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Que Jardim da Parada queremos depois das obras do metro? Nove dias de testes ajudam a decidir

De 14 a 22 de Setembro, praça recebe eventos como concertos e cinema, e trânsito sofre alterações. Acção é menos arrojada do que em 2023, mas é o último teste antes do arranque das obras do metro.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Jardim da Parada
Francisco Romão PereiraJardim da Parada
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A iniciativa é conhecida e associada ao conceito de superquarteirão, implementado em cidades como Barcelona ou Paris, mas, em Campo de Ourique, os planos de vida para os dias entre 14 e 22 de Setembro são mais modestos do que isso. "Tecnicamente, isto é uma acção de placemaking", clarifica à Time Out o presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, Hugo Vieira da Silva, não querendo abusar de inglesismos, mas apelando à precisão. Um superquarteirão "implica cortes de trânsito de forma mais permanente, colocação de mobiliário urbano e outra utilização do espaço público". A experiência “Há mais bairro no jardim!”, por sua vez, foca-se em "mostrar diferentes potencialidades" do espaço urbano, recorrendo a uma programação baseada no cinema, música e desporto, e a algumas alterações de trânsito. 

"Superquarteirão" em 2023
DR/JFCO"Superquarteirão" em 2023

"Estamos habituados a ter uma praça em que à volta circulam carros e estão veículos estacionados", descreve o presidente, explicando que estes nove dias permitirão imaginar como seria o Jardim da Parada se, de vez em quando, nele acontecessem sessões de cinema ao ar livre ou concertos e existisse menos ruído e poluição automóvel. Em 2023, a iniciativa contou com um corte integral do trânsito, numa "versão mais arrojada", assume Vieira da Silva, que para este ano decidiu implementar algo diferente, "uma versão intermédia". Apenas no último fim-de-semana da iniciativa, a 21 e 22 de Setembro, os carros desaparecem da Parada. Durante a semana, recorre-se a uma inversão do sentido do trânsito cuja consequência prevista é a acalmia do tráfego e também a passagem de menos automóveis pela vias circundantes, já que se prevê um efeito dissuasor. 

Em relação à versão de 2023, "não se ganha tanto espaço público, mas já há algum ganho" – o que faz antever críticas. "Sim, a versão do ano passado foi mais arrojada. Mas mais importante em tudo isto é que se garanta uma discussão séria, honesta e de adultos sobre o espaço público", conclui o presidente da Junta.

Um programa menos "atafulhado"

Paralelamente às alterações de trânsito, estão também programados eventos para todos os dias, como concertos, cinema e actividade física, mas não ao ritmo da edição de 2023 (o programa será divulgado em breve na página da Junta de Freguesia). "Vai acontecer um evento durante a manhã ou ao final da tarde, com a duração de uma hora a uma hora e meia. No ano passado fomos criticados por querer mostrar tudo e reconhecemos que nos excedemos. Havia zumba, música ambiente, concertos, insufláveis, workshops com recurso a microfones, o programa estava atafulhado... Ou seja, cortou-se o trânsito, mas não se percebeu o impacto sonoro na medida, não se percebeu o silêncio", assume o presidente da Junta. 

"Superquarteirão" em 2023
DR/JFCO"Superquarteirão" em 2023

Apesar do excesso e de "algumas queixas", o feedback dos moradores quanto à experiência de 2023 foi "esmagadoramente positivo", segundo o responsável. Mas a ideia de mostrar agora um novo modelo é também colocar as pessoas do bairro a experienciarem diferentes possibilidades de futuro para o Jardim da Parada, numa óptica "experimental e científica". "Com estas acções, estamos a estudar o impacto das mudanças ao nível do trânsito, do estacionamento e da vida do bairro. Vamos ter inclusive pessoas na rua a fazer contagem de veículos", exemplifica Hugo Vieira da Silva.

E depois das obras?

Correndo como o previsto, a partir de Janeiro, o estaleiro da obra que levará o metropolitano a Campo de Ourique (com uma estação precisamente neste local do bairro) estará montado junto ao Jardim da Parada. "Aí a rua vai estar cortada e vamos ter três anos para pensar como queremos o espaço público." A ideia da Junta é promover o debate, envolvendo a Câmara Municipal de Lisboa (a decisora no processo), associações cívicas e moradores. Agora, em Setembro, será apresentado o relatório sobre o "superquarteirão" de 2023 e, assim que os dados deste ano estiverem tratados, "a discussão será lançada". 

"Superquarteirão" em 2023
DR/JFCO"Superquarteirão" em 2023

Com a perspectiva de que as obras do metro arranquem em Janeiro, depois de um atraso de vários meses, o objectivo é que estas semanas experimentais ajudem a decidir o que fazer a esta zona no futuro. "Queremos uma praça de fachada a fachada, uma solução intermédia ou voltar ao que sempre tivemos? Eu sei o que preferia, pessoalmente: era uma praça de uma ponta à outra, com o corte total do trânsito, à excepção dos veículos de emergência, claro. Mas estou disponível para mudar a minha posição e posso até concluir que se calhar esse processo tem de ser faseado", afirma o presidente. Ainda assim, o responsável acredita que a população tenderá a a privilegiar a pedonalização, já que "Campo de Ourique rejuvenesceu muito, tem muitas famílias e uma grande pressão pedonal". "Acho que as pessoas vão concluir que querem mais espaço para descansar, passear e brincar", declara, frisando que é este o caminho traçado em grande parte das capitais europeias, sobretudo nas que têm uma estrutura de transportes públicos mais trabalhada e extensa do que a de Lisboa. "Daqui a 20 ou 30 anos, tudo isto vai ser óbvio. Não tenho a mínima dúvida", remata Vieira da Silva. 

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