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Regresso do comboio Presidencial ao Douro com Chakall na cozinha acaba em processo judicial

Alegadas semelhanças com o projecto que, anteriormente, dinamizava o transporte histórico, pode levar a CP, o chef Chakall e a Fundação do Museu Nacional Ferroviário a tribunal.

Escrito por
Patrícia Santos
The Presidential
© Arlindo Camacho
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A partir de Março de 2024, torna a ser possível atravessar o Douro a bordo do Comboio Presidencial, no que pretende ser uma experiência imersiva pela região, com direito ao que de melhor tem a oferecer: bons vinhos, boa comida e uma paisagem digna de postal. Apesar de idílico, o projecto que sentou a CP – Comboios de Portugal, a Fundação do Museu Nacional Ferroviário e o chef Chakall à mesma mesa vê-se envolvido em controvérsia ainda antes de arrancar oficialmente. O motivo? As semelhanças com o conceito que o antecedeu.

Até 2022, o comboio de 1890, no qual já viajaram chefes de Estado, reis e Papas, estava a ser dinamizado pela Lohad, empresa liderada por Gonçalo Castel-Branco. The Presidential era o nome da iniciativa, posta em marcha após a composição histórica ter sido alvo de um restauro de 1,5 milhões de euros (dos quais 1,2 milhões provenientes de fundos comunitários). Esta consistia na realização de passeios turístico-culturais, com menus assinados por chefs Michelin.

Ainda que as semelhanças entre a proposta actual e aquela que a antecedeu sejam difíceis de ignorar por quem conhece as duas, Pedro Moreira, o presidente da CP, defendeu a autenticidade do novo serviço quando questionado sobre as mesmas na última quarta-feira, dia 15 de Novembro, na sequência de uma viagem de apresentação do produto turístico. “Proporciona uma experiência completamente diferente da anterior”, começou por dizer. “Quisemos que fosse muito mais democrática, com maior envolvimento da região. O que existia não tinha um envolvimento tão grande. Havia um acordo com uma quinta, nós temos um acordo com dez quintas e com vários restaurantes da região", acrescentou aos jornalistas. O líder da transportadora também comentou que o conceito de aliar viagens de comboio a experiências gastronómicas não é novidade e “acontece em vários países do mundo”.

Em comunicado divulgado esta quinta-feira, dia 16, a companhia de Gonçalo Castel-Branco mostra não pensar da mesma forma ao afirmar que o formato agora lançado “vem utilizar de forma ilegítima o património intelectual da empresa e o reconhecimento mundial do projecto, causando-lhe danos reputacionais elevados”.

“Esta iniciativa da CP/FMNF/Chakall apresenta, intencionalmente, uma confundibilidade estratégica com o projecto desenvolvido durante anos pela Lohad. Assim, este assunto estará, a partir de hoje, entregue às instâncias judiciais competentes, nacionais e europeias, para que seja dirimido em sede própria”, avança a mesma nota.

Reforça, igualmente, que “se o ‘The Presidential Train’ conquistou os prémios e a reputação internacional que todos lhe reconhecem é, em grande medida, porque sempre recusou trocar chefs conceituados por meras estrelas televisivas e profissionais por curiosos, e sempre preferiu a qualidade do projecto e o seu contributo para o prestígio internacional do turismo português ao lucro rápido”.

Polémicas à parte, o programa apresentado esta semana e que pretende funcionar como “uma celebração viva da história ferroviária de Portugal, transformando uma peça de museu numa experiência dinâmica e interactiva”, segundo as entidades envolvidas, destaca-se por contar com um menu assinado por Chakall. O argentino procurou “representar o bom da região” na sua proposta. Para isso, além de fazer uso de produtos locais, como o pão e o presunto que lhe foi entregue durante a paragem em Peso da Régua, o cozinheiro resolveu integrar as pessoas que dão vida à zona.

“O menu grande vai ser definido por mim e pela minha equipa, mas o prato principal será sempre de um cozinheiro ou de uma cozinheira que não tem o reconhecimento que merece”, detalhou, sem adiantar os nomes destes cozinheiros, na conferência de imprensa realizada na Estação do Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa, a última paragem de um percurso com duração de, aproximadamente, quatro horas e início na Estação de São Bento, no Porto. A ideia é proporcionar uma experiência com “espírito familiar”, marcada “pelos melhores vinhos e pelos melhores pratos de Portugal”.

Sopa de castanha com pato confitado, tártaro de vitela mirandesa, cabrito à padeiro, cavaca com laranja e picolé de vinho do Porto foram algumas das receitas servidas na viagem experimental, que contou com música ao vivo.

Apesar de envolver instituições públicas, os valores do negócio não foram revelados até ao momento. Pedro Moreira justificou o silêncio quanto a estes dados com “sigilo comercial”. Revelou, contudo, tratar-se de “um valor elevado, ao ponto de, para [a iniciativa] ser rentável, [o comboio] ter de estar com uma lotação próxima dos 70%”. Este tem 72 lugares, mas a capacidade pode ser ajustada de acordo com as reservas e o tipo de ocupantes, como famílias, casais, amigos ou empresas.

O preço da viagem, já em pré-reserva, é de 750€, exactamente o mesmo valor da experiência de Gonçalo Castel-Branco no ano passado que reuniu ao longo de várias semanas chefs como Henrique Sá Pessoa, Rui Silvestre, Vasco Coelho Santos, Marlene Vieira ou Óscar Geadas. Quando não está a circular, o Comboio Presidencial pode ser visitado na Fundação do Museu Nacional Ferroviário, com sede no Entroncamento, cidade no distrito de Santarém.

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