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Era segredo, mas o burburinho à volta do Parque Tejo já apontava nesse sentido: é naquele local, na ponta Leste da cidade, que se vai realizar o Rock in Rio Lisboa em 2024. A novidade foi oficializada esta quinta-feira de manhã pela organização e pela Câmara Municipal de Lisboa, numa conferência de imprensa organizada no que será o recinto a 15, 16, 22 e 23 de Junho. O festival deixa assim a Bela Vista ao cabo de 20 anos e dez edições, mas não é certo que seja para sempre. Para já, só há acordo para o próximo ano.
Roberta Medina, vice-presidente executiva do Rock in Rio, reconheceu o “bafafá” que havia sobre o assunto desde Janeiro. No entanto, garantiu que a decisão foi tomada há apenas 15 dias. “Parecia que estávamos em festival nas últimas duas semanas”, disse. A promotora revelou ter visitado o espaço com Carlos Moedas antes da realização da Jornada Mundial da Juventude. Foi relutante, mas voltou “apaixonada” pelo local, que afirma ter “uma infra-estrutura divinal”. “Deslumbra o trabalho que está feito aqui.” E ainda faltam a iluminação e as sombras permanentes, que devem resultar do projecto paisagístico a apresentar pela autarquia até ao final do ano.
A proposta que o presidente da Câmara apresentou para o Rock in Rio Lisboa não implicava uma mudança definitiva. E isso foi visto com agrado do lado do festival. “Você faz uma edição especial, não tem de ser para sempre”, recorda Medina. Mesmo assim, esta pediu uma contrapartida: a recuperação do prado do Parque da Bela Vista, actualmente muito pisado e com pouca capacidade para aguentar a “relva” durante todo um evento deste género. “Há muitos anos que o parque [da Bela Vista] merece e precisa.” A autarquia aceitou. O que significa que agora é preciso uma intervenção técnica e um período de pousio. “Um ano de folga”, frisou Roberta Medina.
Um ano. Esta afirmação indiciaria que também o MEO Kalorama, que desde 2022 acontece na Bela Vista e tem terceira edição marcada para 29, 30 e 31 de Agosto de 2024, tivesse de mudar de local no próximo ano. Contudo, quando já respondia a questões dos jornalistas no final da apresentação, Carlos Moedas disse em resposta à Time Out que ainda não está nada previsto nesse sentido. A Time Out questionou ainda a organização deste festival, por escrito, sobre possíveis negociações em curso, mas ainda não obteve resposta.
“Até à data do Rock in Rio, precisamos que esteja em pousio. Depois dessa data, veremos o que pode ser feito”, disse Moedas. “Até ao Rock in Rio, nada acontecerá de espectáculos na Bela Vista. Mas a Bela Vista continuará a ser um sítio para eventos e grandes espectáculos”, sublinhou. “Vamos passar a ter dois sítios. Só tínhamos a Bela Vista, agora temos a Bela Vista e o Parque Tejo Lisboa. A capacidade cresceu. Para o prado ser recuperado, aquilo que nos foi dito pelos técnicos é que até à data do Rock in Rio não pode haver nada. Depois, veremos. Assim que estiver recuperado, já pode haver espectáculos”.
O autarca acredita que a intervenção no Parque da Bela Vista tenha um custo “relativamente barato”. “Estamos a falar de investimentos de paisagismo. No caso da recuperação do prado, é a compra de duas ou três máquinas, que vão cortá-lo, que vão regá-lo. Vamos fazer isso com água sustentável, água da estação de tratamento, para não gastar dinheiro em água potável. E, portanto, é tudo relativamente barato. Estamos aqui a falar de custos muito baixos, mas tudo isso será transparente no portal da Câmara.” Quanto a custos acrescidos decorrentes da mudança do Rock in Rio para o Parque Tejo, Carlos Moedas foi taxativo: “Nada muda”. “O que [o festival] vai custar é o que custava na Bela Vista. A Câmara Municipal participa com as chamadas isenções de taxas, com tudo aquilo que está no protocolo, que é exactamente o mesmo, nada muda. Portanto, o que custava na Bela Vista é o que custa aqui para o contribuinte, que são todas essas isenções que fazemos, que são históricas, e que fazem parte de ter eventos como estes nas cidades.”
O novo recinto do Rock in Rio Lisboa – ou Cidade do Rock, como lhe chama a organização do festival – terá mais 30 mil metros quadrados do que no Parque da Bela Vista. “Mais que o dobro da Bela Vista inteira”, observou Roberta Medina. No entanto, a lotação mantém-se em 80 mil pessoas por dia. O espaço que sobra ficará para as outras actividades que animam o festival para lá do cartaz dos concertos, a decorrer em cinco palcos. Cada um, promete a promotora, terá uma clareira para funcionar como “anfiteatro natural”. O principal – ou Palco Mundo – é o que ficará mais enquadrado com o rio Tejo e a ponte Vasco da Gama. E já se sabe um dos nomes grandes que por lá vão actuar, neste caso a 16 de Junho: Ed Sheeran, cantor e compositor britânico que se estreou no festival em 2014.
Um dos palcos – o All in Rio – é essencialmente a pala do altar-palco construído para a Jornada Mundial da Juventude, no início de Agosto. O resto da estrutura – que custou 2,9 milhões de euros no total – foi desmontado e retirado do local, embora continue à disposição para voltar a ser utilizado. "A estrutura do palco da JMJ, ela existe e pode ser usada a cada momento. É só o Rock in Rio precisar dessa estrutura e ela será colocada. Não pode é ficar ali ao ar”, afirmou Carlos Moedas. A ideia é que o All in Rio seja uma nova imagem de marca do festival, tal como se pretende que a pala se torne um elemento distintivo do Parque Tejo. Para ali prevê-se uma programação complementar aos concertos e que este seja “um palco para todos pensarmos o futuro”, nas palavras de Moedas.
No que respeita à mobilidade, Roberta Medina lembrou que o Parque Tejo é servido pela estação ferroviária de Sacavém e pela estação intermodal do Oriente, de onde haverá shuttles a sair em direcção ao festival durante os dias do Rock in Rio Lisboa. Carlos Moedas, por seu lado, adiantou que trabalhará com a Carris para haver um reforço de autocarros durante esses períodos e deixou implícito que também haverá espaço para estacionamento.
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