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Desde Setembro, o São Luiz tornou-se mais acessível a pessoas com mobilidade condicionada. O balcão da bilheteira sofreu um rebaixamento, obra que já andava a ser pensada há algum tempo. Além disto, a directora executiva do teatro destaca outras mudanças que estão a ser implementadas noutros campos da acessibilidade.
As obras de remodelação do balcão aconteceram durante o Verão e foram finalizadas em Setembro. Segundo Ana Rita Osório, directora executiva do São Luiz Teatro Municipal, o espaço já estava, em grande parte, capacitado para pessoas com mobilidade reduzida. “Temos um espaço preparado para receber os visitantes e espectadores com necessidades específicas. Temos as salas, os espaços de circulação e os WCs, que estão pensados para acolher todos os públicos. Temos um lugar de estacionamento para pessoas com mobilidade condicionada, na rua, mesmo aqui junto ao teatro, e temos o rebaixamento do passeio”, explica.
A altura do balcão da bilheteira era, assim, um problema que se sentia há já algum tempo. “A bilheteira era o primeiro impedimento, então esta obra foi bastante importante para nós, porque foi pensada para poder estar preparada para receber qualquer pessoa. E a ideia é, acima de tudo, criarmos a possibilidade de o público poder fruir, da melhor maneira, os nossos espectáculos e a experiência de ir ao teatro. A bilheteira cria essa possibilidade”, continua.
A Acesso Cultura, organização que tem como missão promover o acesso físico, social e intelectual à participação cultural, acompanhou o projecto de rebaixamento do balcão, que considerava necessário, não só para o público, mas também para os funcionários. Maria Vlachou, fundadora e directora executiva da Acesso Cultura, chegou a trabalhar no teatro, entre 2006 e 2012, e lembra como o antigo balcão representava vários problemas. “Na altura, quando uma pessoa chegava de cadeira de rodas e tinha de pagar com o multibanco, a abertura do vidro nem sequer permitia passar bem a máquina do multibanco. Era mesmo difícil.”
A lei é para cumprir
Tal como o São Luiz, há outros espaços culturais que têm vindo a fazer as adaptações necessárias para acolher pessoas que circulam em cadeiras de rodas, entre eles a Casa Fernando Pessoa, o TBA, ou a Culturgest. Por outro lado, “enquanto pessoas que não têm deficiência dão tempo ao tempo, há pessoas que ficam sempre à espera para ver os seus direitos respeitados e, portanto, há coisas que deveriam andar com muito mais rapidez, porque existe conhecimento para isso e porque existe uma lei”, realça Maria Vlachou.
Apesar de vigorar desde 2006, a lei da acessibilidade não é cumprida em grande parte dos edifícios culturais que são reabilitados, ou que são construídos. “Há uma lei e é uma boa lei, mas também vemos edifícios novos que não a cumprem. Não é admissível, não há desculpa para isso. Muitas vezes, uma obra tem licença para avançar e só depois de tudo concluído é que alguém se lembra da acessibilidade. Neste caso, há entidades que têm de pagar mais dinheiro para corrigir quando, ainda por cima, estamos a falar de um sector que não tem muito dinheiro”, lamenta.
O caminho para um teatro acessível a todos
Mas há, sim, uma maior consciência e sensibilização para estas questões e parece que o trabalho tem sido feito em várias frentes. Falamos de pessoas com mobilidade condicionada, mas também de quem é cego ou surdo. No São Luiz, por exemplo, os espectáculos incluem duas sessões com recurso a língua gestual portuguesa, audio-descrição e legendas descritivas, mas a directora executiva avança que, em breve, vai ser adquirido um novo software, usado noutros teatros europeus, que permitirá ter as legendas do espectáculo nos telemóveis dos espectadores, além de dois pares de óculos através dos quais será possível ver as legendas e um intérprete de língua gestual portuguesa. “A grande questão dos recursos em relação aos espectáculos é que eles normalmente não são integrados no momento da criação. Quando pensa no seu espectáculo, o criador não pensa em como integrar legendas, a não ser que sejam espectáculos específicos que são criados a pensar na acessibilidade”, diz. O período de testes já começou e, em princípio, a partir de Janeiro será implementado.
Para Ana Rita Osório, o futuro passa por aí – ter em conta as questões de visibilidade ou audição condicionadas na hora de criar os espectáculos. “Fazemos parte de um projecto europeu (We Want More) e de uma rede, financiada pela União Europeia, com parceiros de outros países, em que o nosso foco será tentar motivar os artistas a pensarem as suas criações integrando estes serviços, e não ser um plus que vem depois do projecto estar terminado. No fundo, incluir todos nas suas criações.”
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