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Uma lona amarela por cima do chão pintado de rosa e um tecto de guarda-chuvas da mesma cor vai deixar a pensar na hepatite C quem passar na Rua Nova do Carvalho, de 23 a 28 de Julho (este último é o Dia Mundial das Hepatites Virais). É uma acção de sensibilização conjunta da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado, do Grupo de Estudos Português da Coinfeção e do Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT).
A hepatite C é uma doença para a qual (ainda) não há vacinas e que a Organização Mundial de Saúde tem na mira, com o ambicioso objectivo de a erradicar até 2030. Portugal não fica de fora deste compromisso, sendo que uma das principais formas de eliminar ou pelo menos combater a patologia é testá-la. Também por isso, na semana em que o rosa passa a amarelo, serão distribuídos panfletos informativos e haverá um ponto de testagem gratuita (ainda está por confirmar se será na "rua cor-de-rosa" ou no largo da estação do Cais do Sodré).
A campanha toma o nome Quem Vê Caras Não Vê Infeções, numa alusão ao aspecto assintomático da doença, que exige, por isso mesmo, diagnósticos atempados. Se a hepatite C é tratável e curável, já "a ausência de diagnóstico precoce e respectivo tratamento pode originar uma evolução para cirrose e, posteriormente, para cancro do fígado", alerta o médico Pedro Narra Figueiredo, presidente da SPG, que sublinha como "o aumento da capacidade de diagnóstico através da sensibilização dos médicos de família e dos utentes para esta doença, com enfoque particular entre os toxicodependentes e entre a população prisional, é fundamental".
É preciso medir
Em todo o mundo, contam-se dois milhões de novos casos das hepatites B e C por ano, um "descalabro sanitário", nas palavras de Guilherme Macedo, presidente do Colégio de Especialidade de Hepatologia da Ordem dos Médicos, que coloca o facto de Portugal estar na rota de muitos fluxos migratórios como um factor para o qual devemos olhar com particular atenção. "Sabe-se que 20% da população mundial não se encontra actualmente no seu país de origem e, na realidade, Portugal passa justamente pela mesma experiência migratória, pelo que este facto adiciona uma nova circunstância epidemiológica que há que considerar." Se as migrações representam um grande desafio a vários níveis, desde as políticas de integração às questões económicas, também crescem novas necessidades na área da saúde, como a "de reorganizarmo-nos e estabelecermos planos definitivos para cumprir as metas com que nos comprometemos com a Organização Mundial de Saúde até 2030", apela o responsável.
Não é com uma pequena campanha que se consegue acelerar neste objectivo global, mas a iniciativa que ocorre agora no Cais do Sodré "é um exemplo da estratégia de rastreio que deve ser intensificada no nosso país, especialmente nas comunidades mais afectadas”, explica Ricardo Fernandes, do GAT. É a primeira vez que se faz, na verdade, uma campanha assim, com o objectivo de que todos parem, escutem, olhem e testem.