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Um homem rico chamado Lázaro Lafourcade convida a família para um jantar na sua propriedade aristocrata no Alentejo. A razão do convite é um mistério para todos, mas tudo fica em suspenso quando o patriarca é assassinado. E todos são suspeitos. O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade é uma média metragem ambientada na década de 1950 e é, antes de mais, uma homenagem aos 80 anos de carreira que o actor Ruy de Carvalho assinala este ano, aos 96 de idade. José Raposo, Dalila Carmo, Isac Graça, Maria José Pascoal, Lídia Muñoz, Pedro Lamares, Guilherme Barroso, Erica Rodrigues e Rúben Gomes são os outros nomes do elenco, num filme escrito e realizado pelo cineasta Tiago Durão.
Em 2021, Tiago Durão estreou o seu não-documentário Eunice, Ou Carta a Uma Jovem Actriz, que celebrou os 80 anos de carreira de Eunice Muñoz, ao mesmo tempo que servia de passagem de testemunho entre duas gerações, neste caso entre Eunice e a sua neta Lídia, também actriz. Um filme com 47 minutos que acabou por valer a Tiago Durão o prémio Melhor Curta-Metragem – Documentário nos Prémios Sophia, atribuídos pela Academia Portuguesa de Cinema. Dois anos depois, Durão destaca os 80 anos de carreira de outro talento nacional, desta vez Ruy de Carvalho. A antestreia aconteceu esta segunda-feira no Cinema São Jorge, com direito a sala cheia e à presença do veterano actor. No dia seguinte, falámos com o realizador por telefone.
Afinal, o que nasceu primeiro? A obra ou a homenagem? Tudo começou no dia a seguir ao prémio Sophia, quando a equipa se sentou para almoçar e celebrar. E é aí que “surge a ideia de se fazer um filme”, embora não se soubesse bem o quê. “Fazia sentido, o Ruy ia comemorar 80 anos de carreira, eu tinha homenageado a Eunice e acho que é um trabalho de reconhecimento importante, enquanto estas figuras estão vivas. E, dada a morte da Eunice, o Ruy era o último representante daquela geração”, diz Tiago Durão, lembrando ainda Lourdes Norberto, apesar de ser sensivelmente uma década mais jovem. Com a certeza de que não se estrearia um outro filme por ocasião dos 80 anos de carreira do actor, as filmagens arrancaram em Setembro passado, numa produção planeada de forma a “não cansar muito” o actor”. “Então, tínhamos que construir um filme que fosse ao encontro daquilo que o Ruy também poderia e queria fazer”. E é uma obra muito distinta, em estilo e género, de Eunice, Ou Carta a Uma Jovem Actriz. Durão optou por algo que falasse para “o espectáculo que celebrou os 80 anos de carreira do Ruy, um mistério policial agathacristiano”, A Ratoeira.
“E há aqui também uma curiosidade. O Ruy começa em 1952 a fazer cinema. E eu acho que durante esse ano vigorava uma lei, apesar de ser bastante ignorada, que limitava a produção do cinema português a géneros. Um dos géneros permitidos era o cinema policial e, portanto, há aqui também um retorno ao clássico, a uma linguagem muito mais clássica – com a modernidade presente, claro. Mas há aqui também um regresso ao género que sempre foi tão mal-amado em Portugal. Todo o género, do terror ao policial, não é amado em Portugal”, sublinha o cineasta. Talvez por isso, talvez não, O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade não conseguiu apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). “Eu não sei se foi por ser de género. Nós concorremos ao ICA, não ganhámos no ano de 2022, com uma avaliação absolutamente medíocre por parte do júri. Eu sou o realizador, não me cabe a mim dizer isto, mas o filme que eu vi ontem, que era exactamente o filme que era defendido pelo projecto, não se enquadra naquilo que foi a avaliação do ICA”, defende. No entanto, Tiago Durão destaca um pequeno apoio da Direcção Regional de Cultura: “Nós vamos levar este filme às sub-regiões do Alentejo, agora durante o mês de Dezembro, completamente aberto ao público, de forma gratuita”. Um “serviço público” que permite levar a sétima arte a regiões com défice de salas de cinema. “O único cinema comercial que há no Alentejo é o cinema da NOS em Évora. Quem vive na Amareleja ou em Barrancos, por exemplo, tem que fazer mais de 80 quilómetros para ir ao cinema. E isto é completamente incomportável num país que se quer desenvolvido e descentralizado”, lamenta.
Com O Misterioso Caso de Lázaro Lafourcade, Tiago Durão volta ao formato média-metragem, embora não pela falta de apoios. “É uma opção artística e não só. O que acontece é que eu sou um amante das médias. E aqui achei que era uma boa duração para contar esta história. Não sou um grande amante das curtas de dez minutos. Acho que é preciso um grande engenho para contar uma história em dez minutos, que eu não tenho, ou que não reconheço que tenha. E acho que [o filme] não precisava de mais, nem de menos”.
A produção estreia esta quinta-feira, 23 de Novembro, em cerca de duas dezenas de salas portuguesas, do continente às regiões autónomas, e para Janeiro está preparada uma sessão especial na Cinemateca Portuguesa, cujos pormenores serão divulgados mais para a frente. Também no próximo ano, Tiago Durão planeia estrear um documentário sobre a Casa do Artista, uma produção que teve um pequeno financiamento da Sociedade Portuguesa de Autores.
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