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Mais do que os hotéis, são os temas que circulam em torno do mundo hoteleiro que marcam cada um dos seis episódios de Hotéis XXI, a nova série documental da RTP2, com autoria e realização de Marina Reino. Com formação em música e cinema (e duas curtas-metragens em preparação), estreia-se na construção de uma produção para televisão, da qual é autora e realizadora. O check-in está marcado para as 18.10 de 22 de Dezembro.
Qual a diferença entre um turista e um viajante? Num hotel também nos podemos sentir em casa? Que ofícios se escondem dos hóspedes, mas proporcionam todo o conforto de uma estadia? Que experiências podemos encontrar que nos fazem esquecer da rotina? Que casamento podemos encontrar entre o luxo e o desperdício? Hotéis XXI divide-se em seis episódios temáticos, ao longo dos quais vários intervenientes do ramo, e não só, reflectem sobre o novo mundo da hotelaria em Portugal.
A ideia partiu da multifacetada produtora de moda Rita Rolex que a partilhou com Maria João Mayer, a mulher do leme da produtora Maria & Mayer, com quem já tinha colaborado nas produções As Coisas em Volta: A Vida Misteriosa dos Objectos (2020) e Armário (2018). Mas o desenvolvimento da ideia e a realização ficaram nas mãos de Marina Reino, convidada para liderar este novo projecto. Com uma família ligada à restauração, entrou num mundo que não lhe é estranho, mas mais do que falar sobre hotéis preferiu falar sobre assuntos. “Viajante ou Turista”, “Criação do Espaço”, “Vários Ofícios”, “Prazer”, “Desperdício” e “Fuga à Rotina” são os nomes dos seis episódios de Hotéis XXI, tendo andado pelo país a descobrir novas filosofias hoteleiras. “O que me estimulou a fazer esta série foi precisamente tentar afastar-me da abordagem do lifestyle e tentar olhar para um lado mais sociológico, e até mais antropológico, da relação que as pessoas desenvolvem com estes espaços”, começa por explicar à Time Out.
No trailer, ouvimos uma voz que dá o mote para o que vem a seguir. Não é de Marina, mas sim de Sónia Marques, especialista em semiótica e convidada no primeiro episódio. "Nós costumamos separar as ideias em caixinhas e consideramos que a viagem e as férias são o contrário do trabalho e estão ligadas ao período do ano em que as pessoas são livres e não trabalharão e tudo aquilo que farão no seu mês de férias será absolutamente diferente da vida habitual no trabalho. Quando isto é falso”, ouvimos. Uma frase que para Marina Reino é “bastante demonstrativa daquilo que é o tom da série”, já que tentou trazer para a conversa outros pontos de vista para “não ser uma coisa muito estanque sobre como nos relacionamos com a hotelaria no geral”.
Nesse episódio, sobre quem viaja hoje em dia, disserta-se sobre a ideia que as pessoas habitualmente têm das férias. “Que é uma coisa de relaxe, de libertação, mas nós planeamos as férias como planeamos o resto da nossa vida”, diz-nos Marina, sublinhando a falta de espaço para imprevistos. E o campo dos espaços também é considerado na série documental, que conta inclusive com o testemunho do geógrafo Álvaro Domingues, em particular na questão do contacto com a natureza e do contraste cidade/campo. “Ele também fala um pouco sobre isso, sobre essa tendência de contrariarmos a rotina e procurarmos o oposto”, revela a realizadora.
Para a construção desta narrativa, não existiu “um critério formal para a escolha dos hotéis”. Mas existiu um ponto de partida que passou por descentralizar a conversa e rumar para fora de Lisboa. Foram ao Porto, ao Algarve, ao Alentejo e também a Manteigas, localidade da Serra da Estrela, onde se conservam tradições. O que nos leva ao desperdício, episódio cinco. “Eu sabia que era importante falar sobre desperdício e eu escolhi com muita atenção esta palavra, porque eu não queria catalogar a sustentabilidade. E nesse episódio eu falo sobre a desconstrução da palavra sustentabilidade e o que ela significa”, explica Marina Reino. Em específico, o “desperdício social”, combatido pelo projecto Burel Mountain Hotels. Que não só inclui duas unidades hoteleiras – Casa das Penhas Douradas e a Casa de São Lourenço – como a Burel Factory, em Manteigas. “A fábrica foi à falência e o João e a Isabel, que são as pessoas que desenvolveram o projecto, compraram a fábrica, recuperaram, mas tiveram de ir buscar as pessoas que sabiam trabalhar com aquelas máquinas. Há uma questão de recuperação de património e conhecimento”, sublinha.
Espaços erguidos no meio ambiente onde se inserem, combatendo a ideia de padronização em voga no século passado e também “a ideia de verticalidade”. “Hoje os hotéis são vistos como um sistema mais horizontal, mesmo o ponto de vista hierárquico”, diz, defendendo que é esta “a grande mudança” no universo hoteleiro. “É menos padronizado, os hotéis são criados a olhar para o local onde estão inseridos, as matérias-primas envolventes, as pessoas das regiões. [...] E são feitos por pessoas que vêm de várias áreas e que decidiram abrir hotéis, mas que não são de hotelaria. Simplesmente querem ter um projecto à sua medida e oferecerem aquilo que lhes interessa e que os move.”
Hotéis XXI estreia no final de tarde de 22 de Dezembro, domingo, e todas as semanas estreia um novo episódio, cada um com cerca de 25 minutos.
RTP2. Estreia a 22 de Dezembro às 18.10
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