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Até 2019, a entrada nas Galerias Romanas da Rua da Prata, na Baixa, fazia-se sem pagar e por ordem de chegada. Formavam-se longas filas, preparadas para se dissipar através do alçapão que dá acesso ao criptopórtico. Depois veio a pandemia e o sistema mudou. Em 2021, vieram os bilhetes (sem a possibilidade de reserva), vendidos online por três euros, para deixar entrar nas galerias nos dois momentos do ano em que elas abrem ao público: normalmente em Março/Abril e em Setembro. Em vez de os últimos da fila irem para casa, passou a ver-se a palavra “esgotado” repetidamente nos sites de compra de bilhetes. Mas o número de acessos ao monumento, na verdade, aumentou, como adianta o Museu de Lisboa nas respostas enviadas por escrito à Time Out.
"Há hoje mais visitantes porque alargámos o período de visita dos públicos a mais meio dia”, informam os responsáveis pelo Museu, explicando que este é o limite máximo. De 2100 pessoas por cada período de visitas, o número aumentou para 2500, em Setembro do ano passado. Ainda assim, a procura “excede sempre em muito a oferta possível de bilhetes”, assume organismo, o que fez com que, a 3 de Abril, as entradas tenham esgotado em menos de quatro horas.
Mais visitas? Só no centro interpretativo
O limite prende-se com a natureza das Galerias Romanas e com toda a logística que torná-las visitáveis representa. Para se poder entrar, é preciso bombear a água (que ultrapassa a altura de um metro), limpar, tratar da iluminação e cortar o trânsito da via pública, o que envolve o trabalho concertado de várias entidades, da Câmara Municipal de Lisboa (CML) à EGEAC, passando pelo Regimento de Sapadores Bombeiros ou pela Polícia Municipal. Em paralelo à logística, “as características patrimoniais deste monumento com mais de 2000 anos não permitem a sua abertura durante mais tempo seguido”. O bombeamento das águas “expõe a estrutura e reduz drasticamente o nível de humidade relativa a que o monumento está habituado, o que pode colocar em risco a sua preservação”, explica o Museu, acrescentando que “colocar em risco o monumento é também colocar em risco os edifícios que se encontram construídos por cima”.
A propósito do grande desfasamento entre a oferta e a procura, a CML anunciou, em 2019, um projecto que iria permitir visitar as Galerias Romanas de Lisboa o ano inteiro: a criação de um centro interpretativo “com entrada acessível a todos pela Rua da Prata”, que estaria pronto em "finais de 2020". Mas o projecto, actualiza agora o Museu de Lisboa, ainda se encontra em análise.
Descoberto em 1771, depois do terramoto de 1755, o popular criptopórtico da Baixa foi uma solução arquitectónica encontrada pelos romanos para criar “uma plataforma horizontal de suporte à construção de edifícios de grande dimensão, normalmente públicos”, nesta zona de declive e pouca estabilidade geológica. No início do século XX, as galerias “ficaram conhecidas como Conservas de Água da Rua da Prata, por serem utilizadas pela população como cisterna”, informa o Museu de Lisboa. Ainda não há datas conhecidas para o próximo período de visitas, que deverá acontecer em Setembro.