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Rachel Weisz reimagina ‘Dead Ringers’ como uma série para quem tem estômago forte

O thriller psicológico originalmente realizado por David Cronenberg tem nova versão. Os gémeos ginecologistas são agora duas mulheres. Estreia a 21 de Abril, na Prime Video.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Rachel Weisz
©Niko Tavernise/Prime VideoRachel Weisz, em 'Dead Ringers'
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Em 1988, estreava Dead Ringers (Irmãos Inseparáveis em Portugal), um filme do cineasta canadiano David Cronenberg em que Jeremy Irons interpreta os gémeos Elliot e Beverly Mantle, ginecologistas inovadores que, tanto na vida como no trabalho, são as duas faces da mesma moeda. Mas uma mulher troca-lhes as voltas. Agora, numa nova versão da trama que está a chegar à Amazon Prime Video, em formato minissérie, a profissão da dupla mantém-se, mas muda-se o género. É a actriz Rachel Weisz, também produtora executiva, que veste a pele de duas gémeas, igualmente chamadas Elliot e Beverly, que gerem uma reputada clínica de fertilidade, a Mantle Clinic (tal como no filme original), embora nesta adaptação as profissionais de saúde procurem investidores para abrir um centro de partos topo de gama, com condições mais dignas para as mulheres.

Cronenberg, realizador e argumentista do filme de 1988, inspirou-se na altura numa história verídica de dois irmãos gémeos ginecologistas, Stewart e Cyril Marcus (1930-1975), prodígios da ginecologia que entraram numa espécie de espiral auto-destrutiva que envolveu consumo de barbitúricos e anfetaminas, más práticas com os pacientes e, por fim, uma sala de espera vazia. Foram encontrados mortos num apartamento em Nova Iorque, completamente virado do avesso, e até hoje a morte está envolta em mistério. Mas se o realizador canadiano é conhecido como o “Rei do Terror Venéreo” ou “Barão do Sangue”, a nova produção é bem capaz de lhe dar um 10 a 0 nesse campeonato. E logo no primeiro episódio, sem pedir licença, com imagens bem realistas de partos dramáticos e violentos.

Rachel Weisz
©Niko Tavernise/Prime VideoRachel Weisz, em 'Dead Ringers'

Elliot e Beverly partilham tudo. As drogas, as conquistas e, nesta versão para o streaming, o desejo de desafiar os limites éticos da medicina, com o objectivo de abolir práticas antiquadas e colocar a saúde das mulheres no topo das prioridades. E apesar de serem duas forças semelhantes, Yin de um lado e Yang do outro, trocando de papéis quando lhes convém, a relação das gémeas fica mais tensa quando Beverly inicia uma relação com Genevieve (Britne Oldford), uma paciente por quem fica profundamente apaixonada – o nome da personagem é um piscar de olho à actriz que no filme original interpreta o interesse amoroso de Beverly, Geneviève Bujold, hoje com 80 anos.

A génese desta adaptação partiu de Rachel Weisz, que desde adolescente vive intrigada com o filme de Cronenberg. “Eu gostava muito do género thriller psicossexual e o Jeremy Irons estava sensacional”, diz a actriz numa nota de imprensa enviada pela Prime Video. “Eu também estava obcecada com a performance da [co-protagonista] Geneviève Bujold. Todos os personagens são avariados – muito avariados. E o filme é inesquecível.” Filme esse que acompanhou o pensamento de Weisz nas décadas seguintes, período durante o qual foi amadurecendo a ideia de contar uma história sobre irmãs. Até que, um dia, fez-se luz: e se reimaginasse Dead Ringers como uma história sobre gémeas ginecologistas-obstetras?

Em 2017, a actriz discutiu a ideia com a produtora Sue Naegle (Sete Palmos de Terra, A Guerra dos Tronos) e, para encabeçar a equipa de argumentistas convidou Alice Birch (Succession, Normal People), que apresentou o primeiro esboço de guião em 2019. No ano seguinte, Weisz e Naegle venderam a série à Amazon e não demorou muito até que reunissem uma sala com oito guionistas, todas mulheres. Um dos pontos fortes do argumento é que tanto Weisz como Neagle fizeram questão de baseá-lo em ciência real, e uma das principais tarefas em cima da mesa desta operação passou por alterar a obsessão com “mulheres mutantes” dos protagonistas masculinos do filme para as ambições científicas mais centradas na realidade, com as irmãs Mantle a quererem revolucionar os procedimentos envolvidos no parto.

Birch explica que era fundamental para os argumentistas “desenhar” as irmãs Mantel não só como as personalidades opostas que vemos no filme (um Elliot hedonista e egocêntrico, e um Beverly mais educado e sensível), mas também aprofundando as suas ambições na medicina. “Queríamos explorar a ciência da ginecologia através da obsessão de Elliot com o parto e o facto de Beverly estar mais enraizada na ciência”, diz Birch. Para cimentar o realismo do argumento, foram consultados diversos médicos especialistas de Nova Iorque, assim como uma parteira no activo. E as argumentistas, como mulheres, puderam também dar um contributo baseado nas suas histórias e perspectivas pessoais sobre o tema.

Mas nem toda a equipa técnica é composta por mulheres. À equipa de produção juntou-se o realizador Sean Durkin (Martha Marcy May Marlene), que lhe acrescenta um toque muito pessoal. “Ele é todo tom e atmosfera. Pode mostrar duas pessoas numa sala a ter uma conversa normal e fazer com que se sinta que algo terrível está para acontecer. Da mesma forma, a escrita da Alice é engraçada, enérgica, travessa, mas com uma sensação de mau presságio por detrás de tudo”, descreve Weisz. No primeiro episódio, somos confrontados com a realidade nua e crua do parto e, sim, há sangue, muito sangue. Uma abordagem que Durkin descreve como “gore verdadeiro”. “Queríamos dar ao público a sensação de que está lá, que está no meio da confusão e do stress do parto – sangrento, mas verdadeiro”, diz. Weisz acrescenta: “É um óptimo lembrete de como o parto pode ser perigoso. Geralmente acaba bem, mas ainda assim, para algumas mulheres, é muito perigoso.”

Haverá muitas camadas para explorar nesta série, que tanto fala de um sistema de saúde em falência e da sociedade de classes como de amor, co-dependência e ambição. Mas, conclui Birch, a história também é sobre “um milhão de maneiras diferentes de trazer um bebé ao mundo. Às vezes é violento, às vezes é triste e às vezes é lindo e poderoso. E deve haver histórias sobre todas essas experiências.”

Amazon Prime Video. Estreia a 21 de Abril

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