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Não é a primeira rua que nos passa pela cabeça quando queremos fazer compras em Lisboa. Com sorte, até somos repelidos pelos passeios estreitos e pelo estacionamento difícil. Uma impressão enraizada, mas que algumas pessoas estão a tentar mudar – curiosamente são mulheres, empreendedoras e criativas, investidas em dar nova vida à Rua dos Poiais de São Bento.
Sylwia Cylwik encabeça esta vontade colectiva de conquistar o público (lisboetas e forasteiros). Em Outubro, abriu no número 58. Desde então que o Kintu Studio se tornou numa montra de pequenos artesãos locais e de design de autor. “Para algumas marcas e artistas é difícil ter uma loja física própria. Quero dar-lhes espaço, ir apresentando novidades a cada um ou dois meses, mas também ser uma montra para novos lançamentos de colecções e colaborações”, assume.
Polaca de nacionalidade, encantou-se pelo saber-fazer português, mas na hora de abrir uma loja no coração de Lisboa não veio sozinha. A morada é partilhada com a Casa Angelita, o projecto das espanholas Julia San Millán e Olaya Mo. Enquanto a primeira reserva parte do espaço para o seu atelier de ilustração e cerâmica (onde trabalha nas próprias peças ou programa workshops), encontramos a segunda ao fundo de um estreito corredor. Na caixa-forte de uma antiga ourivesaria, montou a marquesa e dá largas ao próprio traço, mas também ao de tatuadores convidados.
É através de uma união de esforços que querem pôr esta rua no mapa. Aqui, em plena rota do eléctrico 28, já se reuniram amigos e convidados por ocasião de convívios e beberetes. Cenário que está prestes a repetir-se com o anúncio da primeira edição do Poiais à Noite, uma iniciativa conjunta, que mobiliza mais de uma dezena de espaços, do número 36 ao 120. Até porque na hora de convidar Lisboa a fazer as compras de Natal por estas bandas, toda a ajuda é bem-vinda.
Béhen e a primeira casa em Lisboa
Duas portas ao lado (e ainda com ligação pelo interior) está Joana Duarte, a designer de moda por trás da Béhen. Habituada à passerelle da ModaLisboa, mas também aos guarda-roupas de estrelas mundiais como M.I.A., Rosalía e H.E.R., instalou-se no número 52 no final de Novembro, depois de ganhar uma bolsa de empreendedorismo feminino atribuída pela Embaixada dos Estados Unidos.
Dentro do pequeno showroom, respira-se a essência da marca criada em 2019. Apesar de recente, o projecto já chamou a atenção da imprensa internacional – todas as peças são feitas a partir de toalhas, colchas e naperons, um upcycling embelezado por cristais Swarovski e bordados. Agora, os interiores não são excepção: há móveis que ganharam nova vida, candeeiros de parede e porcelanas dignas de enxoval e até as cadeiras foram estofadas com restos de tecidos usados no atelier. O resultado é uma sala de chá onde se pode ir às compras.
Embora não seja uma loja (convém marcar se quiser fazer uma visita), este é o primeiro espaço da Béhen aberto ao público. O feito entusiasma a jovem criadora, tal como a nova vizinhança, que agora se organiza numa espécie de open night, agendada para os dias 18 e 19 de Dezembro.
Cécile Mestelan: a cerâmica toma conta da rua
Antes de todos estes novos projectos, chegou Cécile Mestelan, a ceramista que trocou o sul de França pela soalheira Lisboa. Em Julho, abriu uma loja recheada com todas as peças que a pandemia lhe deu tempo para desenvolver, mas também um atelier aberto a versados e curiosos. Enquanto gere duas moradas (os números 74 e 78), já está de olho no outro lado da rua – em breve, irá ocupar também o número 75 da Rua dos Poiais de São Bento, só para instalar ceramistas residentes e manter para si o atelier original. A abertura está prevista para Janeiro.
Sábado e domingo, Cécile fecha a porta mais tarde. Às 22.00, mais exactamente. Como ela, outras lojas e espaços ficam abertos para contagiar a rua – o restaurante Distinto, Rosa Diniz Atelier, Apaixonarte, Hoiko, Mustique, D’Olival e Mini Mall. A uma semana do Natal, que comece a corrida às compras.