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Poucos conhecem os filmes punk de Chris Langdon. Lisboa vai descobri-los agora

A exposição ‘Two Faces Have I’ parte da filmografia de um cineasta que fez 40 curtas-metragens antes de mudar de vida. Cinco estão no Chiado.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Bondage Boys
©DRBondage Boys (1973), de Chris Langdon
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Chris Langdon é um importante e ao mesmo tempo desconhecido cineasta da cena cultural de Los Angeles. Na década de 70 do século passado, fez dezenas de curtas-metragens e nunca mais pegou na câmara. Mas uma exposição em Lisboa volta a focar a sua obra.

A curadoria deste que é o quinto momento do projecto Território – uma parceria entre a Fidelidade Arte e a Culturgest – está nas mãos da plataforma artística e cooperativa Ampersand, dirigida pela editora e investigadora Alice Dusapin e pelo artista Martin Laborde, em conjunto com Justin Jaeckle, colaborador habitual e cujo trabalho de curadoria tem uma estreita relação com a sétima arte. Em “Two Faces Have I” – nome de uma das curtas-metragens de Langdon em exibição contínua nas salas do espaço que acolhe a exposição – encontramos também trabalhos de artistas plásticas cujos trabalhos a curadoria sente que “orbitam” a filmografia do antigo cineasta, embora não tenham partido da sua obra. É o caso da alemã Jana Euler (n. 1982), da queniana Sylvie Fanchon (1953-2023) e da norte-americana Pati Hill (1921-2014), cujas obras estão expostas em diálogo permanente com os filmes de Langdon. Permanente porque em cada uma das salas os cinco filmes – com uma duração total de cerca de 17 minutos – foram sincronizados e são exibidos ao mesmo tempo em diferentes locais do espaço Fidelidade Arte. Para ver entre 29 de Janeiro e 3 de Maio.

O nome de Chris Langdon não ficou para a história. Mas um conjunto de pessoas ligadas aos arquivos do cinema resgatou a sua obra do esquecimento. Considerado o primeiro cineasta punk, e movimentando-se na cena cultura de Los Angeles nos anos 70 do século passado, o vanguardista norte-americano fez 40 curtas-metragens durante os anos que estudou na Los Angeles, CalArts – California Institute of the Arts, entre 1971 e 1976. Mas nunca mais pegou na câmara e nos anos 90 mudou-se para a China para estudar fitoterapia e acupuntura. Também nessa altura, Chris fez a transição e passou-se a chamar Inga. Hoje reside novamente nos Estados Unidos, onde trabalha como artista plástica. Mas a sua obra cinematográfica voltou ao circuito em 2010, depois de as suas películas terem sido restauradas pela Academy Film Archive. Cinco cópias digitalizadas podem ser vistas na exposição “Two Faces Have I”, no espaço Fidelidade Arte no Chiado, com curadoria da Ampersand.

Sobre o trabalho de Chris Langdon, Inga recorda esta outra vida, citada na comunicação desta exposição: “Eu tinha aspirado a ser pintor… Mas, por volta da época em que entrei na escola de arte, ficou de certo modo claro que isso não ia acontecer. Eu gostava de narrativa, de filmes de série B, do génio obscuro da má arte e de cinema de baixo orçamento… [O filme Two Faces Have I] veio provavelmente desse recanto intuitivo da minha alma de pintor. Nas poucas vezes que o vi, nunca acreditei que a versão jovem e chico-esperta de mim que o realizou pudesse saber que algo nele me transcendia. Tem a tristeza animista de tudo o que tentávamos fazer, daquilo para que trabalhávamos arduamente e que viríamos a abandonar.”

Além desta curta-metragem de 1973, estão também em exibição Bondage Boys (1973), The Gypsy Cried (1973), This is the Brain of Otis Crawfield (1973) e My Laser (1974). “Os filmes do Chris Langdon nunca foram apresentados em contexto de exposição. Foram incluídos em vários screenings, da Tate Modern até ao MoMA, desde a ressurreição e a redescoberta do trabalho, através do trabalho de Mark Toscano, do Academy Film Archive, em Los Angeles”, explica Justin Jaeckle à Time Out.

Em órbita

Pati Hill
©DR“Women and Vacuum Cleaners”

Nesta exposição, que pode ser visitada gratuitamente, ficamos a conhecer outros universos artísticos. Como o de Jana Euler, presente na última Bienal de Veneza, conhecida pela representação de personagens reais e imaginários em jeito de sátira da condição humana. Ou Sylvie Fanchon, autora de pinturas que são sempre executadas em acrílico e com um máximo de duas cores, 50 das quais fazem parte de colecções públicas, como a do Centre Pompidou. Destaque para Pati Hill, artista e também escritora que se destacou como fotocopiadora. Ou seja, durante quatro décadas fotocopiou milhares de objectos quotidianos e na sua colecção particular inclui a emblemática colecção “Women and Vacuum Cleaners” – anúncios, manuais de instruções, imagens e coisas efémeras relacionadas com aspiradores de pó – aqui reproduzida como papel de parede em duas salas da Fidelidade Arte, de forma inédita.

Fidelidade Arte. 29 de Jan a 3 de Mai 2024. Seg-Sex 11.00-19.00. Entrada livre

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