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Primeiro, a 9 de Abril de 2022, assinalaram-se os 80 anos do nascimento de Adriano Correia de Oliveira, cantor de protesto e intérprete crucial do fado de Coimbra. Meio ano depois, a 16 Outubro, tinham passado quatro décadas desde a sua morte. Pelo meio, Paulo Bragança gravou Adriano80, onde recriou temas do repertório de Adriano, e planeou lançar um segundo disco, Adriano40, que só vai ser partilhado com o público este ano. Antes, porém, vamos poder ouvir o fadista e os seus acompanhantes a ensaiarem estas canções na B.O.T.A. As portas abrem às 18.30 desta quinta-feira.
O fadista já apresentou este repertório ao vivo no ano passado, por exemplo no Festival Músicas do Mundo, em Sines, e na Festa do Avante!, no Seixal. E as suas reinterpretações de músicas a que Adriano Correia de Oliveira emprestou a voz foram bem recebidas. No entanto, a actuação desta quinta-feira no B.O.T.A. vai ser substancialmente diferente destes espectáculos. É possível que as canções sejam interrompidas a meio, que sejam tocadas várias vezes e com diferentes roupagens, os músicos vão comunicar e limar arestas à nossa frente, a interacção com o público é encorajada.
Questionado, por e-mail, sobre o que o atraiu neste formato de ensaio aberto, Paulo Bragança é vago. “Decidiu-se este formato pela simples vontade de”, começa por escrever. O texto torna-se críptico, as palavras em português são substituídas por outras, inglesas: “For the sake of it”. OK... As linhas seguintes não fornecem muito mais informação. A dada altura, anuncia que “mesmo num concerto dito tradicional temos os sarcófagos abertos. Naquela determinada urgência do espaço, ali feito, sempre há ensaio aberto, do qual a audiência participa sem saber a dada altura”. Está certo.
Paulo Bragança não precisa de ter razão ou razões para fazer o que faz, subentende-se. Mas há boas razões para o ouvir. Ou pelo menos uma boa razão: Adriano Correia de Oliveira. Há coisa de um ano, nas páginas do Diário de Notícias, Manuel Alegre, autor de alguns dos mais memoráveis poemas que Adriano cantou, descreveu-o como “o mais corajoso de todos os cantores do seu tempo”. Foi também um dos mais importantes. A “Trova do Vento que Passa”, um dos tais poemas de Alegre que ele cantou, foi um hino de luta e resistência à ditadura; assinou as versões definitivas de alguns fados e canções populares; discos como O Canto E As Armas (1969) são verdadeiras obras-primas.
Não foi apenas um grande cantor, nem só um cantor valente e politicamente engajado. Foi isso tudo – segundo o Partido Comunista Português, inscreveu-se no partido assim que fez 18 anos, quando ser comunista significava arriscar couro e cabelo – todavia foi também um divulgador da música que lhe importava, que nos devia importar. Não foi por acaso que integrou o comité organizador da Festa do Avante! do seu PCP desde a primeira edição até que morreu, ou que em 1979 ajudou a fundar a Cooperativa Cantabril com outros músicos, para outros músicos. Esta quinta-feira, na B.O.T.A., as canções que nos legou serão trazidas para aqui e para agora na voz de Paulo Bragança.
B.O.T.A. (Anjos). Qui 18.30. 10€
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