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“Era o único caminho que podíamos seguir. Corríamos o risco de ficar sem planetário”, admitiu o comandante João Silva Ramos, esta quinta-feira, 18 de Novembro, dia em que o Planetário reabriu ao público, depois de vários meses fechado para a instalação de um novo sistema de projecção. Em entrevista à Time Out, o comandante e director do Planetário da Marinha fala num investimento de 1,5 milhões de euros custeado pela Marinha, que agora dá nome ao Planetário, deixando cair a designação Planetário Calouste Gulbenkian.
Encerrado desde Junho, o espaço abre portas com algumas diferenças. “A grande novidade é o sistema de projecção digital, constituído por oito projectores de vídeo, que fazem uma imagem única e coerente na cúpula”, descreve. “Antigamente tínhamos um projector que mostrava o céu visto da Terra, e o visitante nunca podia tirar os pés da Terra, era como se estivesse no campo a ver o céu. Agora não, agora podemos fazer um takeoff, sair da Terra, viajar na nave espacial, viajar pelo universo, ir ao sol, ir aos planetas, às galáxias, ir aos confins do universo”, nota. “Era a tendência de todos os planetários. Os planetários passaram de planetários analógicos a planetários digitais.”
Em Lisboa, o futuro convive com o passado, já que foi possível manter os dois sistemas no mesmo local. “No nosso caso é o chamado planetário híbrido porque nós conseguimos trabalhar com o sistema analógico de uma maneira síncrona com o sistema digital. Ou seja, conseguimos juntar o melhor dos dois sistemas. Conseguimos mostrar as maiores estrelas do mundo que são estrelas analógicas, com todo o deslumbramento e espectacularidade do sistema de vídeo digital.”
Essa espectacularidade possibilita também outro tipo de oferta. “Dentro do tema da astronomia permite que nós façamos sessões temáticas, ou só sobre nebulosas, ou só sobre estrelas, ou só sobre planetas, o que queiramos”, revela o director do Planetário, que sonha em, além dos conteúdos de astronomia, o tema central do planetário, chegar a outros assuntos como “ciências da terra, biologia, geologia”. Por enquanto, o arranque acontece com dois filmes de astronomia, um para crianças e outro para adultos, mas a expectativa é começar a adquirir filmes “para diversificar”.
Filmes, sessões ao vivo e um especial de Natal
“Já tínhamos saudades vossas“, diz a voz que anuncia mais uma sessão. Depois das indicações para desligar os equipamentos electrónicos – “os telemóveis apagam as nossas estrelas” – a cúpula de 23 metros do Planetário enche-se com o filme Fantasma do Universo.
Mas nem só de filmes se faz a programação do espaço, que pode ser consultada no site. “Temos sessões ao vivo, sessões de astronomia em que a locução é feita pelos nossos conferencistas, que interagem com o público. O sistema é tão flexível que se houver um miúdo que diz ‘olhe, eu nunca vi a parte de trás da lua, a lua mostra sempre a mesma cara’, o nosso sistema permite voar na nave espacial e mostrar a face oculta da lua”, explica o comandante.
Apesar da reabertura, a agenda ainda está a ser ajustada. Na calha está a ideia de fazer sessões para quem está de visita a Lisboa e não fala português. “Para aproveitar os turistas durante a semana”, adianta. As sessões deverão ser em inglês.
Já a pensar na quadra natalícia, ultimam-se detalhes para uma sessão ao vivo sobre a estrela de Belém. “O que é que poderá ter sido a estrela de Belém?”, questiona o director do espaço. Para descobrir, convém ficar atento às redes sociais da Marinha, mas as sessões especiais de Natal só deverão arrancar a partir de 14 de Dezembro.
A mudança de nome
O Planetário de Lisboa foi inaugurado a 20 de Julho de 1965. Na época, tomou o nome Planetário Calouste Gulbenkian, “porque a Fundação Calouste Gulbenkian custeou o primeiro projector”, explica o comandante. “Esse projector funcionou até 2005, durante 40 anos. Depois houve uma primeira remodelação, e a mudança para um novo projector”, comprado através de um protocolo do Ministério da Educação com a Marinha. É o projector analógico que se mantém lá até hoje.
Durante todos estes anos, o nome manteve-se, “mas ambas as partes sentiam dificuldades”, revela o comandante. “Por um lado a Fundação Calouste Gulbenkian não conseguia passar bem a mensagem do que era a Fundação Calouste Gulbenkian, por outro lado o visitante ficava confundido porque depois via pessoas aqui fardadas da Marinha”, conta. Esta mudança foi uma “mais-valia” para os visitantes, acredita.
Na prática, o Planetário passou a chamar-se Planetário da Marinha e o legado da Fundação foi mantido através da criação de uma "ala Calouste Gulbenkian", uma zona com o projector original e painéis e conteúdos interactivos com uma explicação do que é a Fundação Calouste Gulbenkian actualmente. A ala fica localizada no primeiro piso do Planetário, à esquerda.
Planetário da Marinha. Praça do Império (Belém). Ter-Sex 10.00-17.00 Sáb-Dom 10.00-18.00 6€.
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