Notícias

Pegada ante pegada pelos projectos BIP/ZIP

O BIP/ZIP chegou a Lisboa há dez anos e são quase 400 os projectos apoiados por toda a cidade desde então. Seguimos as pegadas do novo roteiro, mas não só.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Publicidade

O décimo aniversário do programa BIP/ZIP, de apoio a projectos nos Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária, não se celebra num dia. Isto é festa para durar – e já começou a ser assinalada nos últimos meses com uma série de iniciativas que podem ser acompanhadas no novo site oficial, desde sessões temáticas de debate ao lançamento de concursos de fotografia e vídeo. E também com o Roteiro da Pegada BIP/ZIP, um percurso que destaca dez projectos onde a intervenção BIP/ZIP foi crucial para o território onde estão implementados.

O ponto de partida é o Jardim Mário Soares, no Campo Grande. Este não é um território prioritário, mas é o centro geodésico da cidade, onde foi instalada uma grande placa munida de um código QR que faz a ligação aos territórios onde moram os projectos apoiados pelo programa – todos diferentes, mas igualmente importantes. O desafio é que toda a gente conheça melhor estas comunidades à boleia do BIP/ZIP, que destaca uma dezena dos quase 400 projectos que já apoiou, uns mais conhecidos que outros: Ao Tarujo Eu Vou, Bela Flor Respira, Casa Comunitária da Mouraria, Cozinha Comunitária da Mouraria, Ameixoeira Criativa, Boavista Take-Away, Recriar BPC, ALL TOGETHER, 2 de Maio Todos os Dias | Casa para Todos e Livraria Solidária de Carnide.

Ler é para todos

A Livraria Solidária de Carnide é um bom exemplo da dimensão que pode atingir um projecto BIP/ZIP. Inaugurada em Fevereiro de 2018 num edifício da Santa Casa da Misericórdia, que entretanto abandonou, foi um dos projectos apoiados graças à iniciativa da associação sem fins lucrativos Boutique da Cultura. Hoje a funcionar no pólo cultural da associação, mantém a missão de democratizar o acesso aos livros, disponibilizando um catálogo de publicações oriundas de doações de particulares ou instituições com preços entre 1€ e 5€ – nunca mais, nunca menos. Qualquer pessoa, independentemente da sua área de residência, pode visitar a livraria, assim como doar livros.

Livraria Solidária de Carnide
©Livraria Solidária de Carnide

No primeiro confinamento, o espaço chegou a fechar, mas a equipa resolveu, ainda assim, expandir o negócio. “Com a pandemia tivemos de nos reinventar e acelerar processos que estavam previstos”, começa por contar Paulo Quaresma, presidente da associação. Em Março de 2020, com as portas fechadas, não havia mais do que um Excel “arcaico” onde se listavam os milhares de livros que a livraria tinha à disposição. Hoje, esse documento transformou-se numa livraria online com cerca de 9000 títulos, o que permitiu que a actividade não parasse no segundo confinamento, em Janeiro deste ano.

Mesmo com o espaço físico a funcionar, a loja online continua saudável e todos os dias regista uma média de duas dezenas de encomendas, num total de cerca de 50 livros enviados diariamente para qualquer parte do país – ou do mundo. “Foi um projecto que começou muito de bairro, e de repente passou para uma dimensão de cidade. E neste momento, apesar de manter a vertente física, ganhou esta dimensão muito nacional”, diz Paulo.

Este não foi o primeiro projecto da Boutique da Cultura submetido ao BIP/ZIP – nem será o último. O primogénito foi “Criar mudança através da Arte Urbana”, que apoiou a arte urbana no Bairro Padre Cruz, nomeadamente com visitas guiadas. Depois veio a Livraria Solidária de Carnide, e por último a Oficina Local, um espaço que disponibiliza as mais variadas ferramentas à população. E já têm planos para a próxima edição. “Vamos concorrer com esta perspectiva que faz sentido espalhar a livraria solidária para outros territórios e ajudar a criar uma rede de livrarias solidárias.”

À margem do roteiro, mas no meio da rua

Damos um passo maior do que a pegada para destacar outro projecto BIP/ZIP que não integra o roteiro agora proposto. Chama-se Brincapé e tem fechado ruas da cidade para devolver o espaço público às crianças.

Não é preciso ser muito antigo para ter boas memórias de infância a brincar na rua. Mas o aumento da insegurança e da circulação automóvel foi empurrando as brincadeiras dos mais novos para casa, para os parques infantis vedados ou para o recreio da escola. A criação de uma cidade segura para as crianças foi o mote do projecto Brincapé, que quer que a miudagem tenha um leque mais alargado de oportunidades para brincar, socializar com colegas e vizinhos e dar largas à imaginação.

O projecto também financiado pelo BIP/ZIP, e promovido pela APSI – Associação para a Promoção da Segurança Infantil, tem provado que ainda é possível brincar ao ar livre e em segurança, graças a um conjunto de iniciativas que têm transformado os petizes em reis do asfalto nas freguesias de Santa Maria Maior, Alcântara, Ajuda, São Vicente e Penha de França.

Playstreet na Penha de França
©Junta de Freguesia da Penha de França

Uma das acções chama-se Ruas que Brincam (Schoolstreets) e transforma a rua em frente à escola num recreio ainda maior. Todas as sextas-feiras há uma escola que brinca em segurança – este mês é a vez da EB Rosa Lobato Faria, em São Vicente, uma zona com “graves problemas de mobilidade, onde os carros se apropriam do espaço público”, lamenta Liliana Madureira, coordenadora do projecto que desafia os miúdos a ocupar a rua com bicicletas, trotinetes, patins, skates ou mesmo carrinhos de rolamentos.

O que nos leva à nova iniciativa da Brincapé, chamada Playstreet, que saiu pela primeira vez à rua em Setembro, junto ao Mercado de Sapadores, em parceria com o programa municipal A Rua é Sua. A próxima Playstreet, onde todos podem participar, está marcada para 26 de Junho na Alameda dos Pinheiros, junto ao Palácio da Ajuda, e tem um pouco de história à mistura. O evento chama-se Arreda!, em memória do Infante D. Afonso (irmão mais novo do rei D. Carlos), que andava pelas ruas a alta velocidade com um carro a gritar arreda, arreda!

Não se assuste: a Playstreet será bastante mais segura e desafia à participação com carrinhos de rolamentos. “Os pais pelam-se para experimentar”, diz Liliana Madureira, para quem brincar não tem idade. Os adultos são mesmo uma peça fundamental para o sucesso deste tipo de iniciativas e para estreitar laços dentro da comunidade. A Brincapé também acaba por criar uma “rede dos pais que ficam a conversar sobre soluções, procuram contactos e criam afinidades”, explica a coordenadora.

Mas os especialistas são mesmo as crianças que ajudaram a Brincapé a desenhar as Rotas do Brincar, um divertido roteiro disponível no site oficial que inclui informação sobre o espaço e uma proposta de jogo. Podem ser jardins, mas também espaços como a área junto ao Panteão Nacional, onde ainda hoje muitas crianças aprendem a andar de bicicleta. Fique atento, porque o Brincapé já se está a preparar para conquistar mais territórios na cidade de Lisboa.

+ Sam The Kid e outros moradores garantem que Chelas é o Sítio

+ Este projecto quer proteger as águias-de-Bonelli da Grande Lisboa

Últimas notícias

    Publicidade