a pessoa certa”, acredita Pedro, lembrando que quando os três se sentaram pela primeira vez não havia nem um plano de negócio. “Não tínhamos nada, só a ideia e a convicção de que há procura. Sentíamos que faltava essa oferta e tivemos a sorte de conseguir um alinhamento total com a chef”, diz Pedro, confiante no valor daquilo que criou. “Queremos mesmo que seja uma pâtisserie francesa como se estivéssemos em Paris”, defende, explicando que foi com a ajuda do StudioBom, também de franceses a viver em Lisboa, que conseguiram chegar ao desenho final do espaço. “Os arquitectos não estavam a conseguir dar a cor e a vida que queríamos. Queríamos algo contemporâneo porque achamos que muitas vezes quando se fala em pâtisserie francesa as pessoas pensam numa coisa mais clássica, mais barroca e nós queríamos que fosse cosmopolita”, continua.
Tanto Pedro como Sandra fazem questão de dizer uma e outra vez que apesar da identidade bem definida, a BomBom Pâtisserie é um espaço para todos e não apenas para a comunidade francesa. “Em Paris, é na pâtisserie que os vizinhos e toda a gente se encontra e eu estou muito contente porque desde o primeiro dia que temos tido uma vida de bairro aqui. O nosso objectivo sempre foi esse, não foi ir para a Baixa e ser mais um restaurante ou pastelaria para turistas. Isto foi mesmo pensado pela Sandra e o Pedro como clientes, é o que nós gostamos e procuramos”, afirma o lusodescendente.
À chef o desafio lançado foi o de criar uma pastelaria fina de qualidade. “Os nossos bolos são muito bonitos visualmente, mas são muito bons também”, defende Sandra. E acrescenta Pedro: “Sabemos que é produto de qualidade. São os produtos que nós gostaríamos de comer.” Para Juliette Bayen nem há outra forma de trabalhar. “Procuramos a excelência e a perfeição. Vê-se nos nossos folhados, por exemplo, que a manteiga é excelente, os folhados são feitos com muito cuidado. Fazemos tudo de forma artesanal, tudo é feito aqui, é tudo fresco”, garante a chef, para quem a “excelência é ter croissant e pain au chocolat perfeitos”. “As tartes também. É tudo feito à mão, só usamos produtos frescos. Não há nada de leite condensado, coisas em conserva ou isso”, exemplifica.
Os choux (3€) são uma das grandes apostas da casa, delicados e recheados com diferentes sabores, como café, lima, framboesa, maracujá ou chocolate, seguindo-se os croissants (2€) e os pains au chocolat (2,20€). Há cookies (2,90€-3€) e bicuits (6€, de chocolate, baunilha ou parmesão). E depois há as bonitas tartes (32€/4 a 6 pessoas ou 40€/oito pessoas), que tanto podem ser de chocolate com café, como de baunilha, praliné e caramelo salgado – o bestseller do portefólio da chef. Há também opções mais frescas como a tarte que leva creme de limão e merengue de yuzu e framboesa e pistáchio. “Agora, a gente quer trabalhar com as estações. Então, por exemplo, no choux tem um que é sempre da estação. No caso actual é o de laranja. Depois, na Primavera, provavelmente vai passar para morango. É ver a fruta da estação e as criações. A ideia também é logo que puder ter criações novas. Na Primavera, a gente provavelmente vai ter fraisier, que é uma das sobremesas clássicas da pastelaria francesa e que leva morango e por isso não faz sentido estar fazendo agora”, conta Juliette.
Aproveitando a localização e rentabilizando o espaço, o trio apostou ainda em opções práticas para o almoço, muito à volta do pão, vindo da Millstone Sourdough, como as tartines (9,50€-12€), o croque monsieur (10,50€) e as quiches (5,50€). Também há duas opções de tapiocas (9,50€) e duas saladas (8€-9€). Para take-away, há sandes em baguete (6,50€-8,50€). “É um menu com uma fusão francesa, portuguesa e um pouco brasileira”, ri-se Sandra. Em breve, ficará ainda disponível aos sábados um brunch.
E quando o bom tempo chegar, há lugar para duas esplanadas, pensadas à boa maneira parisiense.
Em menos de um mês, Pedro e Sandra não podiam estar mais contentes. Conhecem cada vez mais a vizinhança e já há clientes que se repetem. Agora, esperam só a visita de Mayra Andrade, já que foi a canção “Bom Bom” a inspirar o nome do espaço.
Rua Professor Sousa da Câmara 128, Loja E (Campolide). Seg-Sex 08.00-19.00, Sáb 09.00-17.00