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Sofia Tillo é um peixe dentro de água – por ter passado os últimos sete meses a planear a abertura deste espaço, mas sobretudo por ser uma coleccionadora inveterada desde que recebeu o primeiro salário. A Pink Dolphin é agora o seu maior cartão de visita, uma montra de um gosto e de uma estética pessoais virada para a cidade e, tendo em conta o público que circula pela Rua dos Poiais de São Bento, também para o resto do mundo. Um sonho que ganhou forma em Lisboa, mas que, garante, poderia estar em qualquer outra cidade artística e culturalmente pulsante.
"Sou completamente obsessiva no que toca à arte. Mal cheguei, foi a primeira coisa que quis procurar e encontrei muita gente a desenvolver trabalho criativo e muito interessada em colaborar", começa por explicar à Time Out. Mas para perceber o processo de descoberta é preciso contexto. Natural do Porto, Sofia viveu fora de Portugal durante 18 anos. Londres foi a base desta portuguesa formada em antropologia, mas também Berlim, Nova Iorque e Maputo.
"Não queria um espaço elitista, mas onde as pessoas se sentissem bem-vindas. Como uma casa de um coleccionador, até porque essas casas também são sempre uma mistura. Aqui, misturo o que gosto – seja português ou não. Também não queria abrir uma coisa diferente do que abriria em Londres. Não acredito nessa hierarquia das cidades", continua.
Mistura é muito provavelmente uma das palavras que melhor resume a Pink Dolphin, embora cada um dos objectos seleccionados para estar aqui tenha a sua singularidade. A começar pelas cerâmicas decorativas de Ana Barros, a mesma autora dos nus surpresa: uma edição de prints com várias representações de nudez, cuja intensidade só saberá quando chegar a casa. Também o ceramista Alexandre da Silva, do Estúdio Torto, está aqui representado através do realismo de meias e cinzeiros. Muza, a pequena marca de peças de cerâmica feitas em Leiria, tem saído a grande velocidade.
Entre os nomes internacionais encontramos o ilustrador David Shrigley, mas também as edições limitadíssimas do colectivo Pame, que decidiu resgatar stills de filmes pornográficos turcos dos anos 60 e estampá-los sobre seda. Mairead Funlay, pintora irlandesa a viver em Lisboa, salpica de cor as paredes brancas e aguça ainda mais a vontade de passar à segunda sala.
O espaço, igualmente branco, tem contornos de galeria. Rita Comedida, Anastasia Egonyan, artista sediada em Berlim, e Rita Leitão são algumas das apostas de quem continua a explorar a cena artística lisboeta, em particular uma geração emergente que poderá ser especialmente desafiante para quem procura pequenos investimentos. A amplitude de preços é enorme e vai das etiquetas com um único dígito aos milhares.
Quem entra na Pink Dolphin pode sempre contar com o olhar clínico da proprietária. É por isso que Sofia desenvolveu também o seu próprio serviço de consultoria – em função do gosto e do orçamento, os conselhos são certeiros e com fortes chances de valorizarem no futuro.
O pacote fica completo com pequenos artigos de papelaria, quase todos com uma dose de humor ou ironia. A montra de joalharia é outra das mais concorridas, especialmente no que toca às peças da portuguesa Pepino. E há mais a caminho. O mesmo pode dizer-se do resto da loja, que segue o plano inicialmente traçado de oferecer novidades todas as semanas. Irrequieta por natureza, Sofia não resiste a fazer deste um espaço dinâmico, onde tudo pode mudar de sítio de um dia para o outro, sem contar com o olho treinado, sempre à procura de novos objectos e autores.
Rua dos Poiais de São Bento, 50 (São Bento). Seg-Sáb 11.00-19.00
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