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Quiçá será este o restaurante brasileiro mais autêntico da cidade?

No lugar de uma antiga steakhouse, na Avenida 24 de Julho, nasceu um restaurante que quer servir à mesa o melhor que o Brasil tem nas suas várias regiões.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Quiçá
Francisco Romão Pereira
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O nome – Quiçá – sugere uma dúvida, mas Alessandra Azanha e Frederico Frank não têm qualquer hesitação por saberem perfeitamente o que estão a fazer. No restaurante que abriram na Avenida 24 de Julho, no lugar do antigo Umami, procuram trazer para a mesa o Brasil que não conhecemos tanto por cá. “O mais autêntico”, diz Frederico, ou Fred como é conhecido. E é por isso que acreditam que o Quiçá não é mais um restaurante brasileiro em Portugal, quiçá não será o melhor? A ambição é essa. 

Fred é o chef. Com um passado muito ligado à cozinha francesa, tendo trabalhado no Brasil com chefs muito badalados por lá como Emmanuel Bassoleil ou Claude Troisgros, Frederico Frank tem a teoria e a técnica toda. A decisão de vir para Portugal estava tomada ainda antes da pandemia. Existiam planos para se mudar para o Porto para trabalhar com o chef Miguel Castro e Silva, mas a covid-19 acabou por lhe trocar as voltas, sem que fizesse esmorecer o desejo de mudança. “Achei que Lisboa podia ter mais oportunidades, eu não queria mudar os meus planos e então viemos para cá de qualquer jeito. Vai fazer um ano”, conta. Em Lisboa, conheceu Alessandra, também recém-chegada e à procura de uma ideia. Um amigo em comum, falou-lhes deste espaço. Aberto em 2019, o Umami não sobreviveu à pandemia. “E esse amigo falou-nos que os investidores estavam à procura de alguém para ocupar o espaço.”

Quiçá
Francisco Romão PereiraAlessandra Azanha e Frederico Frank

Quando foram conhecer o sítio, uma peça da artista plástica Elisabete Marques, também ela brasileira, prendeu-lhes o olhar: uma representação de uma favela, que ainda agora se mantém na parede. Sem querer, a ideia para o Quiçá começava a surgir. “O Fred é um chef bem sucedido no Brasil, tem base na cozinha francesa, mas talvez não faça comida francesa como um chef francês. E porque não fazer um restaurante de comida brasileira?”, questionou na altura Alessandra. “E foi aí que começou a pesquisa, foi uma coisa de meses, não foi de uma hora para a outra”, explica. 

Antes de decidirem o que seria a carta, visitaram vários restaurantes brasileiros e chegaram a uma conclusão: “É sempre mais do mesmo”. “A picanha, a coxinha, o pão de queijo… A gente não come só isso no Brasil. O Brasil tem o tamanho continental. Cada estado tem a sua cultura, a sua especificidade, a sua gastronomia”, continua Alessandra. 

Quiçá
Francisco Romão Pereira

Esforçaram-se, por isso, por ter pratos de diferentes regiões, sempre com a preocupação de se manterem fiéis ao original. “Isto não é a minha interpretação [das receitas], é tudo como você vai encontrar lá”, aponta o chef. “Durante muito tempo trabalhei [de forma] minimalista, extremamente técnico e francês, agora eu aplico o que sei de delicadeza, de cuidados e de técnicas no que eu gosto, que é a comida brasileira”, diz Fred, contando que em cada receita, procura a sua história. “Tento me aplicar ao máximo para representar o que é.”

E tudo sempre com uma atenção máxima à qualidade da matéria-prima. “Tudo o que temos aqui, absolutamente tudo, são produtos brasileiros. O que não tem aqui em Portugal, a gente importa ou produz. Por exemplo, o catupiry, que é um queijo muito típico do Brasil, a gente faz aqui”, elucida Alessandra. “Isso tudo para manter a originalidade do sabor, a autenticidade. A ideia é que o cliente venha e tenha uma experiência gastronómica brasileira, em todos os sentidos. A música, o ambiente, o atendimento e a comida, principalmente. Por algumas horas, as pessoas estão no Brasil.”

Quiçá
Francisco Romão PereiraBaião de dois

Mas que pratos são esses afinal? O baião de dois (23€), um prato típico do Ceará de feijão com arroz com queijo coalho, carne seca e quibebe de abóbora. Nos pratos principais, destacam-se ainda o bobó de camarão com acaçá de leite de coco (23,50€/uma pessoa, 42,50€/duas pessoas), a moqueca de peixe com pirão e farofa de azeite de dendê (21€/uma pessoa, 39,50€/duas pessoas), ou o entrecôte angus no forno a carvão com mandioca, batata doce e mandioquinha (28,50€). 

Quiçá
Francisco Romão PereiraBobó de camarão com acaçá de leite de coco

Aos almoços, nos dias de semana, há um menu executivo que complementa a volta ao Brasil. Às terças-feiras, por exemplo, há bife a cavalo grelhado, acompanhado de ovo frito, arroz branco, feijão preto, farofa e couve refogada, muito visto em São Paulo. Mas também capixaba. Não sabe o que é? Alessandra explica: “É típica de Vitória, no Espírito Santo, é uma moqueca diferente da moqueca baiana porque não tem nem leite de coco, nem azeite de dendê, ela é mais suave, mais caldosa. Uma delícia”.

Às quartas há vaca atolada, ou seja, uma costela ensopada com mandioca, agrião e arroz branco, mas também pode optar pela mini feijoada. E as quintas são dias de galinhada tradicional, um prato mineiro, tal como a vaca atolada, e que não é mais do que frango cozido com arroz e açafrão da terra, picles de quiabo, milho verde e acompanha com pirão de legumes. Às sextas, há caldeirada de peixe e frutos do mar, arroz branco com coco e banana, e costelinha de porco assada com feijão tropeiro e torresmo. Além do prato, o menu inclui uma bebida e a sobremesa do dia (16,90€). 

Quiçá
Francisco Romão Pereira / Time OutCasquinha de siri gratinada com potinho de pimentas

Independentemente do que escolher, não deixe de espreitar as sugestões de petiscos e entradas. Não há pão de queijo, é verdade, mas há um surpreendente crocante de tapioca e queijo coalho com mel de engenho e tucupi preto levemente picante (7€/seis unidades), ou uma casquinha de siri gratinada com potinho de pimentas (7,50€), muito habitual nas zonas litorais do Brasil. Entre outras entradas, vale a pena também a cesta com seis pastéis de carne seca com catupiry e vatapá com camarão (9€). 

Quiçá
Francisco Romão PereiraCesta de pastéis

“Além disso tudo, a gente tem uma carta de cachaças que não são as cachaças que o restaurante brasileiro tem. Eu fui buscar cachaças artesanais, a cachaça que é feita com todo o amor e carinho porque ela é feita em pouca escala. É cachaça mesmo, não é aguardente”, diz ainda Alessandra, contando que é possível fazer uma degustação de três cachaças diferentes (9,50€). Claro está que não faltam as caipirinhas, sendo possível escolher entre a da casa (7,50€), com cachaça branca de alambique com lima e açúcar, ou uma receita a gosto (9,50€), onde opta pela cachaça e as frutas que quiser.  

Quiçá
Francisco Romão Pereira

Para os fãs de cerveja, há uma cerveja artesanal com o nome do restaurante. “Eu encomendei uma cerveja a um amigo mestre cervejeiro, também  brasileiro, porque queria ter uma cerveja que fosse nossa. É uma IPA, tem um aroma frutado, mas harmoniza com a maioria dos nossos pratos. São pequenos detalhes que mostram o carinho que a gente dá”, atesta Alessandra. 

Para despedida, há boas sobremesas, onde Fred deixa revelar mais a escola francesa, de uma mousse de chocolate com cacau brasileiro, calda de maracujá e crocante de castanha de cajú (6€), a um bolo de rolo com goiabada, calda de goiaba e queijo meia cura (6€), ou pudim de tapioca e coco com baba de moça (6€). 

Quiçá
Francisco Romão PereiraBolo de rolo com goiabada, calda de goiaba e queijo meia cura

“O Quiçá é isso, comida autêntica de um chef extremamente apaixonado pelo que faz, com a Alessandra Azanha cuidando do resto. Boa música, conforto, e as caipirinhas para deixar a gente legal”, conclui Fred, ao mesmo tempo que Alessandra não tem dúvidas de que vão “fazer Portugal redescobrir o Brasil através da gastronomia”. 

Av. 24 de Julho 110 (Alcântara). Ter-Qua 12.00-15.00. Qui-Sáb 19.00-23.00. Dom 12.00-15.00

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