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Este rinoceronte que está representado na guarita Noroeste da Torre de Belém não é um qualquer. Chegou a Lisboa a 20 de Maio de 1515, vindo de Cochim, e causou alvoroço: era o primeiro rinoceronte a ser visto, vivo, na Europa, desde o século III. É o famoso rinoceronte retratado em xilogravura por Albrecht Dürer, apesar de Dürer nunca o ter visto: baseou-se num desenho e descrição que lhe foram enviados de Lisboa, em 1515, e de que não se afasta muito. “Tem a cor duma tartaruga salpicada, é enormemente maciço e coberto de escamas”, diz o texto da gravura.
E agora é altura de ter uns kleenex à mão porque a história é triste. A rinoceronte, sim, era uma ela, a que chamaram Ganga (nome dado aos rinocerontes na Índia), foi oferecida pelo sultão de Cambaia ao vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque, que por sua vez a ofereceu a D. Manuel I. Após 120 dias de viagem em alto mar, em que cruza o Índico, passa o Cabo das Tormentas e sobe o Atlântico, este animal de pradaria alta e floresta, habituado a comer erva fresca, chega a Lisboa, saudável, alimentado com palha, feno e arroz cozido. D. Manuel I fica agradado com a figura exótica deste bicho de duas toneladas e aspecto coriáceo e decide oferecê-lo ao Papa.
Agora é que os kleenex entram mesmo em cena. Na viagem para Roma, uma violenta tempestade afunda o navio, perto da costa de Génova. Morrem todos os tripulantes e também a nossa Ganga, porque estava acorrentada ao convés. Os rinocerontes sabem nadar – os rinocerontes asiáticos são, aliás, exímios nadadores. E depois de vir do outro lado do mundo, a Ganga morre afogada no Mediterrâneo, que, comparativamente com a viagem pelos oceanos a que sobreviveu, é… uma poça. Uma poça grande e funda, vá.
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