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Basile Jeandin mostra-nos os cantos à casa. Chegou a Lisboa há seis anos, para estudar Design de Comunicação, e acabou por nunca ir totalmente embora. "Decidi ficar. Por gostar da cidade, mas também porque, para criar um projecto assim, era melhor fazê-lo aqui", conta à Time Out. O projecto em questão chama-se Wasted Time e não se resume numa única ideia.
É, simultaneamente, loja e espaço de trabalho. "A direcção de arte é sobretudo um trabalho de secretária e, quando se está a fazer isso há muito tempo, sente-se falta de fazer algo com as mãos", continua. Entre Lisboa e Genebra, cultivou um novo gosto e aperfeiçoou-se no ofício – desenhar letras. "Este projecto é o seguimento dessa vontade de fazer algo manual, além de me ajudar a manter o equilíbrio."
O empreendedor suíço de 31 anos guia-nos, finalmente, pela oficina acabada de montar. Antes das ferramentas propriamente ditas, uma nota sobre o mobiliário, que foi projectado e construído no local, com a ajuda de um amigo arquitecto. No caso da grande mesa de trabalho, a história é ainda mais especial – foi construída a partir de um dos desenhos deixados pelo designer italiano Enzo Mari.
A zona dedicada à serigrafia fica um pouco mais à frente. Carimbos em madeira podem ser esculpidos à mão ou gravados a laser, para depois serem usados sobre papel ou tecido. As letras são desenhadas mesmo ao lado, numa espécie de estirador vertical. Daqui nascem produções próprias e colaborações com outros artesãos – e o resultado segue directamente para a loja, à entrada –, mas também encomendas de restauros em fachadas, coisa que o tem ocupado muito mais na Suíça do que em Portugal.
Na fachada da Wasted Time, está uma prova do talento deste autodidacta. As letras foram minuciosamente desenhadas e aplicadas sobre os vidros com folha de ouro. A cereja no topo de um trabalhoso bolo. Num espaço a precisar de remodelação, Basile encarregou-se de refazer as caixilharias, substituindo a antiga estrutura pela madeira tão característica do espaço.
Na loja, há peças de vestuário – edições sempre limitadas e, em alguns casos, produzidas localmente. Destaque para os casacos inspirados nas fardas operárias dos anos 70. Os logotipos e etiquetas são feitas na casa. Mas o destaque vai para as garrafas de aguardente velha com infusão de alho preto, um trabalho feito em colaboração com o produtor e com o restaurante BBB Taste, responsável pela fermentação do produto. Foram feitas 13 garrafas e todas elas têm um rótulo feito por Basile Jeandin. Junte-lhes um par de copos em barro preto e terá algo muito semelhante ao presente de Natal perfeito.
"Visto de fora, pode parecer uma perda de tempo estar a fazer coisas que as pessoas não precisam, mas que gostam de ter. Costumo dizer que são objectos supérfluos, mas essenciais", afirma Jeandin, enquanto explica a ideia por trás do nome do espaço. O futuro passa necessariamente por convidar autores e artesãos a fazer residências, portugueses e não só. O mesmo se aplica aos workshops – o espaço está igualmente preparado para receber interessados em aprender estas técnicas.
Até lá, este designer artesão vai continuar a dividir-se entre Lisboa e Genebra, mas também entre a profissão de designer gráfico e a paixão pelo desenho manual. É por isso que a Wasted Time não vai estar sempre de porta aberta. Antes de lhe fazer uma visita, espreite o Instagram e confirme se é boa altura para fazer uma visita.
Rua de Santo António da Glória, 6A. Por marcação
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