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Esta pode não ser a artéria lisboeta mais afamada no que toca a compras, mas se é verdade que muitas das ruas e avenidas da moda começaram assim, com modestas inaugurações e conceitos maiores do que a sua localização geográfica, talvez a nova Santo Infante seja apenas o primeiro (ou o mais proeminente) motivo para fazer desta zona, a mesma à qual inverteu o nome, um destino de romaria. Mesmo que não seja, a iniciativa dos irmãos Paz e Gonçalo Braga – reunir meia centena de marcas portuguesas num único espaço – marca pontos só por si.
Ele é um homem da gestão, ela a arquitecta que há cinco anos voltou a Portugal, após uma década a viver e a trabalhar no Brasil. No regresso, teve uma surpresa. "Foi quando descobri o que se fazia por aqui. Sabia que éramos bons em várias áreas, mas ver tantas marcas novas a aparecer foi uma novidade para mim", começa por explicar Paz, enquanto nos guia pelos cantos da nova loja. Prefere chamar-lhe espaço, tal a dificuldade em encontrar uma designação mais assertiva que faça jus à empreitada dos últimos meses.
Paz demorou um ano a elaborar uma lista de 100 marcas portuguesas. Estamos no domínio do design e da decoração, mas nem o rol está todo na loja – o catálogo é extenso e aqui haverá sempre só uma amostra –, nem o contador fica por aqui. "Quando voltei para Portugal, comecei do zero e surgiu logo este interesse em integrar peças portuguesas nos meus projectos. Mas demorava muito tempo a descobrir onde é que estava o quê e os clientes acabavam por desistir. Não tinha tempo para isso", continua.
A vontade de reunir as novas descobertas – em áreas tão distintas como o mobiliário, a cerâmica, o têxtil, a luminária, a tapeçaria e mesmo a ilustração – num único espaço trouxe os dois irmãos até ao 23B da Avenida Infante Santo. Poucos metros quadrados recheados com o que de melhor se faz aquém-fronteiras, mas também com múltiplas possibilidades de colaborar, co-criar e firmar parceiras. Promover sinergias entre as marcas e respectivos criativos, mas também entre as primeiras, Paz Braga e o atelier de arquitectura homónimo.
Um capítulo já inaugurado por Rita Sevilha, que expõe uma tapeçaria única numa das paredes da loja. Ao lado, estão as máscaras em barro da Grau. A marca de Isac Coimbra e Diogo Ferreira está prestes a fazer deste recanto showroom, resultado do incentivo dos proprietários que esperam que o espaço sirva também de ponto de encontro entre fornecedores e os seus clientes directos. Avistam-se outras etiquetas – os tapetes da Gur, as toalhas e guardanapos da Bicla, móveis Olaio, atoalhados Torres Novas e ilustrações de Carolina Celas, entre muitas outras.
Numa casa onde o foco são os projectos de interiores (e Paz já provou que é possível decorar uma casa inteira só com produtos portugueses), também os clientes finais têm a porta aberta para pequenas compras de ocasião. A tabela arranca nos oito euros (preço dos puxadores de Irena Uebler, desenhados e produzidos em Portugal a partir de garrafas de plásticos recicladas) e demora-se na casa das dezenas, com belas opções de presente pelo caminho. E o Natal não está assim tão longe.
Na cave, há um pequeno espaço de cowork com capacidade para dez pessoas e está praticamente esgotado. Designers e arquitectos estão no topo da lista, amigos e amigos de amigos também eles convocados para contribuir para o projecto dos irmãos Braga. Um deles, Afonso Almeida, foi o responsável por toda a imagem da Santo Infante, que até conta com uma fonte tipográfica própria, desenhada por um português, claro.
Até ao final do ano, esta loja 2.0 vai crescer – não em área útil, mas em marcas e autores, resultado de uma procura que não acaba, muito menos com a quantidade de novos negócios e ideias que populam o Instagram. Por essa altura, serão perto de uma centena e a loja online também já deverá estar a todo o vapor. Resta esperar pela agenda de workshops. Esses chegam já em Setembro e vão exigir que ponha mãos à obra.
Avenida Infante Santo, 23B (Alcântara). Seg-Sex 10.00-13.00 e 14.00-19.00.