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Os clientes habituais que fazem o espaço há décadas já sabiam que era uma questão de tempo. Albino Oliveira de 77 anos não ficaria muito mais tempo à frente do Snob e por isso, quando em Setembro foi notícia que o histórico bar e restaurante da Rua do Século tinha sido vendido, multiplicaram-se as histórias e o receio de que fosse o fim de uma era. Esta segunda-feira, menos de três meses depois do anúncio da compra do Snob pelo grupo São Bento, os ânimos serenaram. O Snob reabriu e não perdeu a alma.
Ainda na rua, a mudança é visível. O antigo toldo que protegia a porta – que, tal como antigamente, só se abre apenas depois do toque da campainha – foi substituído por um novo, mais elegante. Mais abaixo, também as janelas ganharam toldos verdes. Entrando, tudo é familiar, embora claramente renovado. A madeira que cobre o espaço reluz, a alcatifa no chão é de um vermelho vivo. Cheira a novo e é palpável o início de um novo ciclo – 60 anos depois, augura-se longa vida.
“O senhor Albino esteve lá ontem [segunda-feira] e já tinha estado lá comigo há duas semanas. Está todo contente, vê aquilo com vida nova e com o potencial de ter muito mais futuro”, começa por destacar ao telefone Miguel Garcia, preparando-se para mais uma noite no eixo Bairro Alto/Príncipe Real. Se na inauguração o bar e restaurante estava aberto apenas para convidados, nesta terça-feira já é a valer. “Estamos entusiasmados”, assegura o responsável, que assim que soube que Albino desejava reformar-se, por um cliente habitual do Snob, fez questão de não deixar morrer a história. “O que me movimentou para o Café de São Bento é o que me movimenta para o Snob”, justifica. “A razão de eu abraçar estes projectos é um bocadinho a mesma, são lugares icónicos da cidade de Lisboa, são lugares que têm que ter continuidade como sempre foram. Têm uma tradição, têm um modus operandi igual há décadas, têm de permanecer iguais”, defende. “São lugares que fazem a cidade de Lisboa e fazem história. Têm que ter estas actualizações para permanecerem no tempo.”
Foi em 2022 que o empresário comprou o Café de São Bento, mesmo em frente à Assembleia da República, com o desejo de manter tudo como estava. Na altura, também fechou o restaurante por breves meses para que se pudessem fazer umas obras de renovação, para mudar apenas o que estava marcado e manchado pelo tempo. Dois anos depois, e com um novo Café de São Bento a abrir no primeiro triénio, desta vez em Cascais, Miguel Garcia aplicou o mesmo modelo ao Snob. “Mantivemo-lo exactamente como era, ou seja, como o espaço estava dividido, os materiais utilizados… Na verdade, o que fiz foi substituir o que estava estragado e não tinha qualquer hipótese de recuperação, mas usando o mesmo. As casas de banho tiveram de ser novas, a cozinha também teve uns ajustes”, enumera.
O maior desafio talvez tenha sido a escolha da equipa. “Hoje tenho uma pequena vantagem, que é obviamente o conhecimento que tenho do Café de São Bento e da forma de estar neste tipo de restauração. Já tenho uma equipa com mais de 100 pessoas, fizemos o recrutamento interno”, revela. “Isto não é para qualquer um, eu acho que não é qualquer um que pode dizer 'ok, vou ficar aqui a longo prazo, quero criar relações com estas pessoas, com estes clientes que vêm cá várias vezes e que têm imensas memórias’. Isto é especial”, acredita Miguel, seguro das decisões tomadas.
Albino Oliveira nunca foi deixado de fora do processo. Para Miguel, foi, aliás, a peça-chave de tudo. Nas últimas duas semanas atrás do balcão do Snob, o antigo proprietário esteve sempre acompanhado. “A minha equipa esteve com o senhor Albino para aprender as receitas e termos tudo exactamente como ele fazia e assim garantir que estamos a fazer a mesma receita, estamos a seguir o mesmo padrão”, acrescenta. Foi Albino que apontou os essenciais e afamados da carta: o bife (20€/lombo, vazia/17€), os croquetes (4,5€/dois), os pregos (9€-12€) e a mousse de manga (5€). As suas receitas vêm, na verdade, apontadas no menu, apresentado em jeito de folhetim informativo, numa referência aos muitos jornalistas que sempre frequentaram a casa.
“Onde realmente alargámos um bocado a oferta foi na parte de destilados. Triplicámos e criámos ali uma oferta de coquetalaria que se calhar antigamente não era tão forte e criámos condições para isso”, antecipa o empresário, que detém também o Bougain e o Corleone, ambos em Cascais. “A parte do bar é muito importante, funcionamos das sete da tarde às duas da manhã. É bom para quem quiser ir beber um copo antes de jantar, quem quiser ir jantar e em vez de beber um vinho beber uns cocktails, ou a seguir ao jantar seguir para o Snob. Não vamos obrigar que as pessoas lá cheguem todas para jantar”, explica, demostrando vontade de alcançar também novos públicos. “Acreditamos que o Snob tem este compromisso de permanecer com os mesmos clientes, voltado para os portugueses, para os jornalistas, para os artistas, escritores, mas também [pode chegar a] um público jovem, que também gosta de coquetalaria, que também gosta de destilados”, conclui. “Queremos dar continuidade à história, agora é um caminho que se faz caminhando.”
Rua de O Século 178 (Bairro Alto). 926 459 164. Seg-Dom 19.00-02.00 (a cozinha fecha às 01.00)
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