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O festival anteriormente conhecido como Caixa Alfama mudou de nome: agora é o Santa Casa Alfama. Realiza-se entre sexta-feira e sábado e, no geral, é o mesmo de sempre. Apesar do novo nome.
O fado continua a ser transversal e Alfama é o bairro onde tudo acontece entre sexta-feira e sábado, com mais de 40 concertos distribuídos por 12 palcos, “com uma distância máxima de 100 metros entre cada um”, nas palavras de Luís Montez, da promotora Música no Coração.
A principal diferença é que este ano há mais nomes ligados à música pop e popular portuguesa do que nunca. “O pessoal não pode ter preconceitos”, defende o promotor. “Queremos trazer tudo o que gira à volta do fado” – e, nesse sentido, até vai haver duas marchas populares, a de Alfama e a da Santa Casa.
Quando se fala da ausência de nomes mais mediáticos, como Carminho ou Ana Moura, Montez responde que “o festival tem uma certa maturidade e já não precisa de ir buscar este ou aquele nome.” Ou seja, há uma maior liberdade para experimentar, testar novos artistas e abordagens. Assim se explica que alguns dos mais conhecidos cantores confirmados para esta edição não sejam propriamente fadistas. Por exemplo, os cabeças de cartaz do primeiro dia são Dulce Pontes e Paulo de Carvalho. Ela é um nome mais ligado à música popular portuguesa, apesar de sempre ter tido o fado no sangue e até ter sido uma pioneira de uma certa renovação do género – por exemplo nalgumas faixas do segundo álbum, Lágrimas (1993). Ele é uma figura histórica da canção portuguesa: foi um dos fundadores dos Sheiks, vencedor do Festival da Canção em mais do que uma ocasião, e uma presença recorrente no panorama nacional ao longo dos anos.
Dulce Pontes e Paulo de Carvalho não são os únicos artistas que vêm de fora do fado: sexta-feira, no palco Rooftop do Terminal de Cruzeiros de Lisboa, vai ouvir-se o cruzamento entre fado e flamenco de José Gonçalez e Sangre Ibérico; depois, o cantor pop Diogo Piçarra vai encontrar-se com o fadista Marco Rodrigues. Já no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima vão ouvir-se os fados de João Gil e João Monge. No sábado João Pedro Pais (sim, o de “Ninguém é de Ninguém”) canta fado no mesmo lugar.
Dito isto, claro que a maior parte dos nomes em cartaz são fadistas, ponto. Como o já referido Marco Rodrigues, que no ano passado apresentou aqui o disco Copo Meio Cheio, ou Raquel Tavares, a cabeça de cartaz de sábado, uma fadista cada vez mais pop e do agrado do grande público. Confirmados estão ainda, entre outros, Maria Emília, nascida em São Paulo mas a cantar há vários anos em casas de fado de Lisboa, cujo primeiro disco deve sair ainda este ano pela Valentim de Carvalho (e vai dar que falar) ou, para algo diferente, Paulo Bragança, singular e arrojado fadista com uma carreira iniciada e mediatizada na década 90, que andou uns tempos desaparecido e editou agora o EP Cativo, 17 anos depois do último álbum de material novo, Lua Semi-Nua.
Como sempre, há tempo e espaço para vozes mais tradicionais e veteranas. Casos de Maria da Fé, que sábado convida o elenco do restaurante Sr. Vinho – especificamente Duarte, Mel e Sara Paixão – para uma noite de fados no Rooftop do Terminal de Cruzeiros de Lisboa, e de Alexandra, que no mesmo dia vai mover-se entre o repertório de Amália e o fado tradicional, no palco principal. Também na sexta-feira, poderá ouvir o castiço Artur Batalha, o ribatejano João Chora, que assinala 30 anos de carreira, e Maria da Nazaré.
Não é só de fadistas que se faz o fado neste festival. A organização reservou o Largo Chafariz de Dentro para as guitarras e seus intérpretes. Destaca-se, na sexta-feira, o concerto da Família Parreira, ou seja, António Parreira, um dos grandes acompanhantes da guitarra portuguesa, com os filhos Paulo e Ricardo, que aprenderam com o pai e se impuseram há muito a solo. Antes toca Ângelo Freire. No sábado actuam Pedro Jóia, um dos melhores guitarristas portugueses, com uma carreira que se estende do fado e outras músicas tradicionais (portuguesas e não só) à pop, e Marta Pereira da Costa.