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A vista é desafogada, numa zona da cidade que tem vindo a ganhar um novo impulso à boleia do empreendimento Prata Riverside Village, mas também do Parque Ribeirinho Oriente. O Rio de Prata, aberto desde Novembro, é, na verdade, o casamento entre os dois mundos. Fica num destes prédios novos, colado ao novo jardim. Tem esplanada, duas salas amplas e uma carta de conforto com sabores conhecidos, mas toque de chef – até mesmo nas sobremesas.
“A ideia foi ter um espaço que não se sobrepusesse ao exterior e que fosse algo também alcançável para as pessoas”, começa por destacar Bernardo Ventura, que depois de ter tirado o curso de piloto viu o sonho de voar ameaçado pela pandemia. Nessa altura, foi desafiado para abrir o World of Heroes, o restaurante dedicado aos heróis de banda-desenhada no Marquês de Pombal, e aí despertou a vontade de abrir um negócio seu. Entre os dois restaurantes, porém, não há nada em comum. Junto ao Tejo, Bernardo quer honrar a gastronomia portuguesa, mas não sem lhe dar um twist, e para isso conta com a chef Carla Sousa, que estava num interregno depois de oito anos à frente do restaurante do Hotel Valverde, na Avenida da Liberdade.
O encontro entre Bernardo e Carla foi quase um acaso. “Uma pessoa que conhecia uma pessoa” sugeriu o nome da chef quando soube que Bernardo estava empenhado em dar vida ao Rio de Prata. “A Carla queria abraçar um novo projecto, descontraído, e isto é um espaço sem vícios, chave na mão”, conta Bernardo, que, apesar da pouca experiência na área, sabia bem o que queria. “A ideia foi pegar na matéria-prima portuguesa, fazer com que a comida se realçasse por si própria. São sabores portugueses, mas não é comida tradicional portuguesa. A chef Carla e eu desenvolvemos um menu que fosse de partilha”, continua.
“O Bernardo gosta muito de comer, comer bem, e foi dando opiniões. Foi muito fácil. Ele dava umas ideias e nós facilmente agarrávamos nisso e trabalhávamos de uma forma mais técnica”, acrescenta a chef, que conta no currículo com experiência na extinta Cervejaria Lusitana do chef Vítor Sobral, no Penha Longa Resort com o chef Rui Calçada, ou no Bairro Alto Hotel, na altura em que lá esteve Henrique Sá Pessoa. “Já tenho um percurso um bocadinho longo”, diz Carla, apontando Sá Pessoa como o seu “grande inspirador”. “Foi com ele que percebi que queria ser chef.”
Na cozinha aberta do Rio de Prata, Carla está decidida a apostar “numa cozinha simples, mas muito saborosa, com um toque contemporâneo”, sempre influenciada pelas suas raízes cabo-verdianas. Como? “Tento ir buscar um bocadinho aquele exotismo, aquela mistura de condimentos um bocadinho mais acentuada, mais forte e não necessariamente picante. As marinadas, os temperos. Aprendi isso desde pequenina”, revela.
Na carta, dividida entre pratos para partilhar e principais do campo, do mar e da terra, Bernardo garante que já se começam a destacar alguns pratos, como as chamuças de pato e laranja caramelizada (9€), os croquetes de alheira e compota de pimentos (8€) ou os ovos rotos com duo de batata (9€).
Nos pratos mais compostos, a partilha também é possível. Bernardo diz uma e outra vez que o objectivo é que todos os que aqui chegam se sintam à vontade. “É um espaço dos 8 aos 80, onde se pode vir beber um copo ao final do dia, apreciar a vista e ficar para jantar, mas também se pode vir em família, as crianças podem brincar no jardim, andar de bicicleta enquanto não vem a comida. É muito versátil”, defende o responsável. Para os miúdos, não há um prato na carta, mas a chef tem sempre uma solução. “Esta semana é um hambúrguer. Já foi bitoque. No fundo, é uma sugestão da chef para os miúdos”, explica Bernardo. Tal como o prato de bacalhau aparece na carta apenas como “bacalhau à chef” (17€) porque todas as semanas é diferente.
“O bacalhau é aquele prato que dá para mil e uma coisas, eu acho até um bocadinho desperdício e injusto para a própria proteína que é tão versátil, fixar só com um. Porque não variar? Para nós é um desafio”, assegura a chef, destacando ainda outro prato de bacalhau, o prego em brioche caseiro (16€). Na parte dedicada ao mar, há ainda um atum braseado com xerém e berbigão (19€), um tentáculo de polvo, batata doce e romanesco (18€), e um lombo de garoupa com arroz de tomate (18€).
Na carne, as opções dividem-se entre bochechas estufadas com puré de castanhas e maçã (17,5€), entrecosto caramelizado (18,5€) e coxa de pato confit com polenta aromatizada (18€), mas também a bisteca “T-Bone” (45€/400gr) e o tornedó de novilho (18€).
Para a cozinha, Carla chamou também a sua irmã, Ângela Sousa, chef pasteleira que trabalhava anteriormente no Darwin's Café, na Fundação Champalimaud. “Acho que é muito importante numa cozinha haver alguém igualmente dedicado às sobremesas. Eu faço sobremesas, sempre fiz, trabalhei muito anos sem pastelaria, mas sei a dificuldade que é e acho que temos de apostar nas sobremesas exactamente da mesma forma que se aposta nos pratos porque uma coisa complementa a outra”, justifica Carla. “Para isso tem de haver dedicação, técnica e conhecimento. Eu, por mais que queira, tenho de me dedicar só a uma.”
A aposta é por isso notória. Há tantas entradas de sobremesas na carta como nos pratos, sendo tudo feito em casa, frisa Bernardo. Do mil-folhas de pistáchio e sorbet (8,5€) à tarte de queijo e telha de medronho (6,5€), das farófias e crocante de canela (6,5€) à mousseline de frutos vermelhos (7€). Nada como um passeio à beira-rio para descobrir.
Prata Riverside Village, 8 loja 6 (Braço de Prata). 218 681 080. Qua-Qui 12.30-15.00, 19.00-23.00. Sex-Sáb 12.30-15.00, 19.00-00.00. Dom 12.30-17.00
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