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Poemas de Ramos Rosa a Natália Correia vão andar à solta pelos jardins de Lisboa

Os palcos são três jardins da cidade, na Estrela, na Graça e no Lumiar, e estão montados para o Joana Grupo de Teatro, que vai ler poemas a quem quiser ouvir. Iniciativa começa este sábado, 27 de Julho.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Poemas à Solta, no Jardim da Cerca da Graça
JMCPoemas à Solta, no Jardim da Cerca da Graça
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A poesia está na rua e, desta vez, é literal. "Se, de surpresa, num jardim ou parque de Lisboa, actores interagirem consigo, deixe um poema entrar na sua vida", convida o Joana Grupo de Teatro, que vai andar, entre 27 de Julho e 15 de Setembro, a espalhar poesia pelos jardins da Estrela, Cerca da Graça e Quinta das Conchas. Depois de uma edição experimental em 2022 e do regresso desta poesia imprevista no ano passado, este Verão, os Poemas à Solta regressam com um cartaz composto por textos e excertos de António Ramos Rosa, Sofia de Mello Breyner (autora, já agora, do verso que dá início a este texto e que foi pintado por Maria Helena Vieira da Silva numa evocação, em cartaz, da Revolução de Abril), Natália Correia, Fernando Pessoa, Alexandre O’Neill, Miguel Torga, Mário Henrique Leiria, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, António Aleixo e Adelina Barradas de Oliveira. Esperam-se, ainda, "intervenções específicas dirigidas ao público infanto-juvenil", com poemas de Manuel António Pina, Matilde Rosa Araújo e Luísa Ducla Soares.

Jardim da Estrela
DRJardim da Estrela

Durante a iniciativa, os submersos em banhos de sol, amantes de cerveja ou jogares de xadrez poderão ser surpreendidos por um actor (o figurino não é teatral, mas também não passa despercebido) que lhes perguntará se querem ouvir um poema. Aceitando, dá-se a leitura e interpretação de dois poemas por cada pessoa abordada, com direito a banda sonora saída de uma coluna. Depois, o feliz contemplado fica com a versão manuscrita dos poemas que ouviu.

"Começámos em 2022, a título experimental, também um pouco para ver como seriam as reacções das pessoas. E são fantásticas. Já houve um homem que, no fim, se agarrou a um de nós a chorar", conta à Time Out a directora artística e encenadora Ana Mourato. "Mas também há pessoas que ficam um bocadinho tristes por não terem sido abordadas", acrescenta, fazendo notar que, ainda assim, sendo o som amplificado, a leitura consegue ouvir-se com alguma amplitude no espaço. 

Manuscrito dos Poemas à Solta
DRManuscrito dos Poemas à Solta

Os poemas desta trupe vão andar pelos jardins em dias específicos, sempre ao fim-de-semana e sempre às 17.00. Eis o calendário: dias 27 e 28 de Julho, no Jardim da Estrela; dia 3 de Agosto, no Jardim da Cerca da Graça; a 8 de Setembro, no Jardim da Estrela; dia 15 de Setembro, na Quinta das Conchas. No dia 15, fica a nota, vai haver também microfone aberto, ou seja, quem quiser pode arriscar uma leitura na relva.

O grupo está, ainda, a preparar uma segunda fase deste Poemas à Solta, que acontece este ano pela primeira vez. O plano é levá-los a ruas "com muita circulação e comércio" de bairros lisboetas, entrando por vezes em cafés ou outros espaços comerciais. O programa e as datas ainda não estão fechados, mas a organização aponta já para o "princípio do Outono" (final de Setembro, início de Outubro) para esta acção. Quanto a locais, é possível que o Joana percorra ruas de Campo de Ourique, Alvalade e/ou Benfica. "Poderia ser algo muito mais abrangente, mas é uma programação à escala dos recursos financeiros que temos", explica Ana Mourato, detalhando que, de momento, a iniciativa é apoiada exclusivamente pela Câmara Municipal de Lisboa.

Do teatro à poesia, a intervenção no espaço público

Vale a pena recuar um pouco no tempo para perceber de onde veio esta ideia do Joana Grupo de Teatro de abordar pessoas que não pagaram bilhete nem estavam ali para ouvir poesia, como uma forma de intervir no espaço público, ainda que de modo efémero. Fundado em 1978, o colectivo começou a actuar na área do teatro para a infância e juventude, apresentando peças tanto em salas como a saudosa Cornúpia (que encerrou em 2016, ao fim de 43 anos de trabalho), em Lisboa, como pelos municípios do país. "Nessa itinerância, começámos a fazer intervenções de rua, arruadas, para a divulgação dos nossos espectáculos que iriam acontecer em sala", relata Ana Mourato, contando como aprenderam, com a experiência, uma nova forma de fazer teatro, de intervir e de democratizar o acesso ao que faziam.

A partir dos anos 90, o Joana começou a ter a actuação no espaço público no centro dos seus dias, mas sempre numa vertente muito visual, com "muita plasticidade", e com pouco foco no texto. Os Poemas à Solta surgem, assim, como uma pequena viragem no trabalho da companhia, que se alavanca na poesia de autores portugueses para continuar o teatro de rua.

Jardins da Estrela, da Cerca da Graça e Quinta das Conchas. 27 Jul-15 Set. Grátis

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