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Que coisas fazem as coisas quando ninguém está a ver? Este livro responde

Luís Leal Miranda está de volta à literatura para a infância. Desta vez não há monstros debaixo da cama, mas há objectos que ganham vida quando saímos de casa.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Ilustração de Carolina Celas
Ilustração de Carolina CelasAs Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver, de Luís Leal Miranda e Carolina Celas (Orfeu Mini. 56 pp. 16€)
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A ideia surgiu numa sala de espera. Luís Leal Miranda olhou para um relógio de parede avariado e reparou como os ponteiros se moviam mais depressa do que o normal. “Achei muito engraçado e pensei ‘aquilo é um relógio que queria ser uma ventoinha”, recorda, por entre risos. “Foi assim que nasceu a premissa. O que é que acontece quando os objectos do dia-a-dia ganham vida?” Editado pela Orfeu Mini e ilustrado por Carolina Celas, As Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver é um poema extravagante e um ensaio visual sobre o poder da nossa imaginação ou, arrisca o autor, a busca por significado no que não tem significado nenhum.

“Este livro teve uma dificuldade particular, que é o facto dos encadeamentos terem de resultar todos. Se há um que falha, falha tudo”, partilha Luís, que se estreou na literatura para a infância em 2021, com Há um Monstro Em Cima da Cama / Há um Monstro Debaixo da Cama (ed. Caminho). “Às vezes, o que eu imaginava na minha cabeça acabava por ser difícil de ilustrar ou mesmo impossível de conceber, o que contribuiu para o tempo que demorou a fazer este livro. Mas o que propomos é que as coisas também têm as suas vidas privadas e particulares, vidas secretas sobre as quais não sabemos nada.” Como, por exemplo, um guarda-chuva que serve de bengala, clipes que fazem ioga e peúgas que inventam histórias.

Além de nos convidar a reflectir sobre as várias funções que um mesmo objecto poderá ter e de nos desafiar a ser mais criativos no nosso dia-a-dia, As Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver é também uma espécie de Onde Está o Wally? acidental, porque há várias personagens que se repetem, mas em formas diferentes, como se vestissem disfarces e nos desafiassem a encontrá-las. “Claro que o objectivo não é esse, mas é uma camada extra que o livro nos oferece quando estamos a folheá-lo, podermos ir procurar as coisas, sobretudo as mais pequeninas, que são mais difíceis de descobrir. No final, por exemplo, temos a vista da sala e estão lá os objectos todos que apareceram ao longo da história, e acho que é muito fixe perceber isso.”

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Ilustração de Carolina CelasAs Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver, de Luís Leal Miranda e Carolina Celas (Orfeu Mini. 56 pp. 16€)

O texto original remonta a 2018, mas foi-se transformando ao longo do tempo, tal como os objectos que nele habitam e até aqueles que só vemos nas ilustrações de Carolina Celas. “São muito bonitas e estão cheias de pormenores, o que faz com que possas perder muito tempo só a olhar para uma dupla. Há muitas histórias dentro da história”, sugere Luís, que acredita terem criado um álbum cheio de possibilidades de leitura e de entendimento. “Quando escrevi nem sequer pensei em nenhuma faixa etária. Aliás, nunca o faço. Escrevo histórias que se adaptam bem ao público infantil porque são intencionalmente mais experimentais e, hoje em dia, o mercado literário para crianças é muito mais original e criativo e aventureiro. Agora, eu acho que os adultos também podem gostar disto. Mas diria que é um objecto difícil de definir à partida, o que me agrada bastante, claro.”

O encontro entre autor e ilustradora foi, por outro lado, um acaso. Luís apresentou a proposta do livro ao director de arte da editora, que depois escolheu a Carolina. Não se conheciam, mas ficaram amigos. “Tenho tido sorte, porque os meus trabalhos têm ficado sempre melhores por causa das ilustrações. Não foi nada disto que imaginei e é incrível ter-se tornado uma coisa tão grandiosa. Ter um clipe a fazer contorcionismo era uma coisa que não me passava pela cabeça”, diz Luís. Carolina acrescenta: “Gostei muito da brincadeira e do jogo de palavras, o que me fez aceitar quase de imediato, mas foi um desafio, porque inicialmente o texto tinha referência a muitos objectos quadrados, o que visualmente iria ficar mais monótono, então foi preciso dialogarmos e chegarmos a um conjunto mais interessante que permitisse explorar a percepção.”

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Ilustração de Carolina CelasAs Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver, de Luís Leal Miranda e Carolina Celas (Orfeu Mini. 56 pp. 16€)

O processo criativo, desvenda Carolina, envolveu muitas fotografias de casas de amigos e depois muitas ilustrações no chão, quase como um puzzle, para perceber se estava no caminho certo. Normalmente desenha sempre tudo à mão. Neste caso, usou marcadores, lápis de cor e lápis de cera. A paleta de cores, essa, foi “intuitiva”. “Às tantas juntei tantas que compliquei a minha própria vida, mas também era um desafio que queria: usar cores mais planas, mais fortes.” Por outro lado, procurou não interferir demasiado na história que o Luís queria contar, ainda que tenha, naturalmente, emprestado a sua voz gráfica à narrativa.

Nas livrarias a partir de 23 de Setembro, As Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver é um convite para os miúdos olharem para as coisas de uma maneira diferente e procurarem o potencial escondido nos objectos do dia-a-dia. “Se abrires bem os olhos e tiveres uma cabeça atenta, nunca te aborreces com nada. Pode ser um exercício que façam daqui para a frente e que os ajude a fortalecer o músculo da imaginação.” O lançamento está marcado para 3 de Outubro, na Baobá. Carolina Celas também marcará presença e repetirá a dose a 19 de Outubro, com uma oficina para os mais novos.

As Coisas Que As Coisas Fazem Quando Ninguém Está a Ver, de Luís Leal Miranda e Carolina Celas. Orfeu Mini. 56 pp. 16€

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