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Estávamos em Março de 2012 quando, para celebrar 25 anos de trabalho contínuo, a associação Chão de Oliva decidiu dar vida a um novo festival anual. Desde então que o Periferias – Festival de Artes Performativas de Sintra tem saído às ruas e feito reféns vários palcos por todo o concelho para apresentar criações das “regiões periféricas” de Portugal e de outros países de língua oficial portuguesa. 2023 não é excepção. O festival arranca a 2 de Março e só arreda pé no dia 12. O espectáculo de abertura terá lugar às 21.30, na Casa de Teatro de Sintra, onde o Teatro Guirigai (Espanha) prestará homenagem às mulheres invisíveis do campo, que tiveram que lutar para manter sua dignidade com trabalhos duros diante da fome e de um sistema social patriarcal que as obrigava a cometer crimes para sobreviver.
“Penso que é importante dizer que este é um festival com algumas características diferenciadoras, desde logo porque damos prioridade a objectos artísticos e a artistas fora da área da Grande Lisboa. É uma maneira de descentralizar e de levar diferentes criações periféricas a espaços quer convencionais quer não-convencionais. Gostamos de dizer que reduzimos assimetrias, tanto de hábitos de consumo como de oportunidades para os artistas”, diz o diretor artístico da Associação Cultural Chão de Oliva, Nuno Correia Pinto. “Este ano, também contaminamos a programação com temas que estão na ordem do dia, sobretudo entre os mais jovens. Trouxemos, por exemplo, um grupo de Itália para nos falar de preocupações ambientais a partir de um texto de Samuel Beckett. Mas não são só espectáculos. Temos também uma exposição de sofás interactivos, que falam com quem lá se senta e que, de repente, não são apenas objectos onde se descansa e se desliga, mas que incentivam conversas e reacções.”
O roteiro é longo, por isso recomendamos calçado confortável e baterias recarregadas. Para as famílias, a animação começa este fim-de-semana. Basta rumar até à Avenida Heliodoro Salgado entre as 12.00 e as 18.00 de 4 de Março. A MãoZorra, uma companhia de teatro de marionetas de Vila do Bispo, assentou arraiais com uma carrinha muito especial, onde pais e filhos vão ter oportunidade de fazer uma viagem visual, sonora e sensorial pelo teatro de objectos, num ambiente com o glamour dos anos 40. A lotação é limitada – só há nove lugares –, mas o espectáculo Viagem repete-se a cada 20 minutos. A história acompanha Raúl que, embriagado pela sonolência, nos transporta para o seu próprio nascimento e até à descoberta do mundo ao seu redor.
“A ideia surgiu porque eu tinha esta carrinha – que era a minha carrinha de viagens de quando era mais novo – que estava a precisar de ser restaurada, e achámos que seria interessante criar um espectáculo que pudesse ocorrer lá dentro. Este mini-teatro de objectos estreou ainda antes da pandemia e agora trazemo-lo de volta, em itinerância. São cinco sessões seguidas, muito intimistas, com o público muito próximo do palco”, revela-nos João Costa, da companhia MãoZorra. “Depois do festival Periferias, vamos estar em Montemor-o-Novo, nos dias 10, 12, 17, 18 e 19 de Março, e em Leiria, a 27. Agora a ideia é apresentar o Viagem, mas em 2024 devemos estrear um novo espectáculo itinerante. Ainda antes, contamos organizar o nosso habitual festival de marionetas de Oeiras, que normalmente acontece em Junho.”
No mesmo dia, 4 de Março, pelas 21.30, a Sociedade Filarmónica “Os Aliados” (5€), em São Pedro de Sintra, é palco do Manifesto Nada, uma ópera-manifesto contra e a favor de tudo e decididamente sobre nada, que se inspira no movimento Dada, que no início do séc. XX provocou rupturas na percepção da arte e inspirou inúmeros artistas e colectivos de vanguarda. Antes há “Conversas Periféricas”, pelas 17.30, na cave do MU.SA – Espaço de Formação do Chão de Oliva. Como é que as companhias de teatro têm direcionado o seu trabalho para os jovens? Quantos jovens são espectadores? Estas perguntas são os pontos de partida para uma discussão entre criadores, produtores e audiência, em torno da fruição artística dos jovens da geração Z (nascidos após 1995) a alfa.
Já no dia 5, destaca-se a proposta do Coletivo Levante, que traz do Brasil Uma crônica para quem não deveria amar (5€), um espectáculo sobre revoluções, amor e preconceito. A sessão está marcada para às 17.30, na Casa de Teatro de Sintra. Para o mesmo espaço, está também prevista a apresentação do espectáculo de Rui de Sousa As marionetas também têm coração. Pensada para crianças e famílias, o teatro de marionetas subirá ao palco no dia 8, pelas 18.00, e convida-nos a seguir diferentes quadros entre a dança, a música e a poesia visual. Caso já tenha a agenda cheia ou não consiga lugar, há outra sessão no dia 9, no Centro Paroquial – São João das Lampas.
Entre as propostas para pais e filhos, sobressai também O vaqueiro que não mentia, da companhia Lafontana – Formas Animadas, de Vila do Conde, que criou o Teatro Tuk-Tuk, um palco móvel de marionetas, montado a partir de um veículo icónico: o Piaggio Ape Classic. Adaptada de um conto popular europeu muito antigo, com versões conhecidas em Portugal, Espanha, Itália e, mais recentemente, na América Latina, a peça de teatro narra as aventuras de Juvenal, o vaqueiro do reino, conhecido por sempre dizer a verdade. Há sessões a 11 de Março, às 15.00, no Parque Urbano 25 de Abril de 1974, em Casal de Cambra; e a 12 de Março, às 14.30, na Associação de Recreio e Cultura, do Bairro da Tabaqueira.
A programação, disponível na íntegra online, inclui ainda um monólogo autobiográfico do actor Atcho Express, que fala sobre a sua infância e juventude na Guiné-Bissau (10 Mar, 21.30, na Casa da Juventude da Tapada das Mercês); um concerto acústico de Yeri e Yeni, duas jovens sintrenses com origens nas ilhas cabo-verdianas de São Nicolau e Santiago (11 Mar, 21.30, no Xentra Bar); e várias “Conversas Periféricas” em diferentes espaços do concelho de Sintra. “O concerto é também uma aposta nossa em jovens locais, que é algo que procuramos fazer ao longo de todo o ano. É um risco, porque são jovens e nunca o fizeram, mas têm qualidade e achamos que também é essa a nossa missão, de identificar e apresentar novos talentos e de os guiar e amparar no seu percurso”, assegura Nuno Correia Pinto.
Vale ainda a pena rumar ao Espaço Multiusos de Belas, entre as 10.00 e as 18.00, para visitar a exposição imersiva “SOFÁ em Mi Maior – Peças sonoras para ouvir no sofá”, que dá voz à vida doméstica e às mulheres, e a Feira do Livro de Artes Performativas, que nesta edição junta pela primeira vez a literatura infantil a mais de seis centenas de títulos de teatro, dança, marionetas, música ou performance. Se o que quer saber é se vai haver oportunidade de pôr mãos à obra – ou, neste caso, às marionetas –, aponte o dia 8 de Março na agenda. A partir das 18.00, na cave do MU.SA – Espaço de Formação do Chão de Oliva, o marionetista Rui Sousa irá partilhar algumas técnicas de construção e manipulação de marionetas a partir de materiais como jornais ou trapos.
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