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Quando olhamos para o Príncipe Real vemos um bairro moderno, cosmopolita, onde a tradição não foi esquecida. Portugueses e muitos estrangeiros chamam-lhe casa e todos passam agora a ter um canal de comunicação comunitário. A associação Príncipe + Real, apresentada à população no último sábado, foi criada por um conjunto de moradores e também por empresas que ali fazem a sua vida – a EastBanc, a Uzina, a Príncipe Real Advogados, o Hotel Memmo, a Lacrima, a Plateform, a Casa Oliver, a Isto e a Imogávea. O grupo fundador que agora quer ouvir os vizinhos para ajudar a promover um bairro melhor. E mais próximo.
Patrícia Luz, educadora social e a responsável da associação, explica à Time Out que esta ideia tem alguns anos, mas que houve um gatilho fundamental para tudo começar a andar: a pandemia. Assim a cru, parece estranho, mas a verdade é que, com a falta dos turistas, os moradores começaram a sentir o bairro de outra forma. “Estamos a viver o bairro como nunca. Sem turistas, os espaços vazios, os habitantes a terem tempo e espaço para se olharem uns aos outros com outra calma. Há aqui um sentimento de identidade mais forte e se calhar é a altura certa para criar esta associação”, diz Patrícia, ao recordar as motivações que deram o pontapé de partida para a Príncipe + Real.
A realidade é que ao tirarem algumas peças do tabuleiro das ruas do bairro, a comunidade ganhou um renovado sentimento de pertença. E não é uma associação só de moradores, nem só de comerciantes. “Até acho que é mais que as duas coisas juntas, que é mesmo da comunidade do bairro. É um bocadinho inovador, não sei se existe um modelo semelhante em Portugal ou não, mas mesmo que haja qualquer coisa semelhante não é muito comum”, explica a responsável da Príncipe + Real, uma iniciativa local que também quer envolver entidades públicas e todos os que tenham uma ligação ao bairro. “A ideia é de tempos a tempos reunir com essas entidades e partilharmos as nossas intenções, as nossas prioridades, o nosso plano de acção. A iniciativa foi muito bem recebida pelas duas Juntas que o bairro alcança [Misericórdia e Santo António] e ambas tiveram uma visão muito aberta sobre a pertinência desta associação. E viram-nos como parceiros e não como rivais.”
Para desenvolver as suas actividades, o grupo fundador começou por definir três eixos principais sobre os quais irão trabalhar. O primeiro é a coesão, mantendo “o ADN do bairro fiel a si próprio”, promovendo a partilha e valorizando as histórias de vida das pessoas que estão no bairro. “Se calhar fazer um levantamento das personagens mais características, a senhora da mercearia, o senhor do talho… tudo isto pode ter um potencial humano muito giro de vir a lume”, propõe Patrícia. O segundo eixo são as melhorias, dando oportunidade a quem ali vive e trabalha de apontar algumas questões que possam melhorar a qualidade de vida. E, por fim, a dinamização. “Não queremos uma dinamização cega, aquela ideia de trazer mais gente ao bairro, porque não se trata disso. É uma visão diferente: quais são as acções que fazem sentido para este tipo de bairro? O que podemos promover que não o descaracterize, que não o torne impessoal, antes pelo contrário? Que o defina e envolva todos os participantes de forma articulada? Estes três eixos vão estruturar o nosso plano de acção”.
Uma das iniciativas que já está na manga, avança Patrícia, é “um livro muito bonito sobre os mais velhos do Príncipe Real. E sacar as histórias das vidas deles. Há-de haver de tudo, do mais intelectual à pessoa mais humilde”. Uma das vantagens de ter pesos pesados na associação, como a EastBanc (empresa de desenvolvimento e gestão imobiliária), é poder contar com essas empresas para ajudarem a concretizar ideias mais dispendiosas. Patrícia dá um “exemplo bonito”: “Soubemos de um projecto que é o Pedalar Sem Idade. São uns trishaws que levam as pessoas mais idosas a passear ao ar livre. A EastBanc soube disso e achou que tinham a capacidade financeira de adquirir um trishaw para o bairro. Compraram e agora será a associação a gerir. Estas, como outras, serão iniciativas que vão acontecer.”
A associação, que a responsável descreve como "despretensiosa e unificadora", já tem algumas ideias no papel, mas será em conjunto com os futuros sócios que tudo ficará definido. “Não temos a ousadia de fazer das nossas ideias as ideias da associação. Porque depois queremos que nessa tela em branco se juntem muitas outras.”
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